quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Apagando a Memória?

Ainda sobre a praia.

 

Como já contado aqui inúmeras vezes, há pouco mais de dez anos foi vendida a nossa casa da praia em Imbé, litoral norte do RS. Admito que – mesmo sabendo que ir para lá já não era a mesma coisa que antes, porque faltavam as pessoas, a Turma do Muro – demorei um tempo para assimilar a perda. Digamos que fiz um luto prolongado.

 

Que passou, devo dizer.

 

O engraçado é que ainda – volta e meia – sonho com a casa, mas, atualmente, mesmo em sonho sei que foi vendida e não faz sentido continuar nela. Esses dias mesmo, sonhei que havia sido reformada e me perguntava, no sonho, por que reformar se a casa não era mais nossa? 

 

Após a venda, meio que virou uma tradição nossa, aqui em casa, quando passávamos pelo litoral, ao menos passar pela frente da casa, olhar como estava. E era sempre frustrante, porque ela tem, desde a primeira vez que passamos por lá após a venda – acho que uns três anos depois – a mesma aparência de desleixo, de estar mal cuidada. A grama alta, as plantas na frente não podadas, sempre um carro com aspecto de abandonado no pátio. 

 

O que talvez fosse bom, afinal se ela estivesse com o mesmo aspecto de quando éramos os proprietários, de quando meu pai cuidava de tudo com dedicação, provavelmente sentiríamos a perda por mais tempo. Do jeito que estava, já não era a casa em que passamos os verões de nossa juventude, vamos dizer.

 

Da mesma forma com tudo em torno da casa.

 

O Muro do Adriano não existe mais, a casa do Titico não é a mesma desde que a antiga casa pegou fogo, a casa da Stefania virou um sobrado com quartos para alugar. A rua se tornou progressivamente comercial, e na esquina, três terrenos de distância da que era nossa casa, há uma grande empresa de segurança. Aquele trecho da rua, onde passamos nossos verões, não existe mais da forma que era, evidentemente.

 

Mas faltava o tiro de misericórdia, meio que para definitivamente acabar com qualquer ligação que ainda pudéssemos ter com aquele lugar: mudaram o nome da rua. Crescemos naquele trecho da Av. Rio Grande entre as avenidas Santa Rosa e Garibaldi, quase na Garibaldi, perto do Castelinho. A Avenida Rio Grande que iniciava na Ponte do Rio Tramandaí e seguia paralela ao rio até a Barra, e daí em direção norte, agora não se chama mais Av. Rio Grande, descobrimos ontem. Mudaram o seu nome.

 

Agora é Av. Nilza Costa Godoy.

 

Estão, diria o meu eu paranoico, tentando apagar o nosso passado. Não conseguirão, no fim. Porque o que importa são as histórias, e as pessoas.

 

Até.