Somos, ao longo da vida, diferentes personas.
Personagens que criamos e representamos em diferentes momentos da vida, feitos em boa medida para nos adaptarmos ao ambiente de convívio, para sermos aceitos em grupos, inclusive. Comigo, ao menos, foi assim.
Não é um caso de múltiplas personalidades, mesmo que eu tenha – durante um tempo, e de forma didática para entendimento próprio – atribuído nomes diferentes ou, melhor, variações do meu nome para cada uma dessas personasque transitavam nos diferentes ambientes por onde eu circulava. Não vou detalhar aqui como era isso, até acho que até que já escrevi sobre, mas não lembro se publiquei ou não, não importa.
Em algum momento de um passado já distante, contudo, eu criei, e não sei nem se esse é o termo mais adequado, provavelmente imaginei, um ‘Eu’, um ‘Marcelo’ ideal, algo do tipo quem eu gostaria, ou deveria, ser ou me tornar. Mais, como se eu tivesse sido essa persona e, por alguma razão, tivesse deixado de ser, tivesse perdido o jeito.
Tivesse me perdido.
E procurei por essa versão ‘mítica’ minha, que certamente eu havia criado em minha imaginação, por um bom tempo. Queria voltar a ser quem eu nunca havia sido, uma estranha sensação, similar a sentir saudades dos ‘carnavais de um tempo em que não vivi’. Procurava alguém que nunca havia existido. Procurava voltar a ser quem eu nunca havia sido.
O curioso, e fascinante, a meu ver, é que nessa procura por essa versão idealizada minha (o que não quer dizer uma versão perfeita, que fique claro) que evidentemente não existia, venho me aproximando (e esse é um processo que continua, a work in progress) disso, me aproximando dele.
Me tornei, estou me tornando, quem eu deveria ser.
Até.