sábado, dezembro 21, 2024

Sábado (e mais um para nossa memória)

 

(Juntos em mais um show)

           

Araújo Vianna, 19/12/2024.
Porto Alegre/RS.

Reencontro, reunião do T.N.T.

Criando histórias, fazendo memórias.

Bom sábado a todos.

Até. 

sexta-feira, dezembro 20, 2024

Uma Resolução e um Convite

Mea culpa.

 

Esse é também um mea culpa, um pedido de desculpas meu, um ato de contrição, antes que me acusem de “pregar moral de cuecas” (pensando bem, acho que seria pior pregar moral sem cuecas, mas isso não é o foco do que quero dizer). Falo, alguns podem imaginar, do uso do celular em situações sociais.

 

Ouvi ou li por aí, e tenho lido e ouvido muito por esses dias, que uma demonstração básica, e fundamental, de amor, é dedicares a atenção plena ao outro, a quem está contigo. Essa afirmação foi certeira, porque me senti culpado pelas vezes em que eu – sim – dividi a atenção do momento em que vivia e da pessoa, ou pessoas, com que interagia, por consultas aleatórias ao celular. E que é algo que tenho tentado mudar, tanto como respeito aos outros quanto como respeito a mim, e aí entraria em como o tempo é desperdiçado nisso.

 

E entendi, finalmente, o mal-estar que eu sentia – e que em algum momento desisti de lutar contra – das pessoas estarem, enquanto conversamos, estamos juntos, em uma refeição, por exemplo, e ficam em frente de todos, olhando o celular. Como se o conteúdo em sua mão fosse mais importante, ou mais interessante, que as pessoas que estão a sua volta. Parece uma forma de desprezar a companhia das pessoas.

 

E aí a brincadeira que faço, baseado em um meme que recebi há um bom tempo, é perguntar ‘Quando vamos marcar de sair para ficar olhando o celular juntos novamente?’. Brincadeira, mas – pensando bem – com um certo tom amargo. E não estou demonizando o celular e nem as redes sociais, permaneço usuário e “fã” delas, mas externando um desconforto que sei que não é só meu.

 

Como eu disse, não sou inocente pois já fiz isso muitas vezes.

 

Admitir o erro é o primeiro passo para se corrigir, para tentar melhorar. 

 

Comecei a tentar melhorar no ano que está por terminar, e pretendo intensificar isso no próximo. Quero dedicar atenção plena a quem é importante, usar menos o celular em frente a elas é uma das formas de fazer isso.

 

Vamos junto?

 

Até. 

quinta-feira, dezembro 19, 2024

Gente Humilde

Senso de comunidade.

 

Lembro de passar por locais de menor poder aquisitivo, vamos dizer, da cidade, e me admirar com as pessoas sentadas em cadeiras em frente de casa, na calçada, conversando talvez com os vizinhos, ou olhando o movimento da cidade, por vezes um tonel e um churrasco acontecendo, quase como se fosse uma cidade do interior, e sentir saudades de um tempo em que não vivi.

 

Essa expressão, ‘saudades de um tempo que não vivi’, surgiu – para mim – a partir de uma música do Chico Buarque, ‘A Noite dos Mascarados’, que remonta a carnavais de um tempo anterior ao meu, dos bailes de salão, mesmo que eu tenha ainda ido a alguns desses, mas não como a música descreve e que despertou essa nostalgia por tempos não vividos. Tenho outras, também.

 

Falava, então, de pessoas e suas casas simples com cadeiras nas calçadas, e na fachada escrito em cima que é um lar... Pela varanda, flores tristes e baldias, como a alegria que não tem onde encostar. E aí me dá uma tristeza no meu peito feito um despeito de eu não ter como lutar, e eu que não creio. Peço a Deus por minha gente, é gente humilde, que vontade de chorar... Não tem como não lembrar dessa outra música, ‘Gente Humilde’, também do Chico Buarque, claro.

 

Perdemos, ao longo do tempo, esse senso de comunidade, de proximidade entre as pessoas. Li ou ouvi isso, que – à medida que as pessoas melhoram de vida economicamente – vão se isolando, levantando muros, a ponto de não conhecer seus vizinhos. Claro que a violência urbana tem um papel nisso, mas como é bom quando podemos sair e caminhar nas ruas, olhar a paisagem, a cidade, e passar pelas pessoas e dizer ‘Olá, como vai?’ ou simplesmente ‘Bom dia”.

 

Eu procuro fazer isso em todos os ambientes por onde circulo.


Até. 

quarta-feira, dezembro 18, 2024

Sobre as Fotos de Viagem

Isso não é sobre a minha vida, definitivamente.

 

Ao chamar uma paciente no consultório esses dias, ela levantou e seu marido, também meu paciente e que seria atendido logo após ela, permaneceu sentado, sem fazer menção de levantar-se. A Bete, minha secretária, perguntou se ele não queria estar junto na consulta, mas ele disse que não havia necessidade.

 

Fiz o atendimento e, na transição entre ela e o marido, perguntei se não queria acompanhar a consulta, e ela também disse que não. Enquanto ela saía, e ele entrava, não resisti e perguntei, talvez imprudentemente:

 

- Vocês não estão brigados, certo?

 

Não estavam, para minha sorte, pois poderia ter criado um momento constrangedor. Ele entrou na sala de atendimento dizendo que ‘depois de trinta e cinco anos juntos, não vale à pena brigar’. Concordei com ele, que acrescentou, é muita incomodação. É mesmo, concordei mais uma vez. E seguimos a consulta, mas depois fiquei pensando, pois essa é uma teoria antiga minha. 

