O dia em que encontrei a Julia Roberts.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Vocês sabem, um homem não pode fugir do seu destino. O que está escrito, está escrito. E esse encontro estava escrito no livro do meu destino há muito tempo.
Tanto eu sabia que, desde muitos anos, sempre que iniciava um relacionamento, eu avisava de antemão que – quando chegasse a hora e ela viesse me buscar – não adiantaria gritos, choros ou brigas. Não era justo? Bom, a vida não é justa mesmo. Pelo menos eu estava sendo honesto. Era como uma sentença de morte, inevitável.
Uma vez, já casado, decidi fugir disto que já parecia uma maldição. Recebi um convite para passar um tempo morando em Los Angeles, fazendo algumas pesquisas. Inicialmente, aceitei, mas logo percebi que estaria perigosamente próximo da Hollywood, o que seria facilitar as coisas. Declinei do convite com uma mentira: “Eu não falaaaar seu língua”, disse. Claro que ninguém entendeu isso no aeroporto. Apelei. “The voices keep telling me to kill the president!”. Funcionou. Não fui morar em Los Angeles e, além disso, fiquei escondido por algum tempo. Em Guantánamo.
Vou contar a vocês, não é brincadeira aquilo lá. Já naquela época, eles usavam a tortura de forma indiscriminada. Não só isso, tortura importada do Brasil. Lembrou de um DJ (naquela época chamávamos de dee-jay…) que passou vinte e quatro horas ininterruptas tocando pagode. Foi desumano. E a Convenção de Genebra, me perguntava durante aquela interminável sessão de horrores. Só de lembrar daquilo, ainda tenho náuseas.
De qualquer forma, voltei para casa. Passaram-se os anos. Tudo ia bem. Família, amigos, trabalho, tudo. Fui, então, convidado para vir para o Canadá passar dois anos fazendo pesquisa na University of Toronto. Aceitei na hora, afinal Toronto e Los Angeles são bem distantes uma da outra. O que eu não sabia naquele momento é que Toronto é um grande centro para a indústria cinematográfica, e muitos filmes são feitos aqui.
Quando me dei conta do risco que estava correndo, já era tarde.
Estava eu numa livraria, na seção de biografias, procurando – num momento narciso-psicótico – a minha própria biografia quando alguém põe a mão no meu ombro. Viro para trás e é ela. Julia Roberts, com aquele sorriso que toma conta de todo o ambiente. Por um instante – por uma fração de segundo em que o mundo, o universo parou – nos olhamos, como se nos conhecêssemos desde sempre. Nesse momento, minha vida passou em frente aos meus olhos com num videoclipe, revi pessoas e momentos passados, reavaliei decisões, refiz caminhos.
- Vamos?, ela perguntou.
- Não posso, lamento.
- Mas não é uma opção que tens.
- Desculpa, mas preciso ir embora.
- Mas…
- Vou acordar.
Tocou o despertador.
Até.
4 comentários:
Eu sabia que era sonho, desde que começei a ler o post, hahaha
XD
Eu achei que voce tivesse esbarrado nela na rua andando, sei la.
A Rejane do blog ja viu o Kiefer Sutherland(se eh assim que se escreve o nome do rapaix).
E eu pensei que vc estava narrando o filme Notting Hill!!
Vc andou assistindo "Um Lugar Chamado Notting Hill" ultimamente??
;o)
Hmmmm.... será que vc não ia com ela, hein????
Bjocas
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