Vinte e nove anos.
Era sábado, e chovia. O último dia do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e seis. O padre, quando fui marcar o casamento na igreja, comentou que ninguém se casava em agosto, porque as pessoas acreditavam que dava azar. Respondi que a festa ia terminar em setembro e, por isso, estávamos, a Jacque e eu, imunes ao dito azar de mês de agosto.
Naquela época eu já superara diversas superstições, esses pensamentos mágicos e crenças que as pessoas entendem como verdade e que podem algumas vezes prejudicar suas vidas. A história do mundo está cheia de exemplos de pensamentos irracionais que mataram pessoas.
Mesmo com a evolução do conhecimento, a ciência sendo capaz de explicar os fenômenos naturais, ainda há pessoas que se ‘agarram’ a crenças diversas, pensamentos irracionais. O mais próximo e atual, por exemplo, tem relação com vacinas, que são uma das poucas descobertas que realmente mudaram o mundo para melhor, mas não vou entrar nessa polêmica (que não existe, na verdade).
Falava da crença de que o mês de agosto era um mês maldito. Sei que já falei disso, mas parte dessas crenças está associada ao fato de que – na época das grande navegações e descobertas – as expedições partiam no início de setembro para buscar novos mundos, e nunca sabiam se iriam conseguir retornar. Por isso, ao se casar em agosto, assumia-se o risco de a esposa ficar viúva pouco tempo depois, então evitava-se esse casamentos nesse mês. E a crença persistiu nos séculos seguintes.
Eu, do meu lado, implicava com agosto porque – após dois meses de inverno, junho e julho – ainda teríamos o mês de agosto frio e úmido, antes de entrar setembro e sua promessa de dias longos e temperaturas mais amenas. Quando foi em uma noite de agosto em que houve o acidente em que me envolvi e me deixou na UTI em coma por treze dias, reforcei essa minha crença.
Quando fomos marcar o casamento, já não me preocupava com isso. Choveu no dia, a festa foi até a madrugada de primeiro de setembro e estamos há vinte e nove anos juntos. A Marina, nossa filha, nasceu em um agosto alguns anos depois, reforçando que esse é um ótimo mês.
E assim vai a vida.
Muito bem, obrigado.
Até.