Terça-feira à noite.
Por volta das 19h30 chego em frente ao Sgt. Peppers, famoso pub de Porto Alegre onde ocorrerá naquela noite um evento promovido pela APA, Associação De Peito Aberto RS, uma ONG que atende crianças e adolescentes com problemas respiratórios, e cuja atração principal seria um show do Humberto Gessinger, de quem sou fã há muitos anos. A casa só abriria às 20h, então já havia fila em frente para entrar.
Sozinho, fui para a fila. Como os ingressos haviam se esgotado rapidamente, tive a sorte de receber um convite do atual Presidente da APA, o colega pneumologista pediátrico André Longhi. Esperava na fila, quando a pessoa logo à minha frente – uma mulher loira, certamente mais nova que eu, também sozinha – puxou assunto, perguntando se eu conhecia a casa (já toquei aqui algumas vezes, mas isso não vem ao caso, pensei) e se eu achava se, pelo lugar da fila em que estávamos, conseguiríamos bons lugares. Respondi que provavelmente sim.
Após abrirem as portas, ao chegar em minha vez de entrar, ao confirmar que meu nome estava na lista, entrei logo à frente dela. O organizador perguntou se eu estava acompanhado, no que respondi que não. Me ofereceu, então, lugar em uma mesa alta, lateral, de dois lugares. Aceitei e fui para o lugar. Logo depois, a menina da fila chegou e perguntou se poderia dividir a mesa comigo, já que estava sozinha e a vista do palco era boa dali. Disse que não tinha problemas.
Tranquilo. Até que...
De onde eu estava, eu tinha uma boa visão de quem entrava no lugar. Passados alguns instantes, vejo surgir na porta um casal conhecido com seu filho adolescente. Foi quando, como uma epifania, me dei conta da situação.
Eu estava, em uma terça-feira à noite, em um pub para assistir um show, com uma loira que não era a Jacque. O que as pessoas iriam pensar? E se houvesse fotos?
O casal em questão não me viu e subiu para o mezanino, o que me deu tempo para pensar na situação. Logo depois, contudo, entrou um colega cirurgião torácico. Ato contínuo, me levantei e fui falar com ele, cumprimentá-lo. De novo, o que iriam pensar se me vissem? À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta, era o que eu pensava.
Não tive dúvidas, então.
Pedi licença e saí da mesa. Fui assistir ao show em pé, no fundo, junto ao bar. Logo vi que havia um cara sentado com ela na mesa, e conversando animadamente. Alívio.
Pude curtir o show tranquilamente, sem o risco de confusão...
Até.