quarta-feira, dezembro 11, 2024

O Suficiente

Uma piada interna, e antiga.

 

Há muitos anos amigos, quase quarenta, temos, o Márcio, o Radica e eu, um dialeto próprio de piadas internas, expressões e comentários que usamos em nossa comunicação. Entre elas, uma expressão comum é a “não sou amigo o suficiente”, usada em variados contextos, como piada, claro. Estava pensando nessa expressão esses dias, quando ouvi (ou li) sobre o conceito dos amigos de oito minutos.

 

Esse tempo, oito minutos, seria o tempo necessário que alguém com algum problema, alguma inquietação ou ansiedade, precisaria da atenção, do ouvir atento e empático de um amigo, de alguém de confiança, para que se sentisse melhor, mais calmo. Seria o tempo de conversar. E da importância de se ser alguém assim. Pois é, sempre soube que eu queria ser alguém assim. Para ser sincero, eu espero que os meus amigos saibam que eu sou esse amigo para eles.

 

Isso me fez pensar em como tenho “cuidado” dos meus amigos.

 

Se tenho estado disponível, se sabem que estou aí para caso precisem de mim. Tenho ligado, feito contato com eles tanto quanto deveria ou, melhor, gostaria? Surgiram novos nos últimos tempos, certamente, mas realmente estou demonstrando o quanto são importantes os amigos de sempre, de uma vida?

 

Sei que sabem que estou aqui para o que der e vier, assim como sei que eles também estão, como sempre estiveram, como sempre estivemos. Mas será que nós não deveríamos estar mais presentes uns nas vidas dos outros?

 

Se existia alguma dúvida, que saibam.

 

Estou aí para o que der e vier.

 

É só ligar.


Até. 

terça-feira, dezembro 10, 2024

Viagem no Tempo

Eu visito estrelas, lendas, profecias...

 

Assim como acontece com algumas músicas, que nos fazem voltar no tempo, voltar a momentos ou épocas específicas do passado, e sentimos exatamente como estivéssemos ainda lá, também alguns reencontros nos fazem sentir como se o tempo não tivesse passado. Comigo, esse tipo de sensação é bem frequente.

 

Como quando eu ouço o disco ‘Ideologia’ do Cazuza, e a música ‘Faz Parte do Meu Show’ em especial, que me transporta para julho de 1988, quando teve seu clipe exibido na televisão e estávamos nós, o pessoal do Fundinho, nossa turma do segundo grau da Escola Técnica do Comércio, curso de Operador de Computador, na praia, Tramandaí, em férias de inverno, na Colônia de Férias da UFRGS. Ainda tenho claro em minha memória aqueles dias, e me sinto lá quando ouço a música. Existem outras que remetem ao passado, claro, contam a história da minha vida, e dão conforto. 

 

Assim como rever pessoas com quem convivemos no passado, e que com quem, por circunstâncias da vida, perdemos o contato, perdemos a convivência. É a confirmação do que vivemos, de quem somos, mesmo que exista a noção de que o passado vai mudando conforme nossa memória e conforme a narrativa que vamos criando para nós mesmos.

 

O encontro com os colegas de faculdade para celebrar a passagem de trinta anos de formatura teve esse ponto, o de recontar, repensar, reviver certas histórias, algumas que nem lembrávamos, e para reafirmar (para mim, para mim) que quero e, na verdade, realmente preciso manter mais próximos alguns amigos que são, sim, fundamentais.

 

E eles sabem quem são.

 

Até.

segunda-feira, dezembro 09, 2024

Mais Sobre o Tempo

O tempo, de novo.

 

Serei virtualmente monotemático nas próximas semanas, alerto a você prezado leitor, mas não me desculpo por esse fato. Peço paciência, afinal de contas ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar. 

 

Não é verdade. Não vejo novelas...

 

Dizia que minha (quase) fixação pelo tema ‘passagem do tempo’ está exacerbada nas últimas semanas devido aos diversos marcos temporais desses últimos tempos, os números ‘redondos’ (vinte, trinta anos) de alguns eventos seminais em minha vida. Já falei deles, desde os vinte anos que marcam minha ida para o Canadá e o doutoramento em medicina, os trinta anos de formatura em medicina, e, a partir de janeiro, os marcos de trinta anos de minha relação com a Jacque (nos conhecemos em um dois de janeiro de 1995, e estamos juntos desde oito de março desse mesmo ano).

 

Na última sexta-feira, foi o encontro dos formandos de medicina da PUCRS de 1994, em um churrasco repleto de histórias e lembranças. Alguns colegas eu não encontrava desde aquele 17 de dezembro de 1994, outros vejo com frequência. Foi muito bom e emotivo. Qualquer incompatibilidade daquela época ficou muito no passado, e os bons momentos passados são o que valem ser lembrados.

