Não sou budista.
Muito dos meus escritos giram, tive essa impressão agora, em torno de definições daquilo que não sou, como se eu fosse diagnóstico de exclusão. Exclua-se tudo o que não sou e sobrará apenas o que sou. Pensando bem, não é o que acontece com todos nós?
Parece que vamos, ao longo da vida, descobrindo o que não somos ou não podemos ser, excluindo essas partes, ou possibilidades, e nos restringindo a uma ou outra definição e/ou atividade. Vamos, dessa forma, limitando o nosso ser.
Já disse que tenho problemas com isso.
Não gosto dessa ideia, de que devemos, com o passar do tempo, fechar portas a oportunidades e possibilidades na vida. Esse é um preço que obrigatoriamente temos que pagar? Sempre, aliás, há um preço a ser pago por qualquer decisão que tomamos na vida, e mesmo não tomar nenhuma decisão tem seu preço, às vezes até alto demais. Vejo, olhando retrospectivamente, que paguei um preço mesmo por me questionar sobre tudo isso, mas esse é um assunto que já resolvi comigo, com o qual estou em paz.
Dizia eu, então, que não sou budista.
Não trabalho bem com a ideia da impermanência, de que tudo é transitório, inconstante e tende a acabar, no sentido em que confessadamente demoro a aceitar algumas dessas situações, principalmente com pessoas. Sou apegado, confesso.
Pessoas que em algum momento fizeram parte da minha vida, e com as quais compartilho boas histórias, tenho boas lembranças, em um primeiro momento não deveriam – e não falo em geografia - se afastar, não deveríamos nos afastar. Pensamento infantil, eu sei, mas sou uma alma primitiva, infantil. Por outro lado, tenho claro, mesmo que eu demore um pouco a aceitar, e aí é meio que budista mesmo, que isso é inevitável e que as pessoas mudam, e que não são mais as mesmas que eram quando vivemos nossas histórias juntos.
E lembro Guimarães Rosa: “Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.
Até.