quarta-feira, setembro 11, 2024

Gafanhotos

É um assunto recorrente. 

Não necessariamente de meus escritos, mas de uma determinada faixa etária vivendo em um determinado ambiente de um determinado (específico, pode-se dizer) extrato socioeconômico do qual mais ou menos faço parte aqui no Sul do Mundo. Falo da experiência (ou das experiências) no litoral gaúcho.

 

Como já disse em outras oportunidades, os verões no litoral norte do Rio Grande do Sul tiveram importância fundamental na minha formação como pessoa, e amigos da época em que passávamos os verões na praia o são até hoje. Éramos uma família de classe média, minha mãe professora e no final de dezembro íamos para o Imbé/RS e ficávamos até depois do carnaval. A convivência com a turma de amigos era intensa, e as histórias são muitas. Tínhamos a liberdade de circular livremente por lá, desde que estivéssemos em casa na hora das refeições, muitas vezes lembrados desse fato pelo assobio característico do meu pai. 

 

Eram outros tempos, claro.

 

E com o passar dos anos, tudo mudou, todos mudamos.

 

A característica do chamado veranear (verbo com significado de passar o verão) mudou, por questões de tempo (quem tem dois meses para passar na praia hoje em dia?), de segurança, e até econômicas (manter uma casa fechada por quase dez meses para uso apenas em janeiro e fevereiro é bem caro). Em meio a tudo isso, surgiu o fenômeno dos condomínios fechados no litoral, uma forma de – de certa maneira – criar a atmosfera do passado em termos de segurança, ao menos.

 

E com a estrutura e o conforto da cidade. Com isso, as pessoas acostumaram-se a frequentar o litoral o ano inteiro, as crianças recuperam a liberdade de circular “soltas” com segurança relativa pelos condomínios. Claro que isso tudo com um custo, que não pequeno, claro. Financeiro e geográfico: a maioria desses condomínios fica longe do mar, em tese o objetivo de se ir para a praia. Por isso a máxima, criada por mim até onde lembro, de que quem gosta de praia tem casa de rua no litoral. Os outros não vão para a praia, vão para o seu condomínio.

 

E está tudo certo.

 

Mas dizia que era recorrente o assunto porque ontem ao chegar na Associação dos Médicos do Hospital da PUCRS para um café logo após o almoço, estavam falando sobre esse tema, e sobre as movimentações noturnas do litoral em décadas passadas. Da migração das noites de verão de uma praia para outra com o passar do tempo. Foi quando contribuí para o tema com a minha teoria da juventude como uma nuvem de gafanhotos.

 

Fica para outro dia.

 

Até.

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