 

Reforço aqui, é uma teoria, mas penso que a relação tem que estar MUITO ruim para que as pessoas terminem uma para começar outra. Para que passem por tudo de novo, que saiam por aí, na noite, por exemplo, em busca de novos relacionamentos, conhecer novas pessoas que vão ter um passado e suas próprias idiossincrasias, assim como todos têm (temos). Após o início que é sempre bom, novo, a tendência é as pessoas caírem nas mesmas situações da relação prévia, que abandonaram, até porque ainda são as mesmas, e voltarem ao antigo padrão.

 

Não estou dizendo que o certo é permanecer em uma relação que não deu certo, que é ruim. Claro que não. Mas há de se ter paciência e flexibilidade na vida, principalmente quando se fala em relacionamentos. Os momentos que não são tão bons sempre deverão ser superados em frequência e intensidade pelos bons momentos. Essa é a matemática da coisa. Sem falar das fotos.

 

A probabilidade de um casal se separar é inversamente proporcional ao número de fotos que eles têm juntos, principalmente fotos de viagem. Ou deveria ser. Imagina o problema que é, depois de ter se separado, não poder mais rever fotos de viagem antigas, porque nelas estará o passado que queres esquecer.

 

Fica a dica.


Até.   

terça-feira, dezembro 17, 2024

Trinta Anos

Eu nunca imaginei ser médico.

 

Não era um sonho de infância, daqueles que são motivo de redação na escola com título ‘O Vou Ser Quando Crescer’. Não, nada disso, ou pelo contrário. Queria ser jornalista. Desde que caiu em minhas mãos o ‘Manual do Peninha’, da Editora Abril, que contava a história do jornalismo, os primeiros repórteres, os paparazzi, as técnicas de reportagem, grandes jornalistas e outros, a partir dessa leitura, e junto com minha paixão pela leitura e pela escrita, era isso que eu queria fazer.

 

Jornalismo. E escrever.

 

Não tinha referências médicas no dia a dia da família. Meu avô materno, Gustavo, havia sido médico, mas morrera quando eu tinha sete anos. Lembro de seu escritório na casa de meus avós em Montenegro/RS, e o fascínio pela sua biblioteca, que eu considerava um tesouro a ser desvendado. 

 

Anos após sua morte, houve uma homenagem a ele no Hospital Montenegro, com sua foto incluída numa galeria de médicos ilustres do hospital, e estivemos lá. Chamou minha atenção, mas só. Até que fui me inscrever no curso pré-vestibular, ainda no final do segundo ano do que hoje se chama Ensino Médio e, na hora me marcar opção de curso, marquei medicina, assim, meio que do nada. 

 

Virei alguém que seria médico.

 

Ou não.

 

Pois passei todo o ano preparatório para o vestibular na dúvida entre jornalismo e medicina. Acabei “resolvendo” a questão afirmando para mim mesmo que não precisava ser jornalista para ser escritor, e fui fazer prova para medicina. Passei no primeiro vestibular, e entrei na Medicina da PUCRS. Com dezesseis anos, que completaria já cursando.

 

O “conflito” não acabou aí, claro.

 

Passei boa parte do curso com a ideia de que eu era um estranho, “um cara de humanas na medicina”, o que – olhando para trás – não é nada estranho, pois a medicina requer muito de humanidade e humanidades, então estava em casa, apesar de ter levado um bom tempo para entender completamente isso. Assim como levei um bom tempo para me entender completamente em termos profissionais, porque sempre parecia que precisava ter um plano B, ou rota de fuga, caso descobrisse tardiamente que havia feito alguma escolha errada. 

 

Vai que eu quisesse fazer cinema?

 

Até que percebi que as coisas são mais simples do que eu fazia parecer para mim. E que sou cem por cento médico, mesmo que faça outras coisas, e agora realmente faço, nada diminui minha dedicação à minha profissão, que é parte de quem sou.

 

Tudo isso para lembrar que hoje, 17 dezembro, completo 30 anos de formatura. Parabéns para mim e para os colegas e amigos da ATM94 da PUCRS.


Até. 

segunda-feira, dezembro 16, 2024

Insônia

Tive insônia essa noite.

 

Não é comum isso comigo, dificuldade para dormir. Sou conhecido, melhor, sempre me vi e me considero alguém que dorme bem, independente do que está acontecendo comigo ou com o mundo. Se estou ansioso, posso levar mais tempo que o habitual para pegar no sono, mas só. Perder o sono, nem pensar.

 

Com os anos, é claro que o padrão do sono mudou, assim como com as atividades da vida, que também interferem. Até março desse ano, conseguia acordar cedo a ponto de ir para a academia ainda antes de trabalhar, mas depois não consegui mais, tanto é que fui obrigado a rearranjar minha agenda para manter a atividade física regular. Aliás, atividade física que é um dos principais determinantes para uma vida boa, assim como um senso de comunidade, de pertencimento.

 

Esse é um dado científico, a partir do mais longo estudo de coorte já feito, que iniciou nos anos trinta do século passado e procurou determinar justamente isso, os determinantes para uma boa vida. Acompanharam mais de setecentos indivíduos por toda sua vida (restam poucos vivos dos originais, já na casa dos cem anos) e viram que – assim como a atividade física – as boas relações, o senso de pertencimento a algo maior que nossas vidas individuais, o senso de vida em comunidade, esses eram fatores importantes na longevidade e na qualidade de vida das pessoas, independente de classe social e condições econômicas.

 

Eu sempre soube isso, instintivamente.

 

O que explica minha eterna necessidade de fazer parte, de me sentir parte, da vida em grupo, da vida em comunidade. Dos projetos em grupo e outros. Ser um ser social, enfim, mesmo que às vezes eu precise (todos precisamos) ser ilhas, estar isolados e em silêncio.

 

Mas falava que tive insônia essa noite.

