terça-feira, fevereiro 04, 2025

Caminhando na praia

Praia já não é minha praia.

 

Como diz a música do Duca Leindecker (“... Eu volto pra lembrar / Que a gente cresceu / Na beira do mar...”), crescemos na beira do mar no litoral norte do Rio Grande do Sul, em Imbé, com a Turma do Muro, nossa turma de verão cujo ponto de encontro era no muro da casa do Adriano, do outro lado da rua da casa da Stefania. Já falei várias vezes disso, mas – desde que nossa casa da praia foi vendida, há mais de dez anos - não passo mais por aquele local, porque perdeu o sentido, pois as pessoas não estão mais lá.   

 

A rotina de praia naqueles anos de adolescência era de acordar mais ou menos cedo, hábito que mantenho até hoje, e – após o café da manhã – ir caminhar na praia por cerca de uma hora e na volta ir diretamente jogar vôlei com um grupo de idades variadas, em que era dos mais novos, por mais um tempo, antes ainda de encontrar os amigos. Volta para casa, almoço e um pequeno descanso.

 

O final de tarde era reservado para o futebol de pés descalços na grama do campo da casa do Pimenta, ao lado na casa do Adriano, onde passamos a jogar quando atingimos idade para jogar com os mais velhos. A volta para casa era após o pôr do sol, para o banho e jantar, antes de sair para a noite, que – quando éramos mais novos - encerrava quando o meu pai nos chamava com o seu assobio característico. Depois de uns anos, não havia mais a necessidade do assobio, e não havia mais hora para a noite encerrar.

 

Circulávamos, então, pela noite caminhando, algumas vezes pegávamos carona, de um lugar a outro, em grupo, e muitas histórias temos desse tempo, momento de construção de solidificação de amizades que persistem fortes até hoje, mesmo que a distância geográfica e as atribuições da vida tornem os encontros mais espaçados, com frequência menor que gostaríamos, mas é da vida. Uns se perderam pelo caminho, se afastaram, e a conexão de certa forma se perdeu, o que também é da vida.

 

De volta ao presente.


Os dias das curtas férias de verão seguem, e temos caminhado, a Marina e eu, pela praia, aqui em Atlântida. Apostamos entre nós se vamos encontrar alguém conhecido durante a caminhada, o que tem acontecido. O engraçado é que me vejo caminhando pela beira da praia em um lugar que não é onde por anos caminhei, cujas referência geográficas eu conhecia praticamente de olhos fechados, e que – durante um tempo – também reconhecia as pessoas que estavam lá. 

 

Após um tempo, logo antes de nossa casa ser vendida, caminhar pela praia de Imbé tornou-se uma atividade estranha, e era o começo do fim da minha história lá, pois apesar de as referências geográficas serem as mesmas, as pessoas que importavam já não estavam lá.

 

E elas são o mais importante da vida.


Até.