 

Alguns encontros foram especiais, pois comprovaram a ausência de hiatos na amizade, mesmo que não tenha havido a frequência na convivência que seria normalmente desejada e que a rotina dos dias não permite. Os laços e o afeto mútuo se mantêm, a dinâmica é a mesma. Até planos surgem. 

 

É como andar de bicicleta, mas sem o risco de quedas...


Até. 

domingo, dezembro 08, 2024

A Sopa

Sou médico há 30 anos.

 

Existe um peso embutido nessa afirmação, que dá um certo tipo de credibilidade, do tipo ‘respeite meus cabelos brancos’, no sentido de possuir experiência, de ter vivido muito. Como se fosse uma promoção por tempo de serviço, o que – de certa forma – realmente é. Mais que tudo, são muitas histórias vividas.

 

Essa marca, trinta anos desde que nos formamos, os colegas da Associação da Turma Médica de 1994 da Faculdade (hoje Escola) de Medicina da PUCRS, além da comemoração entre nós, os formandos daquele ano, me faz também olhar para trás e refletir sobre a passagem do tempo. De onde viemos e quem éramos para onde estamos e quem somos.

 

Trinta anos é uma vida inteira, mas parece – olhando retrospectivamente – que passou muito rápido. 

 

O quanto o mundo, e a vida em especial, mudou desde aquele 17 de dezembro de 1994, de calor intenso, cerimônia de mais de três horas em que meu pai me entregou o meu diploma, e ele suava de calor, e o pai de uma colega que era irmã de uma ex-namorada minha me abraçou no palco quando passou por mim e a minha namorada à época que estava na plateia não entendeu, e depois teve a festa lá em casa e depois o baile e o café da manhã em um hotel, e antes de dormir, exausto, ainda discuti com a namorada não lembro por que razão, mas passamos a virada do ano juntos, na praia, e deixei ela em casa no dia primeiro de janeiro já como ex-namorados, e ainda faríamos uma tentativa de volta justamente no carnaval, e na primeira noite sonhei com a Jacque, que era colega de hospital, e pensei que nunca teria chance com ela, mas a tentativa de retorno não deu certo, e no dia seguinte à conversa definitiva em que ela disse que não queria mais tentar eu fiz plantão em uma UTI e, ao sair do plantão, fomos todos, residentes de clínica do Hospital da PUCRS jantar na casa de um dos colegas e lá, sentado ao lado da Jacque, perguntei porque brincava comigo dizendo, quando o meu pai ligava para hospital para falar comigo e ela atendia, que o ‘sogrão’ estava ligando, e ela disse que não era brincadeira, e saímos e ficamos juntos e namoramos por um mês em segredo até revelarmos a todos, e um ano e meio depois casamos, a Marina nasceu depois de doze anos, e estamos juntos, felizes, até hoje. 

 

Como em um piscar de olhos, boa parte da vida passou.

 

Mudei, mudamos.

 

Ainda há muito o que fazer e percorrer. 

 

Desejos e planos, secretos ou não.

 

Seguimos, altivos.

Até. 

sábado, dezembro 07, 2024

Sábado (e um café da manhã)

Croque Madame


Do final de semana passado.

Hotel Casacurta.
Garibaldi/RS.

Bom sábado a todos.

Até. 

sexta-feira, dezembro 06, 2024

Mecânicas

 Sou guri de apartamento.

Dito de outra forma, em termos de carros, só sei andar para frente. É o que meu pai costumava resmungar quando eu – mesmo depois de médico, casado, mas ainda não pai de família – pedia algum tipo de ajuda relacionada a carros. Ele estava certo, e eu sabia disso na época.

 

Essa característica nunca mudou, a minha incapacidade em termos mecânicos, de entendimento de carros. Trocar pneus, tudo bem, mesmo que da última vez que que esse tipo de evento ocorreu, em uma volta da fazenda da querida amiga Bianca, não me deixaram trocar por causa da minha coluna, operada meses antes. Se precisar, troco, sem problemas.

 

O meu carro atual, já há alguns anos, é confiável, confortável e com ótima capacidade carga, uma VW Tiguan, de sete lugares porque transporto, além de equipamentos para shows, também pessoas. Foi com ela que viajamos em seis pessoas e bagagens durante quinze dias pelo Uruguai há quase três anos. Bom carro, já com seus setenta mil quilômetros. 

 

Depois de um tempo em que fazia as revisões na concessionária, passei a utilizar os serviços de um mecânico indicado por um ex-professor meu, que foi meu médico, foi médico do meu pai, e é meu paciente hoje em dia. Reviso o carro com ele, hoje em dia, o mecânico, não o médico.