 

Demorei a dormir, envolto em pensamentos aleatórios e sobre planos e projetos para o ano que está ali, logo depois do recesso que se inicia na próxima sexta-feira no final do dia. Depois, por volta das duas e meia, conforme combinado, tocou o telefone e sai para buscar a Marina em uma festa. Na volta, novamente dificuldade em dormir.

 

Quando tocou o despertador antes das sete, respirei fundo e me levantei. A semana ainda será corrida, mas é a última de trabalho em 2024.

 

Até.

domingo, dezembro 15, 2024

A Sopa

Estávamos nós, os três amigos, reunidos depois de quase um ano em que não havíamos conseguido nos encontrar, comendo um xis em uma noite clara de final de primavera com temperatura agradável. Um ritual, esse de nos reunirmos em volta de uma mesa e falarmos da vida, que repetimos com maior ou menor frequência há quase quarenta anos, que é o tempo que nos conhecemos e acompanhamos as vidas uns dos outros.

 

Lembro, e continuo falando da passagem do tempo, esse assunto recorrente em minhas reflexões, das nossas conversas daquele tempo, do final da adolescência, das expectativas com relação ao que viria e de como tudo se resolveria, sobre os caminhos que percorreríamos a partir de decisões que estávamos começando a ter de tomar e que – pensávamos – seriam definitivas. Ainda não tínhamos a noção clara de que nenhuma decisão tomada aos dezesseis ou dezoito anos, ou mesmo mais tarde é, de verdade, definitiva.

 

Sempre há a possibilidade de mudar de ideia, de repensar, de refazer caminhos, de corrigir o rumo das coisas. Por isso, devemos aprender cedo, não é prudente queimar pontes ou fechar portas, porque o mundo é – clichê, eu sei – dinâmico. Tudo muda o tempo todo, no mundo, já cantou Lulu Santos.

 

Pois conversávamos nós, os três amigos, sobre o presente, nos atualizando nas vidas uns dos outros. E a idade em comum traz desafios parecidos que são vividos por todos em algum momento, doença, atenção e cuidado que nos foram dispensados e agora dispensamos para os que nos são queridos. Os filhos que crescem e tem seus desafios próprios e que só podemos ser portos seguros para eles. Houve um momento que se falou de aposentadoria e o que fazer depois, e a lembrança de que não se pode esperar para viver. 

 

Não falei no momento, mas senti o enorme peso do tempo sobre nós, e lembrei de quando conversávamos sobre a menina certa que um dia iria conhecer e, que – agora – quase quarenta anos depois, começamos a falar sobre o fim, sobre o encerramento de fases, e sobre a finitude da vida, mesmo que não tenhamos nos dado conta na hora.

 

É preciso saber viver.

Até. 

sábado, dezembro 14, 2024

Sábado (e a noite)

Do alto do Espaço Força e Luz


Noite dos Museus, Porto Alegre/2024.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, dezembro 13, 2024

Em Frente ao Espelho é Sexta-feira

Digo que não sou melhor do que ninguém, mas é mentira.

 

Sou, sim, melhor que muita gente em algumas coisas, assim como sou MUITO pior que muitos em outras. Todos somos assim, temos nossas características próprias, qualidades de que nos orgulhamos e fraquezas que nos envergonham. É da vida.

 

Aliás, à medida que o tempo passa, tenho menos vergonha das minhas fraquezas, fico menos incomodado com aquilo que não sei ou não consigo. São parte do que eu sou, e abraçar minhas limitações é parte do autoconhecimento. Não que eu me orgulhe delas, mas são o ponto de partida para eu melhorar. Ou não.

 

Existem, sim, atividades, tarefas, para as quais, por mais que eu queria dominar, nunca vou conseguir, por mais que eu tente. E está tudo certo. Reconhecer que vou fracassar miseravelmente em algumas tentativas é ter a tranquilidade de aceitar as coisas como elas são. Ficar em paz com isso é importante.

 

Tem, contudo, uma característica que considero possuir e espero que as pessoas sintam o mesmo com relação a mim, porque – sim – acho que me definem.

 

Sou alguém de confiança.

 

Procuro ser, na verdade. Alguém que os amigos saibam que podem contar com se precisarem, que estará junto na boa e na ruim, para o que der e vier. Nos churrascos e em meio à tempestade. Tenho alguns amigos que são assim, e sabem que estou aqui, sempre.

 

Sextou.


Até. 

quinta-feira, dezembro 12, 2024

Pertencer e a Ilha

Como parte da montanha-russa de sentimentos que caracterizam cada final de ano, junto com a sempre necessária retrospectiva pessoal que devemos fazer ou, melhor, é saudável que façamos, cada um sabe de si, circulamos entre as celebrações, as saudades, a sensação do dever cumprido, e possíveis frustrações pelo não alcançado e por quem perdemos pelo caminho, literal ou figuradamente. Também os reencontros.

 

Reforço aqui a importância – para mim, para mim – do sentimento de pertencimento, talvez um dos mais significativos. Saber, sentir-se parte de algo maior que nossa existência individual, de uma equipe, grupo, família, ou comunidade é parte do que faz nossa existência ter sentido. 

 

E é uma das principais lutas minhas internas, aquela entre o ser parte de algo, pertencer, o que é diferente de me encaixar, e o ser uma ilha, um ser isolado no meio de pessoas. Demorei muito a perceber que, apesar de eu ser uma pessoa que precisa fazer parte, de me sentir parte, também preciso ser uma ilha em outros momentos. É o balanço entre os dois momentos que necessita ser ajustado.

 

Mas falava do sentimento de pertencimento.

 

É bom e importante cultivar as relações que nos proporcionam essa sensação, que tranquiliza e conforta. Os encontros e churrascos e fotos em elevadores e confrarias e planos reforçam, reafirmam isso, que estamos fazendo as coisas certas, que contamos com os amigos certos.


