Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
segunda-feira, maio 30, 2005
Método
Estou morando aqui em Toronto há nove meses e alguns dias. Sozinho, geograficamente longe daqueles que me são mais queridos. Isso todo mundo que já passou algumas vez por esse blog sabe, até porque está na abertura do blog e é um assunto recorrente. É uma das formas que tenho de lidar com as saudades.
Pois é. Sábado de noite, em Porto Alegre, a Jacque foi jantar na casa da Luciana e do Deco, nossos amigos, mais o Pedro e a Zeca, e me colocou embaixo do braço e fui junto com eles. Não foi uma novidade nestes tempo em que sou um marido virtual, de vez em quando ela me leva junto para um lugar ou outro para eu encontrar alguns dos nossos amigos. Desde que tenham um acesso com banda larga. Graças à tecnologia, e ao iChat. Nada de novo até aqui.
Conversando com o Pedro e a Zeca no sábado, eles perguntaram como iam as coisas aqui. Respondi que tudo vai bem, o trabalho está rendendo, estou muito bem adaptado ao hospital, à cidade e ao país. Que Toronto é outra cidade depois do inverno. Que estou procurando um bicicleta usada bem baratinha para poder aproveitar os finais de semana na beira do lago, etc.
Perguntaram se eu sentia falta de Porto Alegre. Comecei a dizer que não, que no fundo eu não sentia falta… fiquei em silêncio por um instante e confessei: “Quem eu quero enganar? É claro que eu morro de saudades de casa, da Jacque, da família, dos amigos!”. Sim, eu sinto saudades (como se isso não estivesse claro pelo que escrevo…). Que fique bem claro: não estou sofrendo aqui em Toronto. Pelo contrário, a vida aqui é muito boa. Mas evidentemente sinto saudades de tudo o que ficou no Brasil. É isso.
Mas como lidar com a saudade de tanta gente ao mesmo tempo?
Lembrando do meu tio Vilson, já falecido há vinte anos, desenvolvi uma técnica. Ele, em algumas vezes que viajamos de noite, dizia que podia dirigir a noite toda sem perigo de dormir, porque “descansava” um olho de cada vez. Aí olhavamos e lá estava ele com um olho fechado e o outro aberto enquanto o carro seguia pela estrada…
Pensando nisso, decidi sentir saudades das pessoas em etapas: cada dia, ou par de dias, de uma pessoa diferente. Nem sempre funciona exatamente como deveria.
Nos últimos dias, tenho insistemente sentido falta da Beta, minha muito amada afilhada.
Até.
