O que mudou, efetivamente?
Eu defendi minha tese de doutorado em Pneumologia na UFRGS há quase vinte e um anos, em dezembro de 2004. Eu estava há quatro meses morando em Toronto e vim ao Brasil para a defesa e para as festas de final de ano em Porto Alegre e no litoral norte do RS naquele ano. Defendi a tese dez anos após ter me formado médico.
Eu estava desde agosto de 2004 morando sozinho em Toronto, já nas atividades de pós-doutorado enquanto terminava de escrever a tese. Morar sozinho em uma cidade diferente e – por opção – não ter televisão em casa (naquele tempo a Netflix era um serviço de assinatura de entrega de DVDs em casa) ajudou em manter o foco e terminar de escrever.
Foi uma grande experiência, com histórias que devem estar em parte em um próximo livro que pretendo publicar, mas sempre me perguntava o que tudo representaria para mim em termos, além da experiência de vida que é o mais importante, profissionais? Sabia que só o tempo diria, precisava de uma visão de perspectiva, do distanciamento histórico.
A primeira mudança, imediata e relativamente fácil de perceber, foi o modo que as pessoas me viam como profissional. Por mais bobo que possa parecer, e eu brincava com isso, só o fato de eu ter ido passar um tempo fora do Brasil já mudou essa percepção das pessoas sobre mim. Eu dizia que poderia ter sido jardineiro, ou garçom, ou qualquer outra atividade no exterior, que as pessoas passariam a me ver como um médico melhor. E talvez – independente do que eu fizesse enquanto fora – eu realmente me tornasse um médico melhor, por ter tido mais experiência de vida, conhecido mais pessoas, e mais pessoas diferentes.
Não vem ao caso.
O doutorado e o pós-doutorado foram as chaves que abriram portas ao longo do tempo, desde como professor universitário que, por circunstâncias diversas, já não sou mais, além de várias outras.
Mudou muito a vida, na verdade, respondendo ao meu próprio questionamento inicial. Mudei também, como esperado.
Sempre vale à pena, sempre.
Até.