Eu sempre cuido muito quando vou comprar sabonetes.
Não, não sou alérgico. Nem existe uma razão, digamos, física, para ter alguma precaução com sabonetes em geral. É uma questão filosófica. Nem precisa ser sabonete, também. E não está fazendo sentido o que estou escrevendo, eu sei. Deixa eu explicar o que quero dizer: o que muda o mundo, o que altera destinos, são as pequenas decisões que tomamos.
Essa coisa de encruzilhadas que encontramos na vida, grandes decisões que somos obrigados a tomar, momentos emblemáticos em que um ‘sim’ ou ‘não’ podem mudar o futuro, tudo isso é bobagem. Mesmo. A situação só chegou a este hipotético ponto de ruptura, a este inevitável dilema, a partir de pequenas decisões que tomamos no dia-a-dia. Traçando paralelo com um dito sobre os livros, podemos dizer que ‘as pequenas decisões diárias não mudam o mundo, elas mudam as pessoas, as pessoas é que mudam o mundo’. Pois é, isso é verdade. Podem estar certos.
Todo o dia, tomamos pequenas decisões que – sem percebemos – alteram muitas vidas, a começar com a nossa própria. Quantas vezes, sem perceber, nosso futuro foi alterado por uma coisa aparentemente mínima e sem importância. Exemplo: uma frase dita no momento não apropriado pode destruir um possível relacionamento que poderia ser “aquele”, o definitivo. Quantas vezes, num bar, alguém chegou para uma menina e abordou-a com um “Vem sempre aqui, gatinha?”, no que ela olhou de volta com desprezo e abdicou de conhecer aquele que seria o amor de sua vida, o pai de seus filhos. Pois é, um ônibus errado, um avião perdido, um bom dia dado num elevador, um esquecer de escovar os dentes. Pequenas atitudes que podem fazer toda a diferença no nosso futuro.
Pode parecer angustiante saber que cada passo que damos, desde a escolha da roupa que vamos usar até que programa de televisão vamos assistir, pode mudar a vida para sempre. E talvez seja mesmo, mas é assim, e não podemos fugir disso.
Acho que é por isso mesmo que escolhemos determinados eventos e momentos para serem emblemáticos, para simbolizarem as grandes mudanças. Tornamos esses momentos grandes para termos ao que nos referir quando refletimos sobre como nossa vida tornou-se o que é. Quando avaliamos os caminhos que tomamos na vida, tendemos a procurar esses momentos-chave, que dão significado a tudo.
Se tivéssemos a consciência de que todas nossas atitudes têm esse potencial, correríamos o risco de ficar paralisados com medo do que fazer. Está aí a razão para ignorarmos, ou negarmos, o fato de que são as aparentemente insignificantes decisões de todos os dias as que realmente importam. Por outro lado, não adianta fugir da verdade: até mesmo o sabonete que compramos pode mudar o mundo.