 

Há duas semanas, fizemos a revisão.

 

Tudo certo, mas ele falou que estava com um ruído diferente e que precisaria trocar os amortecedores. Combinamos e ele fez ontem. Ao retirar o carro, enquanto conversávamos, ele disse que agora pararia aquele ruído “infernal” que estava fazendo. Concordei com ele, mas pensei que não havia reparado ruído diferente nenhum. Ao sair com o carro, “estranhei” o silêncio da condução... E me dei conta que havia me acostumado com o ruído e não percebia que havia algo diferente...

 

Pensei comigo e sorri: só sei andar para a frente...

 

Até.

quinta-feira, dezembro 05, 2024

O (meu) Tempo

Pode ser que seja pelo final de ano, pode ser que seja pela efeméride dos trinta anos de formatura em medicina, e vinte da defesa de minha tese de doutorado, ou pode não ter nada a ver com isso, mas tenho feito, nas últimas semanas, um ‘inventário’ da vida, em suas diferentes dimensões. Para entender onde me encontro, para me entender.

 

Um dos aspectos da minha vida que tenho esquadrinhado é o sobre o que faço com o meu tempo. Objetivamente, como distribuo as vinte e quatro horas diárias entre as diferentes atividades que exerço. Trabalho, deslocamentos, atividades pessoais, como o tempo que tenho para almoçar, por exemplo, ir à academia, as horas dedicadas à música, aula e ensaios, e até escrever esses textos diários e outros, além do tempo para ficar em casa, com a família e o sono. Meticulosamente, planilhei (de forma obsessiva, eu sei) como é uma semana normal, de segunda a sexta-feira. 

 

Após isso, transformei todas essas informações em gráficos e montei uma apresentação de powerpoint com isso, para caso algum dia queira apresentar isso para alguém (vai que eu vire coach, vai saber...). Achei que é uma forma interessante de eu visualizar a vida no sentido prático. Entender como uso o meu tempo me ajuda a saber se estou fazendo as coisas conforme o plano, ou como eu acho que deveria fazer.

 

Se estou priorizando o que necessita ser priorizado.

 

Se estou no caminho do tipo de vida que eu quero para mim.

 

Sim, estou sempre me questionando isso, e procurando fazer os ajustes necessários para isso, quase que diariamente. O mais importante, procurando viver no presente.

 

Até.

 

(ah, quanto a ser coach, vou começar com uma palestra sobre ‘Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e o Sentido da Vida’, que é para médicos, mas vocês ainda não estão prontos para isso...) 

quarta-feira, dezembro 04, 2024

Narrativa

A Verdade.

 

Assunto recorrente por esse espaço, que compartilho com você, estimado leitor. Como se pode notar, revisito, reflito e repenso sobre alguns assuntos em especial, e a narrativa e a verdade estão entre eles.

 

O mundo, e a vida, todos deveríamos saber, são complexos, cheios de nuances e camadas e usualmente com graus variados de dificuldade de entendimento. Ou não, mas não vem ao caso agora. O que quero dizer que as coisas nem sempre são o que parecem na superfície, que o entendimento do todo requer trabalho, requer escutar todos os lados de uma história e qualquer possível julgamento requer uma análise sem vieses, na medida do possível.

 

O que é e onde está verdade, nisso tudo? 

 

Provavelmente em algum lugar no meio das diferentes versões, ou narrativas, de um mesmo fato. O que é certo para mim pode não ser para o meu interlocutor, mesmo que existam alguns preceitos absolutos, inquestionáveis. Ao menos é assim quem vejo. E para você, como é?

 

Fico, confesso, incomodado com julgamentos feitos a partir de conhecimentos superficiais e, por isso, incompletos de fatos ou pessoas. Feitos a partir de narrativas que sistematicamente não serão imparciais porque são criadas por pessoas com maior ou menor grau de interesse na história contada, na narrativa criada. Quem ouve e se posiciona perante uma situação a partir de informações incompletas corre o risco de ser injusto – e eu faço de tudo para não ser – ou por preguiça ou pelo viés de confirmação.

 

Sei lá.

 

Até. 

terça-feira, dezembro 03, 2024

F.O.M.O (2)

Fear of Missing Out.

 

Volto ao assunto para confessar que sigo lidando com isso. A sensação de ser deixado de fora, ser excluído, não fazer parte, é recorrente em mim, já confessei. E sei que a questão principal sou eu, e não os outros. 

