Demorei muito a sair do armário.
Por insegurança, por medo da falta de apoio daqueles que deveriam me dar suporte, talvez por preconceito meu, não importa muito a razão. O fato é que eu relutava muito em me assumir, mesmo sabendo desde sempre quem e o que eu era. Até que um dia, quando me senti pronto, assumi para o mundo.
Sou um escritor.
A literatura, é uma das minhas paixões da vida. Li muito na vida, passei muito tempo sem dedicar tempo a isso, e há cerca de um ano consegui colocar novamente na minha rotina diária a leitura, não só de livros e textos técnicos, mas de literatura mesmo. Estou relendo alguns livros lidos há muitos anos, lendo outros que havia comprado e ficaram parados por tempo demais na pilha dos livros a serem lidos, estou lendo livros novos. Foi também uma forma de me reconectar com quem eu nunca deveria ter perdido contato: o meu eu leitor.
Também foi determinante nesse processo de me assumir escritor para o mundo o fato de ter publicado o meu primeiro livro, ano passado, e o segundo esse ano, recentemente. Tipo cartão de visitas, algo como ‘eu não apenas me considero, eu sou, olha só, publiquei’. Falando deste novo livro recém-publicado, ‘Eu Pai, Eu Filho’, tenho recebido alguns retornos bem legais a respeito, o que me deixa bem feliz. De verdade.
Tem mais, contudo.
A música.
Hoje em dia, me sinto confiante em dizer que sim, eu sou músico. Em formação, mas músico. Aprendiz, mas músico. Humildemente, mas progressivamente mais confiante em dizer que estou aprendendo e me esforçando.
A ideia de ir acrescentando valências, habilidades, àquelas que já possuo e possuía, de forma a não estagnar, não ficar parado no tempo, não ficar - como disse Raul Seixas - “sentado no trono de um apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar, porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais, no cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonoro de um disco voador"...
Até.