quinta-feira, março 31, 2005

Pensando na vida, e na morte

É impressionante que, um apartamento pequeno, de um quarto, tenha tantos relógio espalhados. Só na cozinha, são dois. Ontem fiz o teste: todos marcam horas diferentes. Nem estão nem perto de estarem sincronizados. Lembrei do dito que diz que quem tem um relógio sabe a hora certa. Quem tem dois, não.

Se nunca sei a hora exata, por outro lado tenho essa lembrança constante de que tudo é relativo. E que nada é permanente. Conceito zen, esse, o da impermanência das coisas, das pessoas. Não estamos aqui para sempre, por mais que tentemos esquecer o fato ou não pensar nele, ao menos. Mas volta e meia ele nos bate de frente.

Por contigência profissional, nós, médicos, nos defrontamos mais frequentemente com essa constatação: a morte é inevitável. E aquilo que aos outros pode parecer insensibilidade, muitas vezes é apenas uma forma de defesa com relação a essa sensação de impotência que muitas vezes se abate sobre nós, que temos por “obrigação” salvar vidas. Ao menos é o que a maioria pensa, que somos obrigados, a todo o custo, manter as pessoas vivas, independente do que for. Não é bem assim.

Claro, muitos colegas colaboram para essa impressão geral de que nos sentimos deuses, onipontentes. Mas a maioria tem plena noção de sua limitação, a de que nem sempre o paciente vai sobreviver. Que às vezes é hora de parar e deixar a natureza (Deus, para os mais religiosos) seguir seu curso.

Diz um adágio conhecido que nossa missão é “Curar algumas vezes, aliviar na maior parte das vezes, confortar sempre”. Às vezes, temos que saber que o caminho mais digno para a pessoa é a morte. Muitas vezes já vi darem alta ao paciente para ele ir para casa ficar com seus familiares nos seus últimos momentos de vida, ao invés de ficar num hospital sozinho, até o fim.

Triste, eu sei, mas não podemos fugir disso.

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Ocorreu o que todos sabíamos que mais cedo ou mais tarde ia acontecer. Ela já estava bem doente e, “fora do ar”, mal reconhecia as pessoas. Mesmo assim, sempre é uma coisa que entristece a todos. Nunca nos agrada receber uma notícia dessas. Minha tia, irmã do meu pai, morreu ontem. Por isso ontem preferi ficar em silêncio e não dizer nada sobre nada.

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Aos leitores que possuem blogs aos quais eu visito, peço desculpas por – ao ler um texto ou comentário relacionado à medicina – eu não me contenha e comente, às vezes de forma longa e prolixa. Peço desculpas mas afirmo que vou continuar fazendo, pois hoje me dei conta que essa pode ser outra das funções de um blog (ou, no meu caso, de um médico que tem um blog): esclarecer sobre assuntos relacionado a área. Informar, até porque – em casos polêmicos, como o da norte-americana Terry Schiavo – muitas vezes as notícias que chegam pela imprensa são inexatas.

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Minha dívida aumenta: além de um texto sobre como vejo o Canadá, já que não sou imigrante, e um sobre o High Park, a região onde moro. Eles virão, tenham paciência.

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Eu nunca me lembro de conferir no supermercado. Alguém sabe me dizer se aqui em Toronto encontramos ervilhas secas?

8 comentários:

Lucix disse...

Entao somos dois, mas como eu nao entendo nada de medicina, eu sempre palpito quando se refere a informatica.

Quanto as ervilhas, vou pesquisar aqui no Loblaws.

Beijos!

Allan Robert P. J. disse...

Sinto muito pela sua tia.
Realmente vi muita confusão no mar de notícias sobre o caso de Terry Schiavo, como sempre acontece nesses casos. Quanto as ervilhas, no Canadá eu não sei, mas na Itália não tem. Assim como não tem beterraba e amendoim crus.
Ciao

Anônimo disse...

Oi Marcelo;
Eu acho interessante ler seus comentários quando se trata de assuntos da medicina, ajuda a esclarecer. Mas como é a ervilha, são só as sementes, mas é pequena/grande qual a cor , verde ou marrom ?

Ana Celia disse...

Oi Marcelo,

Primeiramente, meus sinceros sentimentos pela sua tia.

E' legal, qdo vc deixa seus comentarios, principalmente, no tocante a casos medicos.

E eu so achei um absurdo no caso da Terry Schiavo, o que o marido dela vez com a familia dela...isso sim foi lamentavel...

A proposito, se vc estiver afim, hoje podemos passar no John Vince (ver salgadinhos) e depois normalmente vamos ao supermercado.

Bjs,
Ana

Anônimo disse...

Marcelo, primeiramente nossos sentimentos pela sua tia. Sinceramente, nem sei o que dizer... perder alguém que amamos ou que estamos próximos, é algo indescritível.

É sensacional ler seus comentários sobre medicina. Vc não deve se desculpar, pelo contrário... contribui e muitoooo!
Aliás, estou preparando um post sobre um probleminha que venho enfrentando. Sei que não é sua área mas, se quiser opinar, será muito bem vindo...rs

Não sei sobre as ervilhas mas, posso pesquisar.

Um beijo

AleB disse...

Marcelo,
Eu nao sou medica e tambem tenho essa visao em relacao a morte, me entristeco quando vejo os familiares, mas fico feliz por aquele que se foi, principalmente quando se trata de doencas e estado terminal... Eh a vida!!!
Meus sentimentos!! BYE BYE

Anônimo disse...

Marcelo.
Sinceros sentimentos por tua tia.
Acho que tu, como médico (geralmente médico não acredita muito nesse negócio de religião), não deve acreditar muito, mas certamente tua tia agora está num lugar muito melhor, onde não há mais morte, nem sofrimento, onde nunca perdemos ninguém. Que ela esteja em paz, e que Deus a ajude no seu retorno à Grande Casa.
Vitor.

Vilas disse...

OI Marcelo.
Gostei do seu blog e suas idéias.
Me parece muito centrado e de bem com a vida. Espero continuar a ter o prazer de le-lo novamente.

Abçx


Vilas - Taubaté - SP