sexta-feira, abril 15, 2005

Sono

Tenho sono, muito sono.

Ainda quando estava no primeiro ano da faculdade de medicina, numa das aulas de anatomia do sábado de manhã, não sei por quê, tive a idéia de uma história que se chamaria “O Homem e seu Cérebro”. Falaria sobre um cara que começa a ser sabotado pelo seu próprio cérebro. Começa a esquecer coisas importantes apenas por um capricho de sua massa encefálica. Ao se dar conta, marca consulta com um neurologista, mas esquece. Vira refém do seu próprio cérebro.

História não foi muito além disso, outros interesses me desviaram dela, tanto que só fui lembrar da idéia bem recentemente. Não tinha futuro, afinal nós somos o nosso cérebro. Nós somos o que pensamos, nós pensamos o quê e quem somos. Podemos ser reféns de nós mesmos? Até podemos, mas para falar disso eu teria que entrar no ramo da auto-ajuda e da neurolingüística. Não é o meu objetivo. O que quero é fazer uma confissão.

Sou refém do meu relógio biológico.

Tenho sono, muito sono. À noite, normalmente. Depois da meia-noite, mais freqüentemente. E acordo, de manhã, sempre. Estranho, não? Ter sono à noite e acordar de manhã. Mas é o que acontece comigo, invariavelmente. Independente da hora que vou dormir, acordo cedo. Principalmente quando não preciso, o que enlouquece as pessoas para quem conto esse fato. Sábado de folga, depois de um festão na sexta à noite, lá estou acordado as sete da manhã. Fui dormir às 5h? Acordo à 8h30. A vantagem é que não preciso de despertador. Se quero acordar às 6h40, desperto espontaneamente neste horário. Como disse, um relógio.

Até este ponto, tudo bem. Os incômodos e as situações embaraçosas acontecem à noite, quando o meu corpo, esse receptáculo do meu cérebro e tudo o mais, resolve que é hora de ir dormir e estou em algum evento social. Jantando na casa de amigos, num bar conversando, chega um determinado horário, que para mim é incerto, e durmo. Chato, mas inevitável. Muitas pessoas não entendem, até se ofendem. Mas, explico, é involuntário, é ele quem está no comando, o relógio biológico. Vivo a ditadura de ter hora para dormir e acordar, como se ainda tivesse cinco anos de idade e, o que é pior, não tenho nem contra quem me rebelar. É o fim.

(Texto publicado nos primórdios do blog...)

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