Até. 

quarta-feira, dezembro 11, 2024

O Suficiente

Uma piada interna, e antiga.

 

Há muitos anos amigos, quase quarenta, temos, o Márcio, o Radica e eu, um dialeto próprio de piadas internas, expressões e comentários que usamos em nossa comunicação. Entre elas, uma expressão comum é a “não sou amigo o suficiente”, usada em variados contextos, como piada, claro. Estava pensando nessa expressão esses dias, quando ouvi (ou li) sobre o conceito dos amigos de oito minutos.

 

Esse tempo, oito minutos, seria o tempo necessário que alguém com algum problema, alguma inquietação ou ansiedade, precisaria da atenção, do ouvir atento e empático de um amigo, de alguém de confiança, para que se sentisse melhor, mais calmo. Seria o tempo de conversar. E da importância de se ser alguém assim. Pois é, sempre soube que eu queria ser alguém assim. Para ser sincero, eu espero que os meus amigos saibam que eu sou esse amigo para eles.

 

Isso me fez pensar em como tenho “cuidado” dos meus amigos.

 

Se tenho estado disponível, se sabem que estou aí para caso precisem de mim. Tenho ligado, feito contato com eles tanto quanto deveria ou, melhor, gostaria? Surgiram novos nos últimos tempos, certamente, mas realmente estou demonstrando o quanto são importantes os amigos de sempre, de uma vida?

 

Sei que sabem que estou aqui para o que der e vier, assim como sei que eles também estão, como sempre estiveram, como sempre estivemos. Mas será que nós não deveríamos estar mais presentes uns nas vidas dos outros?

 

Se existia alguma dúvida, que saibam.

 

Estou aí para o que der e vier.

 

É só ligar.


Até. 

terça-feira, dezembro 10, 2024

Viagem no Tempo

Eu visito estrelas, lendas, profecias...

 

Assim como acontece com algumas músicas, que nos fazem voltar no tempo, voltar a momentos ou épocas específicas do passado, e sentimos exatamente como estivéssemos ainda lá, também alguns reencontros nos fazem sentir como se o tempo não tivesse passado. Comigo, esse tipo de sensação é bem frequente.

 

Como quando eu ouço o disco ‘Ideologia’ do Cazuza, e a música ‘Faz Parte do Meu Show’ em especial, que me transporta para julho de 1988, quando teve seu clipe exibido na televisão e estávamos nós, o pessoal do Fundinho, nossa turma do segundo grau da Escola Técnica do Comércio, curso de Operador de Computador, na praia, Tramandaí, em férias de inverno, na Colônia de Férias da UFRGS. Ainda tenho claro em minha memória aqueles dias, e me sinto lá quando ouço a música. Existem outras que remetem ao passado, claro, contam a história da minha vida, e dão conforto. 

 

Assim como rever pessoas com quem convivemos no passado, e que com quem, por circunstâncias da vida, perdemos o contato, perdemos a convivência. É a confirmação do que vivemos, de quem somos, mesmo que exista a noção de que o passado vai mudando conforme nossa memória e conforme a narrativa que vamos criando para nós mesmos.

 

O encontro com os colegas de faculdade para celebrar a passagem de trinta anos de formatura teve esse ponto, o de recontar, repensar, reviver certas histórias, algumas que nem lembrávamos, e para reafirmar (para mim, para mim) que quero e, na verdade, realmente preciso manter mais próximos alguns amigos que são, sim, fundamentais.

 

E eles sabem quem são.

 

Até.

segunda-feira, dezembro 09, 2024

Mais Sobre o Tempo

O tempo, de novo.

 

Serei virtualmente monotemático nas próximas semanas, alerto a você prezado leitor, mas não me desculpo por esse fato. Peço paciência, afinal de contas ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar. 

 

Não é verdade. Não vejo novelas...

 

Dizia que minha (quase) fixação pelo tema ‘passagem do tempo’ está exacerbada nas últimas semanas devido aos diversos marcos temporais desses últimos tempos, os números ‘redondos’ (vinte, trinta anos) de alguns eventos seminais em minha vida. Já falei deles, desde os vinte anos que marcam minha ida para o Canadá e o doutoramento em medicina, os trinta anos de formatura em medicina, e, a partir de janeiro, os marcos de trinta anos de minha relação com a Jacque (nos conhecemos em um dois de janeiro de 1995, e estamos juntos desde oito de março desse mesmo ano).

 

Na última sexta-feira, foi o encontro dos formandos de medicina da PUCRS de 1994, em um churrasco repleto de histórias e lembranças. Alguns colegas eu não encontrava desde aquele 17 de dezembro de 1994, outros vejo com frequência. Foi muito bom e emotivo. Qualquer incompatibilidade daquela época ficou muito no passado, e os bons momentos passados são o que valem ser lembrados.

 

Alguns encontros foram especiais, pois comprovaram a ausência de hiatos na amizade, mesmo que não tenha havido a frequência na convivência que seria normalmente desejada e que a rotina dos dias não permite. Os laços e o afeto mútuo se mantêm, a dinâmica é a mesma. Até planos surgem. 

 

É como andar de bicicleta, mas sem o risco de quedas...


Até. 

domingo, dezembro 08, 2024

A Sopa

Sou médico há 30 anos.

 

Existe um peso embutido nessa afirmação, que dá um certo tipo de credibilidade, do tipo ‘respeite meus cabelos brancos’, no sentido de possuir experiência, de ter vivido muito. Como se fosse uma promoção por tempo de serviço, o que – de certa forma – realmente é. Mais que tudo, são muitas histórias vividas.

