Um dia, todos vamos morrer.
Antes disso, contudo, há um outro marco. É o momento em realmente nos damos conta que um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai acontecer. Quando algum evento acontece, seja ele qual for, e o resultado é que nos surge essa percepção, como uma epifania, o impacto sobre nós é grande.
Memento mori, lembre-se da morte.
Antes de ser um tema sombrio, ou mórbido, esse conceito pode ser visto mais como um lembrete de que devemos priorizar o que é importante, viver com mais consciência, aproveitar a vida que vivemos enquanto pudermos. Nem sempre é fácil, mas esse é o caminho.
Como já contei diversas vezes, eu tive essa percepção ao dezoitos anos, quando do acidente que me fez passar treze dias em uma UTI em coma. Isso há trinta e cinco anos, em um doze de agosto. Alguns meses depois, já recuperado, um dia tive essa ‘revelação’: eu poderia ter morrido aos dezoito anos, sem ter ‘vivido quase nada’, sem ter experimentado uma série de situações que gostaria e deveria viver. A ilusão da imortalidade havia sido desfeita muito cedo.
Foi um processo lento, esse de entender as implicações de me sentir mortal, de saber que os dias estão contados, mesmo que não saibamos quando será o fim. Ainda hoje estou aprendendo, e é um esforço contínuo manter em perspectiva essa ideia, de que é necessário priorizar o que realmente importa na vida, e deixar lado as pequenas questões, os pequenos problemas dos dias.
Voltei a pensar nisso porque acompanhei, nas últimas semanas, um amigo que lida com uma situação de saúde que, mesmo que tratável e curável, o apresentou claramente à perspectiva da morte, sua ou de alguém querido, e pude ver em seus olhos a sensação de desamparo que a consciência da mortalidade traz, mesmo que ele racionalmente já soubesse disso. Quase nunca estamos preparados.
O que nos resta é viver. Aproveitar ao máximo. Com aqueles que nos fazem bem. Enquanto pudermos.
Até.