segunda-feira, junho 06, 2005

As aves que aqui gorjeiam…

Confesso.

Não sou lá muito fã de ficar assistindo futebol na TV. Normalmente não tenho paciência. Poderia ir além e dizer que não sou muito fã de futebol, assim dito genericamente. Sou muito mais torcedor do Inter do que apreciador do esporte bretão. E da seleção brasileira, claro.

Imagine, então, caro leitor, juntar os dois, Inter e seleção. Pois é, já aconteceu, mais especificamente nas Olimpíadas de 1956, em que oito jogadores do Inter fizeram parte da seleção que representou o Brasil, e em 1984, Los Angeles, em que o time do Inter foi a seleção brasileira e chegou à medalha de prata, a melhor colocação do Brasil na história das Olimpíadas, colocação que se repetiu em 1988.

Como contei ontem, o futebol aqui no Canada é lamentável. Então vocês podem imaginar que mesmo eu, que não sou grande fã de assistir jogos que não sejam os do time pelo qual torço ou da seleção, estou carente de assistir futebol. Some-se a isso a notícia de que a seleção brasileira ia jogar em Porto Alegre e – mais – no Beira-Rio, estádio do Inter, “minha segunda casa”, e enlouqueci: tinha que ver o jogo.

Durante a semana que passou, pesquisei todas as possibilidades de conseguir assistir ao jogo pela TV a cabo, e essas possibilidade se reduziram a zero. Para assistir, teria que ter uma antena parabólica (Dish Network), o que é contra o regulamento edifício onde moro. O detalhe sobre a Dish Network é que ela é ilegal. Aliás, vendê-la aqui é perfeitamente legal, mas tê-la a captar canais não regulamentados (Globo Internacional, por exemplo) é procedimento irregular. Mas que todo mundo (tá, nem todo mundo) faz.

Decidi, então, assistir o jogo num bar, cujo nome é bem apropriado: Bola. É, digamos assim, luso-brasileiro. Cheguei lá faltando pouco menos de dez minutos para começar o jogo. Estava lotado, e tinha até uma percussão. O clime era de festa, a maioria do pessoal com camisetas da seleção.

Na hora do hino do brasileiro, vacilei, e começou. Mesmo eu, um cara circunspecto e soturno, sombrio até, uma rocha, enfim, me emocionei. Por várias razões, evidentemente. Por estar longe do Brasil, claro que – e é a primeira vez que digo isso – a minha “brasilidade” ficou exacerbada, e com ela meu apego ao pago, à querência. A afirmação da minha identidade, cada vez mais.

Fiquei emocionado também porque era Porto Alegre nas imagens, mesmo que só mostrasse de relance a vista do morro Santa Tereza acima da arquibancada superior, do lado contrário ao das sociais, onde muitas e muitas vezes estive sentado assistindo jogos do Inter (e me irritando com a torcida, mas essa é outra história). A vista era familiar, conhecida. Quando, então, mostrou o sol que se punha no Guaiba, na sua melhor e mais bela forma, tonalidades alaranjadas passando a avermelhadas, como que para combinar com a cor do time que tem casa na beira do rio que não é rio, fiquei tomado de euforia, de saber que eu sou dali, sou parte daquilo tudo.

O pessoal comentou na mesa sobre a beleza das imagens, e fiquei quieto, mas alguém próximo de onde eu estava comentou “O pôr-do-sol mais lindo do mundo”. Sorri.

Quem sou eu, afinal, para discordar da voz do povo?

2 comentários:

Anônimo disse...

Que legal, Marcelo!
Muito legal seu texto! Beijos

Anônimo disse...

Como voce falou, se nao se cria expectativas, tudo da certo! O problema e que nesse caso eu criei expectativas de amizade e tudo, e nao deu certo.

Eu gostei de conhecer voce e umas pessoas que tavam la! Beijos