Outra vez os aeroportos.
Desde que deixei de ser um Viajante Frequente esse tipo de história deixou, por óbvio, de ocorrer frequentemente. Imaginei, então, que por estar em aeroportos apenas muito eventualmente, estaria menos exposto a histórias desse tipo, de situações e dificuldades que depois se tornarão engraçadas com o passar do tempo. Porque o destino dessas histórias é sempre acabar virando piada com o distanciamento temporal.
Estava enganado.
Essa semana que passou estive no Congresso Brasileiro de Asma, DPOC e Tabagismo, que ocorreu em Salvador, na Bahia. Viajei para lá na quarta-feira de manhã, em voo tranquilo pela Azul Linhas Aéreas. O congresso, que assisti na quinta e na sexta-feira, sempre é bom para encontrar colegas, assistir algumas apresentações realmente boas, e fazer network, como dizem.
Organizei minha viagem para ir, assistir ao congresso, e estar de volta em casa no sábado de manhã, para ter o final de semana todo em casa. Assim, quando escolhi e comprei minha passagem, optei pelo voo de volta saindo de Salvador às 2h50 de sábado, para estar em Porto Alegre por volta das 8h da manhã, com todo o final de semana pela frente.
Sexta-feira, após terminar as atividades científicas do dia, voltei ao hotel para descansar e organizar minhas coisas. Deixei agendado um Uber para sair às 0h30 de sábado, apesar dos conselhos de conhecido de não utilizar Uber na cidade por questões de segurança. Tomei banho e fui jantar com colegas.
Por volta das 22h, já estava de volta ao hotel, e ainda pude relaxar um pouco antes de ir para o aeroporto, pois a noite seria de sono entrecortado durante os trajetos Salvador até Viracopos e depois até Porto Alegre. Tudo muito bem organizado porque, assim, vocês sabem, sou alguém organizado e preparado.
Cheguei no aeroporto aproximadamente à 1h, com checkin já feito e assento marcado, e fui para a sala VIP para passar o tempo. No horário próximo ao embarque – que começava às 2h10 – fui para o portão. A estratégia – como de costume – é ser um dos primeiros da minha seção a embarcar para não correr o risco de não conseguir acomodar minha bagagem de mão e ser obrigado a despachá-la. Assim o fiz, ficando próximo ao local de embarque, que não começou no horário previsto.
Foi quando percebi que seria uma (ainda mais) longa noite.
Como a pista principal do aeroporto está em obras de manutenção, está sendo utilizada uma secundária, que é mais curta, entre meia noite e cinco e meia da manhã. Aconteceu que, devido ao vento na hora do pouso, a aeronave que nos levaria para Campinas circulou algumas vezes e acabou indo – por questões de combustível – para o aeroporto de Aracaju, ao norte. Atrasaria tudo.
Mais, TODAS as conexões associadas de passageiros do voo já estavam perdidas, e haveria realocação em outros voos da própria Azul ou de outras companhias. Foi quando começou a confusão no portão de embarque, com apenas dois funcionários da companhia aérea para resolver tudo e lidar com passageiros entre frustrados e indignados.
Assim que começou a se desenhar esse quadro, eu havia, discreta e educadamente, ido conversar com a funcionária de terra que ia ter de resolver isso e perguntado que opção eu poderia ter, já que viajava só e sem bagagem despachada. Ele olhou, viu que tinha um voo da GOL saindo às 5h30 e que poderia chegar em Porto Alegre às 10h25. Topei na hora e ela foi tentar me realocar para esse voo. Não conseguiu, infelizmente.
A atenção no local aumentou, e eu quieto, em pé, ao lado do balcão onde ela estava tentando realocar os passageiros para outros voos e lidando com as reclamações cada vez mais enfáticas de outros passageiros, todos com suas razões e frustrações. Em determinado momento, ela avisou que conseguiria nos colocar, um colega de Santa Maria e eu, em um voo que seria às 7h20 e chegaria em Porto Alegre às 12h45, mas que não comentássemos nada, porque todos os outros com destino a Porto Alegre teriam de embarcar em um voo direto às 14h50 (!). Concordei e continuei esperando ela ter o localizador da GOL.
Por volta das 5h, depois de mais de duas horas de atrasou, saí da área de embarque, fui até o setor de checkin da GOL, e confirmei o meu assento no voo que sairia (e saiu) às 7h20. Voltei para a sala VIP (segunda entrada), onde tomei café da manhã antes de embarcar.
Peguei no sono, após vinte e quatro horas acordado, antes do voo decolar. Quando percebi, estávamos pousando em Congonhas. Tudo certo até ali. Conexão mais ou menos curta, fui direto de um portão até o de embarque. Como havia comprado assento conforto, me posicionei como o primeiro a embarcar após as prioridades. Meu assento, o 3D. Tudo certo até ali.
Quando a última passageira das prioridades passou, ouvi o funcionário da GOL passando para ela o que entendi que era o assento 3D, o meu. Esperei para ver. Ao chegar na aeronave, vi que o assento dela com um filho pequeno e agitado (como toda criança pequena de seus 2 ou 3 aos, mais ou menos) estavam no meu lado. Tudo bem. Durante o embarque, o passageiro da janela na nossa fileira chegou com um cachorrinho em uma bolsa.
Só que exatamente em frente ao assento dele, havia uma passageira também com um cachorro, e começaram a latir enlouquecidamente. Com o argumento de que éramos cinco da fila, três adultos, uma criança e um cachorro, a comissária trocou a mãe com a criança e o rapaz com o cachorro para outros assentos. Acabei ficando no assento do corredor, um assento vago no meio e um outro passageiro na janela. Tudo estava pronto. Coloquei o fone de ouvido com isolamento de ruídos externos, coloquei um música tranquila, e relaxei. Foi providencial o isolamento de ruídos, porque os cachorros latiram em toda parte final de voo...
Agora era só chegar em casa e tentar me recuperar da noite em claro no aeroporto. E torcer para não precisar de aeroporto por alguns meses...
Até.