domingo, setembro 22, 2024

A Sopa

Tenho mais o que fazer, sim.

Mesmo assim, existem diversos temas, assuntos, que ocupam minha mente de tempos em tempos, com uma recorrência maior ou menor, e que me motivam pensamentos e reflexões.

O limbo, por exemplo.

 

Sim, eu sei que não passa de uma hipótese teológica que ganhou ares de verdade por haver sido repetida à exaustão, uma pós-verdade, fake news, se quiserem, até virar consenso. 

 

Ainda assim, o limbo me causa certa angústia de longa data. Encontrei um texto meu sobre isso escrito há muito tempo, logo antes dele deixar de existir. Isso mesmo. O limbo não existe mais, acabou na sexta-feira dia quatro de outubro do já distante ano de dois mil e seis, quando foi assinado um decreto estabelecendo seu fim pelo Papa Bento XVI. O limbo. Acabou. Sabe o limbo? Aquele lugar para onde iam as crianças que morriam sem serem batizadas, e ficavam lá pela eternidade, sem a possibilidade de encontrarem Deus. 

 

Diferente do purgatório, local onde ocorre a purificação que se segue ao juízo particular de cada um e que antecede o ingresso das almas no céu, no limbo não há penas e nem purificação a serem realizadas. O limbo, podemos dizer, ‘não fedia e nem cheirava’... 

 

Para o limbo iriam, imagino, também as pessoas que estavam numa situação assim, nem lá nem cá. Nem no céu, nem no inferno. Não muito felizes, mas também não muito tristes. Aquelas que viviam vidas sem sal, que apenas sobreviviam, enquanto aguardavam o dia do fim. Os comedidos. Pensando assim, o limbo estava cheio de gente. E deve ser por isso que acabaram com ele.

 

Lotação esgotada.


Sempre me perguntei o que acontecia com as pessoas depois que iam para o limbo. Descobri que ficavam lá por toda eternidade, como que boiando em um pântano. O limbo seria o tédio sem fim, um ficar deitado na cama olhando o teto para sempre.  Diferente do que eu pensava, o limbo não era um estágio intermediário, uma transição. Era um destino por si só. Me pergunto, então, o que aconteceu com aqueles que estavam lá quando ele fechou? Foram transferidos para cima ou para baixo com que critérios? Ou ficaram presos ali para sempre (o próprio conceito de limbo)? Alguém, digamos São Pedro, trancou o portão do limbo pelo lado de fora e jogou a chave fora?


Isso nunca foi preocupação para você, estimado leitor?

 

Para mim, foi. Ou não.


Até.

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