segunda-feira, setembro 02, 2024

Os Fakes

Já não tenho a visão perfeita.

 

Lembro ainda, há muitos anos, quando eu afirmava, por certeza, que tinha “olhos de lince”, ou seja, visão apurada, irretocável. Era uma característica minha, uma altura boa (mais de um metro e oitenta) e ótima visão. Era praticamente um posto de observação. Até que um dia descobri que não, minha visão já não era tudo isso.

 

Miopia.

 

Colocar óculos foi uma revelação, o mundo voltou a ter cores, o verde era mais verde e coisa e tal. E não tive problemas com isso. Me adaptei facilmente aos óculos e às lentes de contato (que usei até não poder mais por indicação médica). Como meu grau não nunca foi muito alto, algumas vezes até sem os óculos ficava bem (é assim até hoje).

 

Mas o tempo passou, e um fenômeno (vou chamar assim) de nome presbiopia aconteceu: minha visão para perto começou a progressivamente a piorar, a ponto de precisar de óculos de leitura para uso diário. Também tudo certo, sem problemas, exceto quando recebo a conta em um restaurante à noite, com pouca luz, porque aí é impossível ler o que está discriminado na mesma, o que motivou a decisão de andar com óculos de leitura comigo para essas situações.

 

Em resumo, então, minha visão é boa apenas para médias distâncias. Para longe ou perto, preciso de óculos. O que me causa situações – ao menos – engraçadas.

 

Como quando encontro os fakes de conhecidos.

 

Como parte das minhas atividades físicas, enquanto estava sem poder pedalar aos finais de semana (desde a queda e o braço quebrado e depois aguardando um checkup que estou fazendo), eu passei a fazer caminhadas nos finais de semana de manhã, quando possível, algumas vezes indo e voltando da academia, outras apenas caminhando. E sempre encontro alguém conhecido. Ou quase.

 

Me acostumei a estar caminhando (sem óculos) e ver, vindo em sentido contrário, alguém que de longe se parece um amigo que costuma caminhar no Parcão e que, quando se aproxima, vejo que NÃO TEM NADA A VER. Como esse evento se repete, e não é sempre a mesma pessoa que se parece com o amigo, me acostumei a dizer que “encontrei” o Fake Pablo. E até quando encontrei o real, fiquei até o último minuto em dúvida entre se era o real ou o fake.

 

No último sábado, vinha eu voltando da academia quando, ao longe, avistei o amigo e colega Amadeu, que volta e meia encontro por lá também. À medida que se aproximava, eu pronto para iniciar uma conversa, lembrei que ele havia viajado na sexta-feira para pescar na Amazônia. Por uns instantes fiquei confuso, até que – próximo a mim – tive a certeza de que não era ele, apesar de muito parecido. Era um fake.

 

Esse mundo está cheio de gente falsa mesmo.

 

Ou eu tenho que passar a usar óculos o tempo todo.

 

Até.

 

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