segunda-feira, setembro 30, 2024

Segunda-feira, Sol

O sol.


A semana que começa com céu azul e sol é sempre uma boa semana, depois de dias cinzentos e úmidos. A meteorologia influencia, sim, o anímico das pessoas. Eu, por exemplo, sou uma pessoa melhor em dias de sol e temperaturas amenas.

 

Os próximos dias, e quando falo em próximos dias me refiro ao período que vai de hoje até mais ou menos o feriado de quinze de novembro, serão agitados, no bom sentido. Diversas atividades programadas nos diferentes, digamos, ecossistemas em que circulo / vivo. Congresso médico, shows musicais assistindo e me apresentando, viagens a trabalho e para shows, Feira do Livro (com sessão de autógrafos). Churrascos e reuniões de planejamento. Muita coisa mesmo.

 

Encontrar pessoas, reforçar conexões.

 

Vamos vivendo.

 

Até. 

domingo, setembro 29, 2024

A Sopa

Pertencimento.

 

Eu ia escrever (mais uma vez) sobre a importância do sentimento de pertencer, de fazer parte, de como isso conforta e aquece a alma, de como é necessária, principalmente para mim. O bem comum como propósito, o viver em comunidade, o viver bem. Se viver melhor quando se é (quando nos sentimos) parte de algo maior que nós.

 

O sentimento oposto é, por óbvio, em minha perspectiva, ruim, e o sentir-me excluído, deixado de fora, é algo que tento evitar, mesmo que dependa de fatores externos. Algumas vezes não somos parte, ou, por outro lado, não temos como ser parte de tudo, e está tudo bem. É do jogo. Devemos entender (aprender, que seja) que não precisamos (e nem é viável) estarmos sempre em tudo, em todas. 

 

Ia escrever também sobre como existem momentos em que são reforçadas, reafirmadas, as conexões que levam às sensações de pertencimento, e de como isso é importante, reafirmar e reforçar conexões, e como isso tem a ver com nossa identidade, com quem somos. Estar entre os teus, família, amigos, basicamente, é como olhar para um espelho, é onde nos reconhecemos.

 

Ia escrever sobre tudo isso, mas desisti.

 

Desisti porque precisei falar de música, que agora – para mim – também é negócio, mas que – mesmo nessa condição, de negócio – é acima de tudo (mais) uma forma de conexão com pessoas. Conhecê-las, criar laços que são fortes, possibilidades de viver em comunidade, de ter experiências e experimentar emoções quase transcendentais. Ter a possibilidade de sentir-se parte de algo maior, e de como isso é importante.

 

E de como a vida emociona.


Até. 

sábado, setembro 28, 2024

Sábado (e a Oktoberfest)

 

(Oktoberfest 4Beer)



Abertura da temporada de Oktoberfest 2024.
Curadoria musical nossa, da School of Rock Benjamin POA

Atrações musicais:
House Band S of R
Tenente Cascavel
Play Color 

Além de Bandinha Alemã.

Vai ser bem divertido!
Bora lá?

Até.

sexta-feira, setembro 27, 2024

Mamba

A minha rotina de médico não permite, na maior parte dos dias da semana, que eu consiga almoçar com a tranquilidade que acho necessária. Quase sempre tenho algum tipo de atividade na hora, ou logo após o almoço. Então é sempre corrido.

 

Exceto pela quinta-feira.

 

É o único dia da semana de trabalho em que consigo almoçar com calma, mesmo que não em casa. É um dos dias em que almoço com o mesmo grupo de colegas (já falei disso, eu sei) no restaurante aqui junto ao Centro Esportivo da PUCRS, ao lado do Hospital e do Centro Clínico da PUCRS. É nossa turma da ‘Mesa Reservada”.

 

Como também já contei, normalmente sou o mais novo do grupo, que conta com vários colegas que foram meus professores e que agora são bons amigos, alguns já com mais de oitenta anos. É uma ótima convivência. Assuntos leves, brincadeiras, algum bullying uns com os outros, como em qualquer turma por aí. Às vezes, contudo, o clima fica mais denso.

 

Esses dias, conversávamos sobre um amigo de um de nós que está internado em uma UTI, inconsciente, em hemodiálise contínua, com o fígado dando sinais de falência, infecção urinária e respiratória. Por trás de tudo isso, um câncer em estágio terminal, com metástases cerebrais. Ou seja, está morrendo, infelizmente. E a conversa derivou para a finitude da vida, a morte e a negação da mesma.

 

Falou-se de como atualmente, ao invés de aceitar aquelas situações em que a morte não é uma intercorrência, mas sim um evento final, um desfecho. Que se prolonga o sofrimento do paciente na tentativa de evitar um final inevitável. Foi quando lembrei da história da ‘Mamba’, contada pelo saudoso Dr. Leonel Lerner, meu professor e colega dos outros presentes na mesa.

