Passou o tempo.
Hoje, vinte e seis de julho de dois mil e vinte a quatro, completa-se o segundo aniversário de morte do meu pai. Era terça-feira, estávamos saindo de um velório quando recebemos a ligação do hospital comunicando o desfecho já esperado há alguns dias. Era agora oficial o que já sabíamos que iria acontecer a qualquer momento.
Ficou internado por treze dias antes de morrer, e seu último momento de lucidez foi quando o comuniquei que havia melhorado e que estava em condições de sair da UTI – onde estivera até entubado uns dias antes - e ir para um quarto de enfermaria, e me disse que “era hora de levantar acampamento”. Foi premonitório?
‘Levantar acampamento’ poderia simplesmente significar sair de UTI e ir para o quarto, para seguir o tratamento, mas também ser uma despedida, dizendo que estava finalmente na hora de descansar, de parar de sofrer, de não ter mais limitações e nem dores, não depender de ajuda para as menores atividades. De não ser mais independente e dono de si como fora em toda sua vida, e que – por mais que tenha aceitado externamente as limitações - nunca mais havia sido o mesmo.
‘É fácil comandar homens livres, basta mostrar o caminho do dever’ era um de seus mantras, repetido incontáveis vezes ao longo de sua vida, mas sabemos que, nos últimos anos, ele era tudo, menos livre. As limitações que dificultaram sua mobilidade, a audição que foi diminuindo e que se recusava a usar aparelho para auxiliá-lo, foram tornando-o progressivamente dependente. Aquele pai que sempre fora a (minha) referência já não estava lá, infelizmente.
É da vida, eu sabia, nós sabíamos.
A vida continuou, como sempre continua e continuará, independente de nossas situações, por maiores e mais graves que sejam. Aprendemos a viver sem sua figura protetora por perto, sem a quem recorrer quando precisasse, quando tivesse dúvidas sobre as coisas. Ainda bem que ele e minha mãe me prepararam para a vida, sempre digo.
Quarta-feira que passou foi o momento de uma nova despedida. Foi quando decidimos que era hora de espalhar as cinzas dele como forma de homenagem. Escolhemos um momento em que estávamos juntos, a Mãe, meu irmão e eu (além das netas Olivia e Marina e da Jacque) e um lugar que era importante para ele. Foi no rio, no Veleiros do Sul, clube que frequentou por quarenta anos. Era final de tarde, o sol se pondo num céu azul e temperatura agradável.
Ele teria gostado.
Até.
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