Ando sentimental, eu sei.
E sei qual a razão, e você certamente já percebeu, caro leitor: a lembrança de uma data significativa em minha história pessoal, a marca de trinta e cinco anos do acidente de trânsito em que estive envolvido, em agosto de mil novecentos e noventa. Lembrar disso traz outras lembranças também, em uma espiral de memórias quase contínua. Episódios ocorridos e pessoas.
Ontem à noite, por exemplo, ao ir buscar a Marina em uma aula, comecei a ouvir no carro músicas da Legião Urbana, que há tempos não fazem parte do que ouço regularmente em termos de música, tanto como trabalho (e agora trabalho também com música) ou como lazer. E, talvez pela primeira vez, ouvir algumas delas teve o mesmo efeito de viagem no tempo que as músicas do Cazuza, em especial aquelas do disco ‘Ideologia’, causam em mim. A diferença, e esse efeito continuou hoje cedo, enquanto dirigia para o trabalho, é que é de um tempo diferente, a música me transporta para outro momento no tempo.
Lembro de quem eu era, ou pensava que era, e quem eu gostaria de me tornar. O quê eu buscava, quais eram minhas ambições em termos de vida. Ao mesmo tempo, em tempo real, quase continuamente, faço essa reflexão, olhando quem sou e onde estou hoje.
O que o Marcelo de treze anos de idade diria para o Marcelo de cinquenta e três anos? E o que o Marcelo de oitenta dirá do Marcelo de hoje?
Depois de muito ‘correr na roda’, aquela dos ratos na gaiola, que correm sem sair do lugar, sem chegar a lugar nenhum, agora tenho tempo (e talvez maturidade) para pensar o caminho, ter um propósito, um sentido que não seja apenas correr.
Até.