Quando saí do hospital, estava nevando.
Ainda timidamente, sim, mas definitivamente neve. Não vai durar muito, nem vai ser muita. Mas é o aviso claro e límpido: o inverno está ali, pertinho, não adianta tentar negar.
Vim direto para casa pensando na vida, na passagem do tempo, que foi rápido o verão e o inverno vai se arrastar por aquilo que vai parecer uma eternidade. Paciência, é a vida.
Tinha até pensado em pegar a máquina fotográfica e tirar fotos da primeira neve aqui no High Park. Mas, ao chegar em casa, protegido pelo aquecimento, só de meias, as botas junto à porta, desisti. Fui até a janela e, usando o zoom, tirei algumas fotos daqui de cima. Depois, fiquei olhando pela janela o cair da noite, em silêncio, o chimarrão, eu e a música que vem do Pampa.
Milonga de Sete Cidades (a Estética do Frio)
(Vitor Ramil)
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Milonga é feita solta no tempo
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Em Clareza
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
A voz de um milongueiro não morre
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Concisão tem pátios pequenos
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz
Até.
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