Religião é um assunto de foro íntimo de cada um.
Por isso respeito todas as diferentes religiões e credos. Cada um acredita naquilo que mais lhe conforta, que mais traz paz interior. Não acho que uma seja melhor que a outra e que nenhum deus tenha preferência sobre qualquer outro. Aliás, é querer obrigar os outros a seguir as mesmas crenças o que torna a religião motivo de tanta intolerância e sangue derramado.
Apesar de respeitar todos os credos, como falei, para algumas coisas eu não tenho paciência nenhuma. Mais, não só não tenho paciência como – confesso – fico intolerante.
Acho religião importante, sim, mas num nível pessoal. É, religião é um assunto pessoal, individual. Mesmo que milhares de pessoas sejam da mesma religião, compartilhem experiências, frequentem igrejas, ou templos, juntas, ainda assim é assunto que diz respeito a cada um. Por isso que religião não pode jamais se misturar com o estado. Porque não dá certo, simples. Há um movimento nos Estados Unidos tentando isso, inserir religião nas coisas do estado, e isso é um erro gigantesco. Mas, deixa para lá, não é disso que quero falar.
Como acredito que religião serve, além de meio de se alcançar conforto e paz espiritual, também, de certa forma, como guia de condutas morais, também não aceito que se “intrometa” em um outro assunto que não diz respeito a ela: a vida, no sentido biológico, das pessoas. E vocês estão começando a entender onde quero chegar.
Como no caso não tão recente assim (mas ainda desse ano) da americana Terri Schiavo, que vivia em estado vegetativo irrecuperável há anos e que o marido queria a suspensão do suporte de vida, e choveram protestos de grupos dito em favor da vida protestando contra. Falei sobre isso na época, acho que tinha de suspender sim, se fosse comigo eu gostaria que fizessem o mesmo.
Agora, no Brasil, caso não exatamente igual está acontecendo, e vem aí mais uma batalha judicial (certamente não tão longa quanto à americana) envolvendo o assunto, que chamam de eutanásia: em São Paulo, um pai vai recorrer à justiça para suspenderem o suporte de vida ao seu filho, João, de 4 anos, vítima de uma síndrome degenerativa incurável. Reproduzo abaixo, trecho da notícia que saiu no Terra:
"Segundo o jornal Comércio da Franca, que revelou o caso à imprensa, ele é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos. João ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas".
Precisa dizer mais alguma coisa? Só para reforçar, então: é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos… ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas.
Bom, a mãe é contra. O que ela diz?
"Esse garoto é a minha vida. (...) Eu tenho fé, acredito na força de Deus e sei que Ele vai salvar meu filho".
Pois é. Complicada a situação, admito. Ambos, o pai e a mãe, amam o seu filho, sem dúvida, mas não posso deixar de me posicionar do lado do pai. A pobre criança está sendo mantida viva com ajuda de aparelhos, não tem vida de relação. Em termos práticos, está morta. A mãe não aceita, é compreensível e é parte do luto a negação. Amar, contudo, às vezes é deixar a vida seguir seu curso.
O que não consigo aceitar bem é que o caso virou uma polêmica, e aqueles “a favor da vida em qualquer situação” (SIC) se utilizem do nome do seu deus para condenarem o pai dessa pobre criança que também a ama e só quer que ela não sofra. Dizem que só deus pode tirar a vida de alguém. Seguindo este raciocínio, só deus poderia manter a vida, e suporte artificial de vida deveria ser “pecado”. Não faz sentido?
Até.
2 comentários:
Eu acredito que Deus deu ao ser humano inteligencia para ser usada. Acredito tambem que Deus salva. Mas o que vem a ser essa salvacao? A cura? A saude? Sim, por vezes a salvacao se manifesta dessa forma. Por outro lado essa salvacao pode ser a presenca dessa crianca com Seu Criador, Deus.
Shirley A.
Eu lembro que fiquei TOTALMENTE contra quando queriam desligar os aparelhos da Terri...ate voce me explicar direito como era a situacao dela. Ai eu abri mao e achei melhor desligarem logo.
No caso do menininho eu tambem acho que deviam desligar, ninguem merece viver(?) dessa forma nao.
Mas ao mesmo tempo...
Se fosse alguem da minha familia como meus pais, ou irmao ou ate o Michael....ia ser MUITO dificil deixa-los. Marido ja me falou que se chegar nesse caso, quer que eu desligue. Eu falei que nao desligo. Acho que ele vai ter que passar esse "poder" pro irmao dele, porque eu realmente nao desligaria, porque ia querer ter ele ali perto de mim, mesmo naquela situacao. Mas e uma coisa egoista.
E muito complicado. Eu nao opino mais nesses assuntos :(
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