 

Vivo uma fase em que busco a paz de espírito, no sentido em que sei (mas continuo descobrindo) quem sou e sei o que quero para minha vida. A partir desse conhecimento é que procuro tomar as decisões da vida de um modo geral. Por isso, devido a isso, é que caminho por entre os ambientes em que convivo de forma serena na maior parte do tempo, e já sei que devo dizer não àquilo que não condiz com quem sou e com o que quero para mim.

 

Nem sempre consigo, claro.

 

Assim como nem sempre fico totalmente tranquilo com o fato de não fazer parte de tudo, não estar presente em todas as situações em que gostaria de, ao menos, ser convidado a participar, mesmo que não pudesse ou quisesse fazer parte ou estar presente. Quando essa sensação aparece, e eu sei que não faz sentido, ainda é um esforço consciente que tenho de fazer para afastar o pensamento / sensação de estar sendo excluído.

 

Entendo que é um processo, e que – ao fazer escolhas, decidir por um caminho – estamos renunciando às possibilidades, às possíveis portas que os caminhos não escolhidos abririam. É da vida, vivemos com as consequências de nossas decisões. E está tudo certo.

 

Continuo aprendendo, diariamente.

 

Até.

segunda-feira, dezembro 02, 2024

O Décimo Segundo Mês

Dezembro é uma grande sexta-feira.

 

Li em algum lugar essa definição, e achei perfeita. O último mês do ano é um momento – na minha realidade de vida atual – de desaceleração profissional e aceleração social. Enquanto o mês de trabalho é mais curto devido ao recesso de final de ano, entre o Natal e o início do próximo, por outro lado é intenso em encontros e confraternizações e despedidas.

 

É também um momento de contabilidade emocional.

 

É quando – ao reduzir a correria dos dias – podemos refletir sobre o ciclo que se encerra, sobre o que foi feito nos últimos doze meses, o que alcançamos, aquilo que não fizemos pelas mais diversas razões, e - também - o que esperamos e planejamos para o próximo ciclo. Sei que o primeiro de dia de janeiro é igual ao trinta e um de dezembro, e que a virada do ano é apenas simbólica, uma virada de chave emocional, não importa.

 

Sempre faço isso, a retrospectiva do ano que termina.

 

Vou fazer isso, claro.

 

E tenho a impressão de que vou gostar de que vi, fiz e ouvi.


Até. 

domingo, dezembro 01, 2024

A Sopa

Amigos de trabalho.

 

Esses dias, jantando com um professor do curso de Medicina, hoje aposentado e vivendo entre os amigos, a família e, muito, com os netos, surgiu em meio à conversa esse conceito, de amigos do trabalho, que penso ser um pouco diferente de ‘colegas de trabalho’. E pensei nas relações pessoais que temos ao longo da vida, e as relacionadas ao trabalho em especial.

 

Amigos de trabalho seriam aqueles colegas com quem tens uma relação mais próxima, que vai além da rotina de trabalho, que pode resultar em encontros e eventos não necessariamente estejam ligados a ele, mas que tem a base, a ligação, no convívio no ambiente laboral. Que caso se quebre essa rotina, a relação vai esfriar. Como quando mudas de emprego, ou local de trabalho. É um fenômeno comum e absolutamente corriqueiro. E está tudo bem.

 

Amigos de trabalho podem transcender a relação baseada no local de trabalho e se tornarem amigos mesmo, independente de geografia e profissão. Tornarem-se amigos de vida, digamos assim. O quão frequente é essa “transformação”? Não tenho nem ideia. 

 

Acabei, então, por me questionar com relação a esse assunto, e mais um pouco, indo além, ao conceito de amigo. Quem são nossos amigos da vida? São poucos, todos dizem. O quão poucos, pergunto, e sei que essa é uma questão muito pessoal, e que não há regra, evidentemente.

 

Eu tenho alguns, que procuro manter, cultivar.

 

Tem algum tempo, reconheci em mim a necessidade de cultivar (as minhas) amizades. Reconhecer, valorizar, não deixar que esqueçam que foram e são importantes para que eu tenha me tornado e seja quem eu sou agora. Tenho um respeito muito grande por quem me acompanha de perto (mesmo que não geograficamente) por mais de trinta, quarenta anos. Que estiveram comigo nas boas e nas ruins, sempre próximos, como eu sempre procurei estar deles.

 

E, quando não mais esperava, confesso, surgiu (criei) uma janela para criar e estreitar novas amizades, mesmo que eu dissesse – de brincadeira, obviamente - que não havia mais lugar para novas, a não ser que fossem substituições por morte, já que minha capacidade de afeto estava esgotada. Essa janela, ou dimensão, surgida pelas novas relações, pelas novas amizades, continua a expandir o mundo em que vivo (vivemos) e trazer conforto para a alma.


Até.