terça-feira, maio 17, 2005

Há como saber?

Há quase dezessete anos, numa já longínqua madrugada de julho de 1988, sentado em um balanço, na aquela época do ano deserta Colônia de Férias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Tramandaí, litoral norte gaúcho, tive uma longa conversa com uma amiga. Falamos sobre o futuro.

Estudávamos na Escola Técnica de Comércio, da UFRGS, e, como alunos da UFRGS, tínhamos direito de freqüentar a Colônia de Férias. Não no verão, claro, aliás, até poderíamos, mas no verão eu ia para a casa da praia, em Imbé, ao lado de Tramandaí, onde era parte da Turma do Muro, mas isso é outra história.

Costumávamos ir para a Colônia de Férrias nos meses fora de temporada. Nunca tinha ninguém lá. Ficávamos só nós, a turma. O que normalmente queria dizer o Márcio, o Radi, o Igor e eu, com exceção dessa única vez em que foram quase todos, uns dez. Era julho, frio, a cidade e a colônia de férias desertas. Acabamos dormindo quase todos no mesmo quarto (que tinha três triliches).

A conversa a que me refiro no início foi logo na noite que chegamos, estávamos todos conversando no quarto e decidi sair dali para tomar água. Ela quis ir junto. Fomos os dois, e acabamos ficando um tempão conversando sentados nos balanços. Falamos de muita coisa. Era uma época de indecisões e necessidade de definições. E isso causava ansiedade, óbvio.

Eu fazia cursinho pré-vestibular a até aquela altura do ano ainda não sabia para que prestaria prova. Medicina ou jornalismo? Minhas duas grandes paixões e – por que não? – vocações. Conversamos sobre isso, sobre como seria a vida em caso de eu escolher cada uma das opções. Essa amiga também tinha suas dúvidas, bem diferentes das minhas.

Eu achava naquela época que se optasse pela medicina, teria uma vida previsível, em contraste com infinitas possibilidades se fosse jornalista. Baita bobagem, mas as vezes somos mais velhos e sérios aos dezesseis anos do que aos trinta e três. A experiência nos deixa mais leves, de certa forma. Pois é, como já sabem, optei por medicina, e o engraçado é que se há uma coisa que não foi previsíel até hoje foi o rumo, foram as voltas que minha vida deu desde então. Como eu disse, somos muito mais velhos quando adolescentes.

Estou falando de tudo isso porque há cinco anos sentei, sozinho, e estabeleci um projeto de vida, algo como um plano de metas. Sei lá, coisa de obssessivo, estava sem ter o que fazer numa manhã qualquer, não importa. O fato é que lembrei disso e tenho absoluta e clara certeza de que nada do que eu imaginava para a minha vida há cinco anos atrás se realizou. Aliás, aconteceu de forma totalmente diferente do esperado, do planejado. E de uma forma boa, podem estar certos. E isso é uma das coisas boas: a vida sempre nos surpreende.

Ah, a menina a que me referi no início do texto não era nem nunca foi minha namorada. Era uma amiga, e que foi amiga por mais um tempo e se perdeu no caminho. Acontece.

Até.