Há vinte e um anos, tive uma epifania.
Não foi a única, talvez não tenha sido nem a primeira, e muito menos foi a última, pois - de tempos em tempos – sou ‘assaltado’ por uma revelação, percebo algo que talvez estivesse o tempo todo em minha frente, óbvio, e eu não percebera até aquele momento. Um detalhe do mundo, a verdade por trás das aparências, como quando revelo ao paciente que vacinamos para influenza anualmente não para evitar a infecção, mas para que não morramos da pneumonia que vem depois.
Há vinte e um anos, dias após chegar sozinho em Toronto e começar a organizar minha vida por lá, percebi, ou reforcei o conhecimento, da importância da rotina (e das gavetas) em nossas vidas. O quão importante é termos um procedimento padrão para as atividades de vida, uma previsibilidade. Fornece segurança, fornece paz.
As espontaneidades, o improviso, o nadar contra a corrente, tudo ótimo, tudo maravilha, mas – com o tempo – consome uma energia grande. Nada contra, aliás, ao contrário, mas – convenhamos – cansa. A rotina entra aí como um cobertor quentinho em uma noite fria: nos dá conforto.
Por isso que sair dela, algumas vezes atrapalha a vida, por melhor que sejam as suas intenções e objetivos. Não tem problema, de verdade, mas – sim – deixo tudo meio confuso.
Como quando ocorre um evento cedo da manhã e não consigo escrever minha crônica diária no horário habitual.
Até.