sexta-feira, março 25, 2005

Só Não Há Perdão para o Chato

Estava ouvindo ontem as notícias na tevê e me dei conta de um fato: os chatos não morrem. Ou pelo menos não se noticia isso.

Já repararam? Sempre que se noticia a morte de alguém, por acidente, doença ou qualquer que seja a causa, e entrevistam um familiar ou mesmo um conhecido sobre a pessoa que se foi, a descrição é sempre à mesma: era uma pessoa cheia de vida, tinha um futuro brilhante pela frente, etc.

E isso me preocupa: quem morre são sempre os bons, aqueles com as melhores chances de um futuro brilhante. Os chatos, os de vida medíocre, os pequenos, esses continuam. Esses são imunes às mortes prematuras, às vida interrompidas. Nunca se verá alguém dizendo sobre um morto: “Não, ele não tinha grandes ambições, queria apenas ser um burocrata, pagar seus impostos em dia, e não chamar muita atenção sobre si”.

Tudo porque a morte redime a todos.

Aquele que morreu, por não estar mais aqui para provar em contrário, poderia vir a ser qualquer coisa: astronauta, presidente da república, prêmio nobel da paz. E ele se torna aquilo que desejamos que ele tivesse sido.

(claro que isso acontece mais freqüentemente quando quem morre é jovem, mas não só)

Eu não.

Eu quero ser em vida alguém que, quando as pessoas lembrem de mim, digam ‘O Marcelo, como ele é cheio de vida, cheio de planos’. Que seja uma referência quando o assunto for animação, vibração capacidade de congregar, reunir. Que eu não me torne alguém assim apenas depois da vida.

Porque o que me interessa é o agora, o hoje.

Talvez esteja aí a gênese de todas as minhas invenções e eventos. A Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo, as Quarta-feiras Filosóficas, esse blog. Sem falar nas criadas num passado um pouco mais distante. Todas formas de reunir as pessoas, de estar junto, de festejar.

Porque ser lembrado como alguém cheio de vida quando não se tem mais uma não me interessa.

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, Marcelo, o que importa são as escolhas que fazemos agora, pois é nesse momento que determinamos como somos e agimos.
Gostaria de conversar com você sobre um outro assunto. Aguardo contato. Um abraço,
Ana

Anônimo disse...

Passando para desejar uma Páscoa cheia de alegrias e realizações.
Um beijo