 

Diz história que dois náufragos chegaram a uma ilha e foram capturados por uma tribo de canibais. Antes de iniciar os ritos da refeição foram dadas a eles duas opções: poderiam ser mortos diretamente, de forma indolor, ou serem picados por uma cobra, a famosa Mamba Negra, e passarem por sofrimento atroz, dores terríveis, e – remota chance – não morrerem. O que eles decidissem seria feito.

 

O primeiro optou pela mamba. 

 

E foi horrível.

 

Horas de gritos de dor, espasmos terríveis, convulsões generalizadas, hemorragias, sangue jorrando de todos os orifícios, olhos esbugalhados, delírios. Até que morreu. Todos estavam em silêncio, chocados. O segundo e último náufrago, impressionado pelo que presenciara, resignado com seu destino e desejando abreviar seu sofrimento, foi direto, sem dúvidas: queria a morte.

 

Foi quando o cacique da tribo de canibais disse que tudo bem, mas antes “só um pouquinho de mamba...”.

 

Isso tudo para que refletíssemos com relação à diferença entra tratar um paciente, trazer conforto, e apenas prolongar o sofrimento dele por não aceitação de que, algumas vezes, não temos mais nada a fazer, e o fim é inevitável. 

 

Nunca esqueci esse ensinamento.

Até. 

quinta-feira, setembro 26, 2024

Amargo

Não, esse não é um texto sobre o chimarrão.

 

Poderia ser, contudo, e estaria adequado para uma manhã plúmbea e chuvosa de setembro, mesmo que não esteja frio. A ausência de sol traz gravidade à vida, e facilita nossa jornada à introspecção. Mesmo sendo uma aberração.

 

Explico.

 

Contra as evidências do mundo ao meu redor, e nem de longe querendo ser ou parecer negacionista, digo que setembro, e a primavera, deveriam ser de céu azul e sol brilhando, além de temperaturas amenas. Não consigo, minha memória e meu conhecimento não permitem, dizer se já foi assim em algum momento, mas deveria, sem nenhuma dúvida. Talvez os setembros e as primaveras de minha juventude fossem assim. Ou não.

 

O título desse texto de uma quinta-feira chuvosa relaciona-se com os textos diários a que tenho me proposto e conseguido entregar, e que pela periodicidade são inevitavelmente influenciados pelas variações do (meu) humor do cotidiano. Não sou (não somos) imune (s) ao mundo que me (nos) cerca. 

 

Assim, aquilo que podem ter parecido (para mim, para mim) textos amargos, ressentidos, ou mal-humorados nos últimos dias, são reflexo um ambiente externo que, por mais que eu tente evitar, acaba influenciando o meu humor quando escrevo. Não deveria ser assim, afinal é apenas uma parcela pequena do meu tempo em que conseguem me incomodar. Por outro lado, sei (e sinto) que a escrita é terapia, e escrevo justamente para ‘botar para fora’ o que penso, o que sinto. Aliviar a tensão.

 

E não dar um soco em quem merece...


Até. 

quarta-feira, setembro 25, 2024

Ler e entender

Analfabetismo funcional.

 

As pessoas falam muito na questão da educação básica no Brasil e os índices obtidos nos testes de aptidão e conhecimento aplicados em escolares. Que são ruins, todos sabemos. E sabemos também que o problema é antigo.

 

Muitas pessoas completaram seu processo de educação formal, anos iniciais, finais, ensino médio, curso superior, muitas vezes pós-graduações, e até hoje têm dificuldades de compreensão daquilo que leem. Impressiona. E assusta. Aprenderam a ler, leem, mas não entendem aquilo que estão lendo.

 

E volto ao problema das comunicações por escrito.

 

O velho cuidado na forma de comunicação por escrito: aquilo que está escrito é – de certa forma – eterno. Podemos pensar uma coisa, e pensar que escrevemos exatamente aquilo que originalmente pensamos, mas não temos controle sobre o quê aqueles que leem vão entender. E esse é um drama. Diferente da palavra falada, em que estamos nos comunicando diretamente com o interlocutor, e a entonação da voz e as expressões facial e corporal são parte do todo, quando escrevemos temos que confiar que o leitor vai entender nossa intenção, seja ela qual for.

 

E essa é – impressão minha – um dos grandes problemas das pessoas.

 

Apesar de saber ler, a dificuldade de compreender o que está escrito é imensa. Por mais que o que se escreva esteja correto, em termos tanto de ortografia quanto de gramática, as pessoas não conseguem entender. Isso sem considerar quando NÃO querem entender, o que também não é infrequente.

 

E a convivência se torna progressivamente mais difícil. 

 

Nunca é fácil.

 

Até.

terça-feira, setembro 24, 2024

Olha só

O (meu) não você já tem.

 

Um aprendizado feito a duras penas é o de que existem momentos em que não conseguimos dar conta de todas as demandas que surgem, e está tudo certo. Faz parte.

 

É o momento de hierarquizar, definir prioridades, dizer não.

 

Aprender a dizer ‘não’ é, então, libertador para nossa saúde mental. De novo, não é um processo fácil, isento de sofrimento. São as dores do crescimento, e todos temos que passar por isso, de uma forma ou de outra, por bem ou por mal. Ou surfamos a onda ou somos levados por ela.

