domingo, julho 07, 2024

A Sopa

Penso na semana de quatro dias úteis.

 

Sou, por conceito, favorável a trabalho de segunda à quinta-feira e um final de semana composto por três dias. Ia ser legal. Como profissional liberal, poderia estabelecer que a minha semana de trabalho encerrasse na quinta-feira no final da tarde, mas ainda não é o momento, se é que um dia vai acontecer. Como empreendedor, que agora sou também, certamente não seria o mais prudente também. E então penso em como a (minha) semana de trabalho mudou ao longo do tempo, desde que me formei e depois terminei a residência médica.

 

O começo da carreira médica de fato, após completar minha formação como pneumologista, foi com plantões, aos finais de semana e noites. Sofria internamente por estar de plantão num sábado de sol (o melhor momento da semana) enquanto amigos e familiares estavam de folga. Não gostava de dormir fora de casa, apesar de – quando no plantão – gostar e me divertir no trabalho. Durante um tempo, a rotina de plantão à noite e trabalho na manhã seguinte foi frequente. E ou estava de plantão ou viajava para trabalhar, isso quando não viajava para fazer plantões.

 

Quando morei no Canadá, a vida e a rotina de trabalho eram bem diferentes. Eu chegava no hospital por volta de 8h30 e era o primeiro a chegar. À tarde, por volta das 17h encerrava o dia, e não havia plantões e nem finais de semana de trabalho. Era bom.

 

Quando voltei a morar no Brasil, o recomeço foi com a decisão de não mais fazer plantões, mesmo que isso implicasse em rendimentos menores no início. Mas não significou menos deslocamentos a trabalho, além do trabalho em múltiplos locais e até cidades.  Por quase dez anos viajei semanalmente para dar aulas em uma Universidade a 150km de casa. Ia e voltava no mesmo dia, em tempo ainda de buscar a Marina na escolinha. Eram muitas horas semanais em trânsito, em Porto Alegre e fora da cidade. 

 

Houve um momento em que minha semana era – de certa forma – escalar uma montanha entre segunda-feira e quarta. Intensa e cansativa até a quarta-feira à noite, quando começava e reduzir a intensidade lentamente até chegar no final de semana. Quando trabalhei numa multinacional da indústria farmacêutica, o sábado de manhã (o melhor momento da semana) iniciava bem cedo mesmo, porque era um período que utilizava para estudar e preparar materiais. 

 

Esse período, aliás, foi agitado porque havia as viagens semanais para dar aulas, normalmente às quintas-feiras voltando no primeiro horário da sexta-feira para ainda trabalhar. Eu gostava muito, mas, olhando em retrospectiva, era meio insano. Tanto é que nos meus últimos dias como funcionário eu estava estressado, sedentário e obeso. Como eu disse, foi bom, mas estava cobrando um preço alta em minha saúde.

 

Quando encerrou (meses antes do que eu havia planejado) meu vínculo com a indústria, e entrei em um período de quarentena informal na minha relação com ela, que emendou com a pandemia e que – de certa forma - dura até hoje, decidi fazer um “ano sabático”, dedicando apenas ao meu consultório. Como já contei aqui antes, esse período encerrou alguns poucos dias antes de estourar a pandemia, o que “prolongou” esse período...

 

Durante a pandemia, acabei sendo contratado como professor em um Universidade na região metropolitana de Porto Alegre, onde eu ia às segundas e sextas-feiras à tarde, sem flexibilidade nenhuma de troca de horário, o que engessava minha semana. Permaneci dois anos, até que decidi que era hora de voltar a ser unicamente profissional liberal, que é o que sou hoje, com os bônus e ônus que isso me traz.

 

Desde o ano passado, também sou empreendedor, o que “exige” de mim mais tempo e dedicação e horários alternativos. Mas aí é bem diferente.

 

Sou eu, agora, quem define o que faço do meu tempo.


Até. 

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