 

Essa marca, trinta anos desde que nos formamos, os colegas da Associação da Turma Médica de 1994 da Faculdade (hoje Escola) de Medicina da PUCRS, além da comemoração entre nós, os formandos daquele ano, me faz também olhar para trás e refletir sobre a passagem do tempo. De onde viemos e quem éramos para onde estamos e quem somos.

 

Trinta anos é uma vida inteira, mas parece – olhando retrospectivamente – que passou muito rápido. 

 

O quanto o mundo, e a vida em especial, mudou desde aquele 17 de dezembro de 1994, de calor intenso, cerimônia de mais de três horas em que meu pai me entregou o meu diploma, e ele suava de calor, e o pai de uma colega que era irmã de uma ex-namorada minha me abraçou no palco quando passou por mim e a minha namorada à época que estava na plateia não entendeu, e depois teve a festa lá em casa e depois o baile e o café da manhã em um hotel, e antes de dormir, exausto, ainda discuti com a namorada não lembro por que razão, mas passamos a virada do ano juntos, na praia, e deixei ela em casa no dia primeiro de janeiro já como ex-namorados, e ainda faríamos uma tentativa de volta justamente no carnaval, e na primeira noite sonhei com a Jacque, que era colega de hospital, e pensei que nunca teria chance com ela, mas a tentativa de retorno não deu certo, e no dia seguinte à conversa definitiva em que ela disse que não queria mais tentar eu fiz plantão em uma UTI e, ao sair do plantão, fomos todos, residentes de clínica do Hospital da PUCRS jantar na casa de um dos colegas e lá, sentado ao lado da Jacque, perguntei porque brincava comigo dizendo, quando o meu pai ligava para hospital para falar comigo e ela atendia, que o ‘sogrão’ estava ligando, e ela disse que não era brincadeira, e saímos e ficamos juntos e namoramos por um mês em segredo até revelarmos a todos, e um ano e meio depois casamos, a Marina nasceu depois de doze anos, e estamos juntos, felizes, até hoje. 

 

Como em um piscar de olhos, boa parte da vida passou.

 

Mudei, mudamos.

 

Ainda há muito o que fazer e percorrer. 

 

Desejos e planos, secretos ou não.

 

Seguimos, altivos.

Até. 

sábado, dezembro 07, 2024

Sábado (e um café da manhã)

Croque Madame


Do final de semana passado.

Hotel Casacurta.
Garibaldi/RS.

Bom sábado a todos.

Até. 

sexta-feira, dezembro 06, 2024

Mecânicas

 Sou guri de apartamento.

Dito de outra forma, em termos de carros, só sei andar para frente. É o que meu pai costumava resmungar quando eu – mesmo depois de médico, casado, mas ainda não pai de família – pedia algum tipo de ajuda relacionada a carros. Ele estava certo, e eu sabia disso na época.

 

Essa característica nunca mudou, a minha incapacidade em termos mecânicos, de entendimento de carros. Trocar pneus, tudo bem, mesmo que da última vez que que esse tipo de evento ocorreu, em uma volta da fazenda da querida amiga Bianca, não me deixaram trocar por causa da minha coluna, operada meses antes. Se precisar, troco, sem problemas.

 

O meu carro atual, já há alguns anos, é confiável, confortável e com ótima capacidade carga, uma VW Tiguan, de sete lugares porque transporto, além de equipamentos para shows, também pessoas. Foi com ela que viajamos em seis pessoas e bagagens durante quinze dias pelo Uruguai há quase três anos. Bom carro, já com seus setenta mil quilômetros. 

 

Depois de um tempo em que fazia as revisões na concessionária, passei a utilizar os serviços de um mecânico indicado por um ex-professor meu, que foi meu médico, foi médico do meu pai, e é meu paciente hoje em dia. Reviso o carro com ele, hoje em dia, o mecânico, não o médico.

 

Há duas semanas, fizemos a revisão.

 

Tudo certo, mas ele falou que estava com um ruído diferente e que precisaria trocar os amortecedores. Combinamos e ele fez ontem. Ao retirar o carro, enquanto conversávamos, ele disse que agora pararia aquele ruído “infernal” que estava fazendo. Concordei com ele, mas pensei que não havia reparado ruído diferente nenhum. Ao sair com o carro, “estranhei” o silêncio da condução... E me dei conta que havia me acostumado com o ruído e não percebia que havia algo diferente...

 

Pensei comigo e sorri: só sei andar para a frente...

 

Até.

quinta-feira, dezembro 05, 2024

O (meu) Tempo

Pode ser que seja pelo final de ano, pode ser que seja pela efeméride dos trinta anos de formatura em medicina, e vinte da defesa de minha tese de doutorado, ou pode não ter nada a ver com isso, mas tenho feito, nas últimas semanas, um ‘inventário’ da vida, em suas diferentes dimensões. Para entender onde me encontro, para me entender.

 

Um dos aspectos da minha vida que tenho esquadrinhado é o sobre o que faço com o meu tempo. Objetivamente, como distribuo as vinte e quatro horas diárias entre as diferentes atividades que exerço. Trabalho, deslocamentos, atividades pessoais, como o tempo que tenho para almoçar, por exemplo, ir à academia, as horas dedicadas à música, aula e ensaios, e até escrever esses textos diários e outros, além do tempo para ficar em casa, com a família e o sono. Meticulosamente, planilhei (de forma obsessiva, eu sei) como é uma semana normal, de segunda a sexta-feira. 

 

Após isso, transformei todas essas informações em gráficos e montei uma apresentação de powerpoint com isso, para caso algum dia queira apresentar isso para alguém (vai que eu vire coach, vai saber...). Achei que é uma forma interessante de eu visualizar a vida no sentido prático. Entender como uso o meu tempo me ajuda a saber se estou fazendo as coisas conforme o plano, ou como eu acho que deveria fazer.

