domingo, abril 03, 2005

A Sopa 04/37

A minha viagem para Porto Alegre não foi apenas a passeio.

Eu fiz o translado da boneca morta.

Enquanto o carro avançava por Toronto em direção ao aeroporto, eu e a minha carona providencial conversávamos generalidades sobre a vida no Canadá, Toronto em especial. E nos contávamos histórias.

A Adriana - minha carona - também é de Porto Alegre e imigrou para o Canadá. Estava separada do marido, conheceu e casou com o Brian, que é canadense. Por isso, imigrou. Como tem duas filhas, que não puderam ir junto num primeiro momento, ficou mais ou menos na ponte aérea Toronto - Porto Alegre.

Imagino como deve ser difícil. Mas, sempre que pode, ela vem à Porto Alegre e nas férias as gurias vão para lá. Foi nas últimas férias em que estavam em Toronto que as conheci, assim como à Adriana. Foi num sábado final de tarde em que fui tomar chimarrão com ela e com o Diego (que está de volta à Porto Alegre, já PhD e professor da ULBRA) e que se transformou em janta e conversa boa de muitas risadas e histórias até o início da madrugada seguinte.

Alguns dias antes da minha viagem, em conversa via e-mail, ela perguntou de eu poderia levar comigo o presente de Páscoa das filhas. "Em troca", ela me levaria até o aeroporto. Disse a ela que tudo bem, desde que o presente não fossem bicicletas... Apenas chocolates, respondeu ela, e claro que não foi problema.

Íamos, então, em direção ao aeroporto e conversando sobre a vida, até que - de passagem - ela falou na boneca morta, e eu lembrei dela daquele sábado em fui na sua casa: uma da filhas tinha me mostrado uma pequena boneca vestida de noiva e com o rosto coberto por sangue, morta, enfim. O seu nome, bem adequado, Dead Doll. Pois é, me contou a Adriana que a boneca tinha ficado porque a dona, uma de suas filhas, tinha ficado "com receio" de levá-la no avião... E quando soube que eu transportaria o presente de Páscoa delas, pediu que junto fosse a boneca morta. A Adriana perguntou se não me importava de levar. Claro que não, respondi.

Mas foi inevitável pensar que se acontecesse alguma coisa com avião, caísse, por exemplo, eu já tinha a quem culpar. Bom, mas se o avião caísse, eu não ia precisar culpar ninguém...

No aeroporto, esperando a hora do embarque, esqueci da boneca morta. Só fui lembrar dela na hora em que o avião tocou o solo em São Paulo, no sábado pela manhã. O meu santo é mais forte que o da boneca morta, pensei. Mas aí lembrei que ainda faltava o trecho para Porto Alegre. A Boneca ainda podia vencer...