domingo, fevereiro 20, 2005

A Sopa 04/31

Há seis meses, cheguei.

Não estava sozinho. Trazia comigo a culpa de deixar todos a quem amo para trás, mesmo que provisoriamente, para começar uma fase nova na vida profissional e - por que não? - pessoal. Sem falar nas duas enormes malas (literalmente falando) e uma mochila não menos pesada. De tudo, talvez o mais difícil de carregar fosse a culpa, que surgiu mesmo depois de todo tempo de gestão da viagem, e por mais que todos aqueles que ficaram estivessem me apoiando e torcendo por mim. Era inevitável.

Os primeiros dez dias foram os mais complicados, mais difíceis de levar. Contei – desde o início e como sempre – com o total suporte da família, a Jacque, o Pai, a Mãe, o Neni, a Ane, meus sogros. Ao mesmo tempo em que eu passava por esses dias iniciais difíceis, principalmente por estar sozinho e sentir falta de todos, em Porto Alegre a família também tinha problemas com que se preocupar, e não pequenos, mas que acabaram muito bem. Desde o início, contudo, eu sabia que – por mais difícil que fosse – a sensação de estar sozinho e perdido era transitória e uma questão de tempo para tudo se acomodar.

E tem sido assim, tudo vai se acomodando com o passar dos dias. Cada vez mais confortável com a cidade, com a minha casa aqui, com o trabalho. Como não poderia deixar de ser, as referências vão surgindo, as rotinas e os hábitos, novos contatos, outras pessoas com outras culturas. É uma experiência rica, desde o seu início.

Algumas vezes não noto as mudanças que estão acontecendo, a evolução. Então alguém diz uma coisa que aparentemente não tem nada a ver comigo ou com o que estou passando, mas uma luz acende e me dou conta de sensações que eu tinha e nunca havia tornado consciente. E isso torna tudo mais interessante.

Com o tempo, dá para começar a entender melhor o país. As questões que estão na pauta das discussões, as preocupações de todos, as suas relações, como vêem os outros países – o Brasil em especial – o quem é quem da política, etc. Já que vivo aqui, devo aprender (ou entender) o modo de pensar dos canadenses, nascidos aqui ou que adotaram o país, mesmo que temporariamente, como eu.

3 comentários:

Luly :) disse...

Oi, Marcelo!

Esse sentimento de culpa tá me acompanhando desde que comecei a me mexer para emigrar... Imagino que qdo chegar a hora ele só vá se intensificar, mas... a gente vai levando...
;o)

Bjo

Luly :)

Anônimo disse...

Eu nos primeiros meses me sentia perdida, mas é isso mesmo com o tempo se adquire a confiança. Bjs,

Anônimo disse...

Muito bem colocado. O peso da mala e das caixas que carreguei nao sao maiores que o sentimento de culpa. Gostaria tbem de acrescentar que a culpa é algo que eu trouxe e hoje o peso da incerteza teima em desafiar minhas forças.

Muito sucesso para vc.