 

Se estou priorizando o que necessita ser priorizado.

 

Se estou no caminho do tipo de vida que eu quero para mim.

 

Sim, estou sempre me questionando isso, e procurando fazer os ajustes necessários para isso, quase que diariamente. O mais importante, procurando viver no presente.

 

Até.

 

(ah, quanto a ser coach, vou começar com uma palestra sobre ‘Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e o Sentido da Vida’, que é para médicos, mas vocês ainda não estão prontos para isso...) 

quarta-feira, dezembro 04, 2024

Narrativa

A Verdade.

 

Assunto recorrente por esse espaço, que compartilho com você, estimado leitor. Como se pode notar, revisito, reflito e repenso sobre alguns assuntos em especial, e a narrativa e a verdade estão entre eles.

 

O mundo, e a vida, todos deveríamos saber, são complexos, cheios de nuances e camadas e usualmente com graus variados de dificuldade de entendimento. Ou não, mas não vem ao caso agora. O que quero dizer que as coisas nem sempre são o que parecem na superfície, que o entendimento do todo requer trabalho, requer escutar todos os lados de uma história e qualquer possível julgamento requer uma análise sem vieses, na medida do possível.

 

O que é e onde está verdade, nisso tudo? 

 

Provavelmente em algum lugar no meio das diferentes versões, ou narrativas, de um mesmo fato. O que é certo para mim pode não ser para o meu interlocutor, mesmo que existam alguns preceitos absolutos, inquestionáveis. Ao menos é assim quem vejo. E para você, como é?

 

Fico, confesso, incomodado com julgamentos feitos a partir de conhecimentos superficiais e, por isso, incompletos de fatos ou pessoas. Feitos a partir de narrativas que sistematicamente não serão imparciais porque são criadas por pessoas com maior ou menor grau de interesse na história contada, na narrativa criada. Quem ouve e se posiciona perante uma situação a partir de informações incompletas corre o risco de ser injusto – e eu faço de tudo para não ser – ou por preguiça ou pelo viés de confirmação.

 

Sei lá.

 

Até. 

terça-feira, dezembro 03, 2024

F.O.M.O (2)

Fear of Missing Out.

 

Volto ao assunto para confessar que sigo lidando com isso. A sensação de ser deixado de fora, ser excluído, não fazer parte, é recorrente em mim, já confessei. E sei que a questão principal sou eu, e não os outros. 

 

Vivo uma fase em que busco a paz de espírito, no sentido em que sei (mas continuo descobrindo) quem sou e sei o que quero para minha vida. A partir desse conhecimento é que procuro tomar as decisões da vida de um modo geral. Por isso, devido a isso, é que caminho por entre os ambientes em que convivo de forma serena na maior parte do tempo, e já sei que devo dizer não àquilo que não condiz com quem sou e com o que quero para mim.

 

Nem sempre consigo, claro.

 

Assim como nem sempre fico totalmente tranquilo com o fato de não fazer parte de tudo, não estar presente em todas as situações em que gostaria de, ao menos, ser convidado a participar, mesmo que não pudesse ou quisesse fazer parte ou estar presente. Quando essa sensação aparece, e eu sei que não faz sentido, ainda é um esforço consciente que tenho de fazer para afastar o pensamento / sensação de estar sendo excluído.

 

Entendo que é um processo, e que – ao fazer escolhas, decidir por um caminho – estamos renunciando às possibilidades, às possíveis portas que os caminhos não escolhidos abririam. É da vida, vivemos com as consequências de nossas decisões. E está tudo certo.

 

Continuo aprendendo, diariamente.

 

Até.

segunda-feira, dezembro 02, 2024

O Décimo Segundo Mês

Dezembro é uma grande sexta-feira.

 

Li em algum lugar essa definição, e achei perfeita. O último mês do ano é um momento – na minha realidade de vida atual – de desaceleração profissional e aceleração social. Enquanto o mês de trabalho é mais curto devido ao recesso de final de ano, entre o Natal e o início do próximo, por outro lado é intenso em encontros e confraternizações e despedidas.

 

É também um momento de contabilidade emocional.

 

É quando – ao reduzir a correria dos dias – podemos refletir sobre o ciclo que se encerra, sobre o que foi feito nos últimos doze meses, o que alcançamos, aquilo que não fizemos pelas mais diversas razões, e - também - o que esperamos e planejamos para o próximo ciclo. Sei que o primeiro de dia de janeiro é igual ao trinta e um de dezembro, e que a virada do ano é apenas simbólica, uma virada de chave emocional, não importa.

 

Sempre faço isso, a retrospectiva do ano que termina.

 

Vou fazer isso, claro.

 

E tenho a impressão de que vou gostar de que vi, fiz e ouvi.


Até. 

domingo, dezembro 01, 2024

A Sopa

Amigos de trabalho.

 

Esses dias, jantando com um professor do curso de Medicina, hoje aposentado e vivendo entre os amigos, a família e, muito, com os netos, surgiu em meio à conversa esse conceito, de amigos do trabalho, que penso ser um pouco diferente de ‘colegas de trabalho’. E pensei nas relações pessoais que temos ao longo da vida, e as relacionadas ao trabalho em especial.

 

Amigos de trabalho seriam aqueles colegas com quem tens uma relação mais próxima, que vai além da rotina de trabalho, que pode resultar em encontros e eventos não necessariamente estejam ligados a ele, mas que tem a base, a ligação, no convívio no ambiente laboral. Que caso se quebre essa rotina, a relação vai esfriar. Como quando mudas de emprego, ou local de trabalho. É um fenômeno comum e absolutamente corriqueiro. E está tudo bem.

