sábado, março 11, 2006

Céu, Sol, Sul

Não, não tem sul… mas não é disso que quero falar.

Imagine-se na seguinte situação, caro leitor: madrugada, lá por volta das 3:30 AM, você – médico – de plantão em um pronto-atendimento (uma emergência ma non troppo, para aqueles casos que não são urgências na acepção da palavra, mas que motivam o paciente a ir ao hospital). Depois de atender por várias horas, você conseguiu, há meia hora atrás, deitar e dormir um pouco.

Menos de meia hora de sono, então, quando lhe chamam “Doutor, consulta”. Lá vai você, sonolento, atender o paciente e, ao entrar no consultório de atendimento, a primeira coisa que o familiar dele que o acompanha diz é “Ele não gosta de médicos, nem de remédios”. Nesta ordem, peremptoriamente. Indiscutível. O que você faria?

Não, você não pode virar as costas e voltar a dormir, ou mandá-los aos gritos para casa, ou prescrever um tratamento errado, um laxante para um resfriado, por exemplo. Não, você não pode fazer nada disso, e isso nem passa pela sua cabeça. Você fez um juramento ao tornar-se médico, existe um código de ética que deve seguir. Não há muitas opções nesse caso.

Eu, particularmente, sorria – num misto de simpatia e ironia - e dizia que remédios e médicos não eram para se gostar ou não, éramos necessários. E então perguntava o que de grave tinha acontecido para irem consultar num hospital aquela hora da madrugada. Numa proporção grande dos casos, eram queixas simples, muito mais ansiedade e medo que doenças importantes, normalmente requerendo tratamento tão simples quanto as queixas, mas que motivavam sofrimento e justificavam a ida ao hospital.

Temos – nós, médicos - um rigoroso código de ética a seguir, mas outras profissões importantes não têm.

Os barbeiros e cabeleleiros, por exemplo.

Esse ofício, cortar o cabelo, tem um importância social significativa, e acho que esses profissionais deveriam seguir um código de ética tão rigoroso quanto médicos e juízes. Veja o estrago que podem causar aos seus clientes. Certo, os danos causados por esses profissionais são temporários, e isso pode servir como uma circunstância atenuante, mas mesmo assim…

Sem falar que a relação entre o profissional do corte de cabelo e o cliente é tão intensa quanto a relação médico-paciente, às vezes mais, porque ele também é praticamente um terapeuta.

Uma coisa muito mais séria do que parece…

Até.

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