No Brasil, falamos português.
Em cada canto do nosso continental país, contudo, fala-se um "dialeto" diferente. O português que se fala no Rio de Janeiro é diferente - não só a pronúncia, mas o uso de expressões, gírias, etc - daquele que se fala em Tocantins, por exemplo. Assim como o de São Paulo é diferente do da Bahia, ou Ceará ou do Paraná. Eu, que sou do sul, gaúcho, além de falar um português local, falo também porto-alegrês, "dialeto" bem característico. Existe até um 'Dicionário de Porto-Alegrês', do professor de literatura Luís Augusto Fischer (Ed. Artes e Ofícios, 1ª edição, 1999, Porto Alegre).
Estava em casa arrumando uns livros e me deparei com ele. Decidi, então, compartilhar com vocês um pouco do porto-alegrês, até para poderem me entender quando falo (aqueles que não são meus conterrâneos). Começamos com 'Umas Palavras', o prefácio do livro, na visão do próprio autor:
Este Dicionário de Porto-Alegrês é impreciso, precário, perecível, incompleto e várias vezes arbitrário. É que é um dicionário, e portanto igual a todos. Só que este aqui está dizendo isso tudo de cara, na primeira linha, meio como defesa do material que aqui vai, meio como constatação, e outro impossível meio para explicar o inexplicável: Porto Alegre não tem turistas, e os habitantes de Porto Alegre não têm maior problema de falarem a língua portuguesa à sua maneira. Então para que raios pode servir um Dicionário de Porto-Alegrês, se nem para foram nem para dentro ele será um dicionário, isto é, um livro a que se recorre para sanar dúvidas de significados ou grafias corretas ou consagradas? Eu não sei.
E tem mais uma mentira: este dicionário não é de Porto-Alegrês, mas de porto-alegrês. Certo que não é um dicionário de gauchês, que é outra língua, aquela falada originalmente na Campanha e nas Missões, que passou para a literatura com a obra de gente como Simões Lopes Neto e hoje em dia vive no imenso campo do tradicionalismo, nos CTGs e em inúmeras manifestações. Mas de todo modo é mentira que o dialeto (e é um dialeto?) aqui registrado seja exclusividade de Porto Alegre, aquela cidade, esta cidade. A rigor, pelo menos em todas as cidades da região metropolitana uns mais ou menos quatro milhões de bocas falam esta língua.
E te mais outra: os termos que compõem este Dicionário não são, em larga medida, exclusividade sequer do Rio Grande do Sul. Muitos freqüentam a linguagem de várias outras paragens do país, e outras paragens fora do país, nesse caso pertencentes a outro grande país, este que Ángel Rama algumas vezes chamou de Comarca do Pampa - cujos epicentros maiores são Buenos Aires e Montevideo e que tem como centro menor, mas importante, a mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre. De forma alguma o consulente (esse é o nome de quem consulta) encontrará aqui muita coisa já dicionarizada, e eu tentei registrar essa circunstância sempre que foi possível.
(...)
3 comentários:
Eu adoro ouvir o porto-alegrês, soa como música. Bem que vc podia colocar aqui algumas palavras típicas .... bjs,
Tu tens o sotaque do Sul, guri?!
Eu acho lindo!
Tu falas lei(n)te queente???
Gostei do primeiro paragrafo do autor.
BYE
Postar um comentário