 

Amigos de trabalho podem transcender a relação baseada no local de trabalho e se tornarem amigos mesmo, independente de geografia e profissão. Tornarem-se amigos de vida, digamos assim. O quão frequente é essa “transformação”? Não tenho nem ideia. 

 

Acabei, então, por me questionar com relação a esse assunto, e mais um pouco, indo além, ao conceito de amigo. Quem são nossos amigos da vida? São poucos, todos dizem. O quão poucos, pergunto, e sei que essa é uma questão muito pessoal, e que não há regra, evidentemente.

 

Eu tenho alguns, que procuro manter, cultivar.

 

Tem algum tempo, reconheci em mim a necessidade de cultivar (as minhas) amizades. Reconhecer, valorizar, não deixar que esqueçam que foram e são importantes para que eu tenha me tornado e seja quem eu sou agora. Tenho um respeito muito grande por quem me acompanha de perto (mesmo que não geograficamente) por mais de trinta, quarenta anos. Que estiveram comigo nas boas e nas ruins, sempre próximos, como eu sempre procurei estar deles.

 

E, quando não mais esperava, confesso, surgiu (criei) uma janela para criar e estreitar novas amizades, mesmo que eu dissesse – de brincadeira, obviamente - que não havia mais lugar para novas, a não ser que fossem substituições por morte, já que minha capacidade de afeto estava esgotada. Essa janela, ou dimensão, surgida pelas novas relações, pelas novas amizades, continua a expandir o mundo em que vivo (vivemos) e trazer conforto para a alma.


Até. 

sexta-feira, novembro 29, 2024

Quase Trinta (e o espelho)

Eu gosto de quem vejo quando olho no espelho. 

Uma premissa que deveria ser básica em todo mundo, gostar de si mesmo, mas que nem sempre acontece, pelas mais variadas razões. Algumas pessoas não gostam de sua aparência, outros não estão felizes com sua vida profissional, enquanto ainda outros tem culpas e arrependimentos que não permitem olharem o espelho e gostarem do que veem.

 

Eu, como disse, gosto.

 

Podemos dizer que aprendi a conviver comigo mesmo. Já sei quais são os meus defeitos, as minhas qualidades, os meus pontos fracos e os pontos fortes, em que sou de confiança. Tenho, como todos, arrependimentos e algumas culpas, mas estou em paz com o passado, sei que posso construir o futuro (e sei que futuro eu quero para mim) e cada vez mais procuro viver o presente. Claro que nunca é tão simples ou fácil, mas é uma batalha diária, e – com o tempo que passa – vamos levando (espero) cada vez melhor.  

 

Tenho feito essas reflexões com mais intensidade nos últimos tempos, porque aproximam-se datas marcantes em minha vida: trinta anos de formado, trinta anos que estou com a Jacque, vinte anos que morei no Canadá e defendi meu doutorado, entre outras. Momentos de parar um pouco e olhar para trás, avaliar a passagem do tempo, e perceber que o caminho tem sido bom.

 

Tem sido.

 

Até.

 

(tudo porque cedo me olhei no espelho e percebi o quão libertador é não precisar pentear o cabelo...)

quinta-feira, novembro 28, 2024

Sobre o Pensar e o Fazer

Ação.

 

Sempre fui alguém de ter muitos planos. Estava sempre com ideias e projetos que gostaria de executar, nas mais variadas dimensões da vida. Projetos de trabalho, projetos paralelos, projetos pessoais. A (minha) mente sempre muito ativa, neste sentido.

 

Mas sentia, tinha essa impressão, cá com meus botões, que pouco disso tornava-se realidade, que quase nenhum deles fazia a vital transição entre o pensamento e a vida real.  Eu era um sonhador, mas não um realizador.

 

Muito disso era porque, na maior parte das vezes, eu achava que tinha que me preparar melhor para a execução dos mesmos, deveria estar pronto, e ficava na inércia de nunca me achar em condições de iniciá-los. Algumas vezes, tinha a ideia, mas enquanto não me sentia pronto, alguém que tivesse tido a mesma ideia (ou parecida) a “colocava na rua” e seguia em frente.

 

Aprendi com o tempo, e continuo aprendendo, que – se esperar estar pronto para qualquer coisa na vida – nunca farei (faremos) nada. Para chegar a ser bom em algo, inevitavelmente teremos que passar pela fase de não sermos bons, porque para tudo na vida existe o que chamamos de curva de aprendizagem. A prática leva ao aperfeiçoamento, à melhoria.

 

A partir dessa compreensão, de que não preciso dominar completamente algo para começar, que me tornei com o tempo alguém de ação, e não apenas de sonhos. E as coisas têm acontecido, até porque uma coisa leva à outra, e enquanto caminhamos, portas se abrem e vamos criando oportunidades e projetos.


Até. 

quarta-feira, novembro 27, 2024

A Jornada

Desconforto.

 

De tempos em tempos, em variadas situações em diferentes lugares de convívio, ocorrem momentos de me sentir deslocado, inadequado, desconfortável. Como se não pertencesse ao ambiente, como se fosse um estranho. Não é uma sensação agradável, evidentemente, mas sei ser parte da vida. 

 

E tem muito mais (ou tudo) a ver comigo, não com os outros.

 

São momentos de frustração, em que as coisas não saem exatamente como eu gostaria que saíssem, e tenho que lidar com esses sentimentos. Ao longo da vida, tenho aprendido a lidar com eles, evidentemente, afinal não sou um bebê chorão que se atira no corredor do supermercado porque os pais não compraram o chocolate que ele queria. É parte do crescimento, o saber lidar com frustrações.

