Anticlímax.
Eu passei no vestibular para Medicina na PUCRS em janeiro de 1989. Por ter feito curso secundário técnico, pela menor ênfase às disciplinas habituais e que eram importantes para o concurso que dava acesso à Universidade, o ano de 1988 havia sido de curso pré-vestibular, só que para aprender muito mais que revisar determinadas matérias.
Muito mais por não estudar tanto quanto deveria do que por uma formação mais precária, acabei não passando no vestibular da UFRGS, bem mais disputado e difícil na época por, além de tudo, ser Universidade pública e gratuita, como diziam da UFRGS. Com relação ao vestibular da PUCRS, acabei passando em primeira chamada.
O resultado, na época pré-internet, saia no rádio (e lembro bem da leitura do listão da UFRGS na rádio em pleno janeiro, às vezes em um domingo de praia), no jornal ou tinha as listas de aprovadas divulgadas nos cursos pré-vestibulares, fixadas nas paredes. Então, íamos para a frente dos cursinhos aguardar a divulgação das listas.
Em janeiro de 1989, ainda sem saber se passara no vestibular da PUCRS, fui com alguns amigos esperar o resultado em frente a uma das sedes do Universitário, que eu havia cursado, que ficava na Praça Conde de Porto Alegre, no Centro. Ficamos ali, aguardando até que foi divulgado. Fui até as listas, atrás de, na esperança de ler o meu nome. Não estava na lista.
Eu não havia passado no vestibular.
Frustrado, me afastei do local enquanto os outros procuravam seus nomes em listas, já antecipando o ano que viria, de estudo e – planejava, imaginava – até trabalho. Paciência. Repensaria minhas opções, teria tempo, afinal havia entrado precocemente na escola, estava um ano adiantado, ao menos.
Fiquei um tempo ali, pensativo, até que decidi ir embora. Antes de sair, já com pouco movimento, afinal os aprovados tinham migrado para outros locais para celebrar, fui dar mais uma olhada na lista. E, para minha surpresa, encontrei o meu nome entre os aprovados.
Eu havia passado!
Vibrei, claro, praticamente sozinho. Não houve grande festa no local, apenas a satisfação do dever cumprido. Foi muito boa a sensação. Mas havia perdido o timing da celebração efusiva com o grande grupo de aprovados. Como falei, a sensação de um anticlímax.
Uma sensação que, confesso, tive em outros momentos da vida, e me preocupava o que me parecia ser uma tendência a me sentir vivendo uma vida morna, sem grandes emoções. Após essa sensação, esse temor, decidi tomar uma atitude.
Fazer o possível para viver grandes emoções, picos de felicidade. Com a família, com amigos.
Até.