A distância de casa às vezes nos prega umas peças, como quando sentimos saudades de coisas que nunca pensamos que iríamos sentir.
Na última quinta-feira, no happy hour do pessoal do Respiratory Research Lab, onde trabalho, enquanto tomávamos cerveja, conversávamos despreocupadamente. Assuntos variados, como num happy hour que se preze, aniversários passados longe de casa, um especial em Firenze quem sabe num futuro não muito distante, e chegamos na nossa colega que está indo segunda-feira com o marido e os filhos passar um mês na Austrália, para onde vai para um casamento na família e para fazer turismo.
Falávamos das diferenças de fuso horário, do tempo de viagem, e a coordenadora do laboratório disse que – há alguns, quando estava na ilha de Tristão da Cunha (o ponto mais isolado do mundo, no Atlântico Sul a meio caminho entre a África e a América do Sul) – só se deu conta que estava realmente longe de casa quando olhou o céu à noite e não encontrou a Polaris.
A Estrela do Norte, ou Estrela Polar, é a mais brilhante estrela da constelação de Ursa Menor. Ela é quem indicava para os navegadores o norte verdadeiro. Foi quando perguntaram se na Austrália dava para vê-la.
Não, todos imaginamos, afinal a Austrália fica no hemisfério sul. E qual é o equivalente do sul, perguntaram. O Cruzeiro do Sul (The Southern Cross, ou Crux) disse eu sem vacilar. É por ela que os exploradores se orientavam quando singravam os mares abaixo do equador. No céu, indica a localização do sul e está próxima à constelação de Centauro. Sua estrela mais brilhante é Acrux.
Acrux, o nome, é a combinação da letra grega (Alpha) com o nome da constelação, representa o pé da cruz, e é um sistema de duas estrelas distantes 200 anos-luz uma da outra.
Por não ser visível da maioria das latitudes no hemisfério norte, o Cruzeiro do Sul é uma constelação moderna, e não tem nenhum mito grego ou romano associado ao seu nome. Ele foi utilizado pelos navegadores para apontar o sul porque, ao contrário do polo norte celestial, o polo sul celestial não é marcado por nenhuma estrela brilhante.
Ao comentar sobre o Cruzeiro do Sul, vejam só, senti saudades do céu do Rio Grande, do Brasil. Lembrei de incontáveis noites de minha infância e adolescência que passamos sentados olhando as estrelas, nos verões do litoral norte gaúcho. Por ser afastado de grandes conglomerados urbanos – com toda sua iluminação – o céu da praia era quase claro de tanta estrela. O Cruzeiro do Sul, as Três Marias, Alfa-centauro, as poucas que reconhecia e, claro, ao amanhecer, a Estrela D’Alva (Vênus?), aquela da marchinha de carnaval.
E partir daí uma série de associações e lembranças tomou conta de mim, evento não infrequente, e fiquei – mais uma vez – feliz. Por ter vivido muitas coisas boas e, mais, pela perspectiva de muitas histórias pela frente.
Bom sábado a todos.
2 comentários:
Eu nunca passei horas olhando as estrelas, nao sei porque. Me lembro que quando tinha meus 12-13 anos, a gente ficava olhando as estrelas da sacada do meu ap em C Frio pra podermos ver estrela "cair". Era so essa a nossa intencao. Vimos umas duas ou tres, no maximo, nesses 2 anos. Me peguei olhando estrelas depois ano passado e imaginando se o Michael tambem as via. Eu nao sei nada sobre qual estrelas sao vistas no Sul e quais sao vistas no Norte, justamente por nunca ter me interessado por esse assunto :) Bom sabado!
Tbm adorava olhar as estrelas, mas aqui, ano sei porque, isso nao acontece muito. Mas vc jah ouviu falar do Milky Way?
Quando morava na California, fui apresentada a essa constelacao, achei linda, como o nome mesmo dia, parece um "caminho leitoso".
Mas daqui do Canada eu nunca consegui ver... Porque serah?
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