 

Muitas vezes é uma luta interna, isso de aceitar as coisas como são e não como eu gostaria que fossem, porque muitas vezes realmente não são. Como eu disse, é da vida. E, quando não dependem de mim, menos razão para frustração. Racionalmente, é simples, mas vai explicar isso para a “criança birrenta interior” que todos possuímos.

 

E a jornada do autoconhecimento passa por entender esses contratempos, essas inconveniências da vida e aprender a lidar com elas. Lembro de, há alguns anos, em uma conversa com um ex-colega de trabalho, de ele ter me contado algum antigo detalhe sobre uma relação prévia do trabalho que fizemos juntos (que eu não precisava saber). Na hora, pensei que eu passaria as próximas 48 ou 72 horas ‘remoendo’ o assunto, encucado. O simples fato de me dar conta disso, de ser consciente, de reconhecer um padrão, me fez ficar sereno, mais tranquilo.

 

E assim em outras dimensões da vida.

 

Reconhecer padrões, saber que potenciais frustrações vão acontecer e está tudo bem, aprender a lidar com isso, torna a jornada mais leve.

 

E é o que queremos, ser mais leves.


Até. 

terça-feira, novembro 26, 2024

Rir, Gargalhar

Aconteceu sábado passado.


Estava em um jantar da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul, evento de final de ano, com a apresentação dos novos pneumologistas, aqueles que estão completando sua formação na especialidade, e - também - confraternização dos diferentes serviços do estado. O momento formal, em que cada representante de Serviço de Pneumologia, Cirurgia Torácica e Pneumologia Pediátrica apresenta o(s) residente(s) que está (estão) completando sua formação e fala algumas palavras sobre o(s) formando(s), e todos acompanhamos atentos. Em meio a uma das falas, alguém da mesa em que estou faz um comentário engraçado. E eu rio. Alto.

 

Eu gargalho, na verdade.

 

Gargalho, do verbo gargalhar, rir de maneira barulhenta, exagerada.

 

Em meio ao silêncio do momento mais ou menos ritual, e todos olham para mim, sem entender, e possivelmente algum desses olhares é de censura, mas não me importo. Sigo como nada tivesse acontecido, porque nada de excepcional e nem de inapropriado aconteceu.

 

Porque eu sou assim, de rir de maneira barulhenta e exagerada.

 

É uma característica minha e uma declaração ao mundo. 

Até. 

segunda-feira, novembro 25, 2024

A Zona de Conforto e a Bolha

Ainda a bolha.


Estar na Zona de Conforto não é a mesma coisa que ficar em sua bolha. Definitivamente, ‘a bolha’ não é a zona de conforto. Ou talvez sejam a mesma coisa, ou muito parecidas, mas vistas de modo diferente, conforme a situação em questão. Como o sustenido e o bemol em uma escala musical, grosseiramente falando.

 

Tudo é perspectiva.

 

A Bolha é restritiva, limitada, e nos provém uma falsa sensação de segurança, por isso a semelhança com o que chamamos de ‘zona de conforto’. Como todos na bolha pensam da mesma forma, a nossa, e ali é onde o viés de confirmação é mais intenso, podemos confundir as coisas, pensar que estamos em nossa zona de conforto ao invés de estarmos presos em nossa bolha. Ali, estamos como o sapo na panela no fogo, que vai aquecendo a água lentamente e vamos sendo cozidos sem perceber, sem lutar...

 

Não confunda, por outro lado, o que eu chamo de zona de conforto com aquilo que os coachs chamam de zona de conforto. Não é um lugar de estagnação, de não realização. Ao contrário, a minha zona de conforto é o local de onde partimos para avançar, evoluir, inovar. Exatamente o contrário de estagnar, de estar – justamente – restrito pelos limites da bolha.

 

Sem falar que a minha zona de conforto é o lugar onde acontecem os churrascos, os encontros com os amigos, a música.


Até. 

domingo, novembro 24, 2024

A Sopa

“O mundo é maior que teu quarto...”. 

Tudo é a narrativa.

 

A realidade é o que vemos e como interpretamos o que estamos vendo, muito mais do que qualquer outra coisa. A vida é a história que nos contamos e que contamos aos outros. Tudo é, no fim, questão de interpretação.

 

Por isso que viver em bolhas nos dá segurança: todos ali, em nossa volta, compartilham a mesma visão dos fatos, e interpretam virtualmente da mesma maneira. Fala-se o mesmo dialeto que é interpretado do modo semelhante. E é por isso que pessoas que pensam diferente, vivem de forma diferente, falam outro idioma, podem ser perturbadoras para muitos. Porque podem abalar nosso viés de confirmação.

 

De novo: é bom viver em uma bolha.

 

É confortável, seguro. Na bolha estamos seguros, todos nos conhecem e sabemos o que esperar, sabemos o que dizer e sabemos que vamos ouvir aquilo que vai confirmar tudo aquilo em que acreditamos. E lembro do filme estrelado pelo John Travolta, The Boy in the Plastic Buble, de 1976, em que ele, por um problema de imunidade, é criado e vive dentro de uma bolha, que o protege de infeções. É mais ou menos o que acontece atualmente, em que vivemos em ‘bolhas’, livres do risco de sermos expostos a opiniões e visões de mundo. Bendita bolha.

 

Viva a bolha!

 

Porém...

 

A bolha é a caverna de Platão, em que vemos apenas as sombras refletidas na parede, e na bolha não conseguimos enxergar o mundo com toda sua luz, sua nitidez, com todas suas cores. Se não sairmos de caverna/bolha, se não ouvirmos e vermos outras visões e versões da realidade, nunca poderemos saber qual é a nossa própria realidade.

 

Devemos furar a bolha, o que pode nos deixar desconfortáveis e inseguros até, mas é a única forma de termos uma ideia melhor de como as coisas são, em sua incrível diversidade de cores e nuances e luzes.

 

Até.