domingo, setembro 01, 2024

A Sopa

Sobre a potencial selvageria.

 

Existe uma linha tênue, sutil, uma fronteira que poderia ser facilmente transposta por qualquer um a qualquer tempo e que, caso realmente transposta, a vida em sociedade se inviabilizaria. É a linha que nos torna humanos não psicopatas. 

 

Vinha pensando isso esses dias, naquilo diferencia um psicopata de um não psicopata, e que me parece ser, de forma resumida e simplista, a inexistência da consciência da consequência, ou, melhor, a necessidade urgente de satisfazer um desejo (mórbido ou não) e não existir o depois. A não existência do ego e do superego. O psicopata cruza essa fronteira entre a civilização e a barbárie sem maiores preocupações (sem perceber?) com o que poderá acontecer. Mas não só isso.

 

Estamos sempre transitando próximos a essa fronteira, mesmo que não nos demos conta, em múltiplas situações diárias, corriqueiras, banais. Quando o barbeiro faz minha barba, por exemplo. Estou lá na cadeira, com uma toalha em meu rosto, sem enxergar, algumas vezes até cochilando, enquanto ele faz o seu trabalho, a navalha a centímetros de minha carótida. Seria muito fácil, num impulso, cortar minha garganta. Eu nem veria o que me atingiu, sentiria uma dor fina e depois nada... 

 

Ou quando estamos em algum lugar alto, olhando para baixo, e surge o pensamento de que poderia cair, ou empurrar alguém que estivesse junto. Ou cometer um ato violento gratuito, do nada.

 

O que nos impede de dar o passo em frente, usar a navalha, empurrar ou atacar alguém?

 

A noção do que é certo e errado, claro. A empatia, o não fazer com os outros aquilo que não gostaria que fizessem contigo, mas também o medo e a consciência das consequências. Tudo isso junto. É isso o que nos define como seres humanos, como parte do todo. Não somos seres isolados.

 

E não apoiamos a barbárie. Melhor, não deveríamos apoiar.


Uma boa forma de fazer isso é conhecer a história. Estudando, não correríamos o risco de dizer, ou fazer bobagens, como enaltecer pessoas que mereceriam ser esquecidas. Sei lá.

 

Apenas reflexões depois de um passeio em sábado de manhã no Parcão, em Porto Alegre.

 

Até. 

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