 

Confesso que ainda tenho dificuldade em dizer ‘não’ em determinadas situações, e sofro as consequências desses momentos em que vacilo em minhas convicções, ou que cedo para agradar a quem quer que seja em detrimento do meu próprio bem-estar, mas tem acontecido cada vez menos.

 

Sigo aprendendo. 

 

 Até. 

segunda-feira, setembro 23, 2024

Pausa

Hoje cedo me senti voltando de férias.

Foi apenas um longo final de semana pelo feriado na sexta-feira que passou, e um dos raros feriados em que viajamos. E foi uma viagem de descanso, e também de família.

 

Fomos, Marina, Jacque, seus pais, Karina, Gabriel, Júlia, Roberta (quase voltando para Barcelona) e eu para São Francisco de Paula e ficamos em uma casa (AirBnb) afastada da cidade, de onde não saí entre sexta-feira e domingo, em um local de muito verde e paz. O objetivo era ficarmos juntos, e descansar.

 

Foi muito bom.

 

Cedo da manhã de chimarrão e silêncio. Fiz churrasco sábado no almoço e arroz de carreteiro no jantar. Li, dormi e toquei violão. Lareira na noite fria de sexta-feira.

 

Foi muito bom mesmo.

 

A partir de hoje, começa uma sequência de dias corridos e eventos e viagens que dará uma pausa lá na metade de novembro. Também por isso veio muito a calhar essa pausa. Recarregar as baterias.

 

Até.

domingo, setembro 22, 2024

A Sopa

Tenho mais o que fazer, sim.

Mesmo assim, existem diversos temas, assuntos, que ocupam minha mente de tempos em tempos, com uma recorrência maior ou menor, e que me motivam pensamentos e reflexões.

O limbo, por exemplo.

 

Sim, eu sei que não passa de uma hipótese teológica que ganhou ares de verdade por haver sido repetida à exaustão, uma pós-verdade, fake news, se quiserem, até virar consenso. 

 

Ainda assim, o limbo me causa certa angústia de longa data. Encontrei um texto meu sobre isso escrito há muito tempo, logo antes dele deixar de existir. Isso mesmo. O limbo não existe mais, acabou na sexta-feira dia quatro de outubro do já distante ano de dois mil e seis, quando foi assinado um decreto estabelecendo seu fim pelo Papa Bento XVI. O limbo. Acabou. Sabe o limbo? Aquele lugar para onde iam as crianças que morriam sem serem batizadas, e ficavam lá pela eternidade, sem a possibilidade de encontrarem Deus. 

 

Diferente do purgatório, local onde ocorre a purificação que se segue ao juízo particular de cada um e que antecede o ingresso das almas no céu, no limbo não há penas e nem purificação a serem realizadas. O limbo, podemos dizer, ‘não fedia e nem cheirava’... 

 

Para o limbo iriam, imagino, também as pessoas que estavam numa situação assim, nem lá nem cá. Nem no céu, nem no inferno. Não muito felizes, mas também não muito tristes. Aquelas que viviam vidas sem sal, que apenas sobreviviam, enquanto aguardavam o dia do fim. Os comedidos. Pensando assim, o limbo estava cheio de gente. E deve ser por isso que acabaram com ele.

 

Lotação esgotada.


Sempre me perguntei o que acontecia com as pessoas depois que iam para o limbo. Descobri que ficavam lá por toda eternidade, como que boiando em um pântano. O limbo seria o tédio sem fim, um ficar deitado na cama olhando o teto para sempre.  Diferente do que eu pensava, o limbo não era um estágio intermediário, uma transição. Era um destino por si só. Me pergunto, então, o que aconteceu com aqueles que estavam lá quando ele fechou? Foram transferidos para cima ou para baixo com que critérios? Ou ficaram presos ali para sempre (o próprio conceito de limbo)? Alguém, digamos São Pedro, trancou o portão do limbo pelo lado de fora e jogou a chave fora?


Isso nunca foi preocupação para você, estimado leitor?

 

Para mim, foi. Ou não.


Até.

sábado, setembro 21, 2024

Sábado (e o Mediterrâneo)

Costa da Liguria, voltando de Portofino
 

   Uma foto de viagem, em meio ao feriado.

   Bom sábado a todos;

   Até.

sexta-feira, setembro 20, 2024

Sexta-feira, Feriado

Feriado.


A semana útil, digamos assim, que considera como útil apenas os dias em que a maioria das pessoas trabalha – conceito que eu, primeiro como médico e agora também como empresário do ramo de educação musical, nunca considerei adequado, mas não vem ao caso agora – termina mais cedo aqui no Sul do Mundo, pois hoje vinte de setembro é feriado estadual. Três dias de descanso, então, antes do começo de uma “maratona” de atividades e eventos que envolverão não só finais de semana e que só termina na metade de novembro. 

 

Faz parte.

 

E o ano, depois de passado agosto, acelera muito em direção ao seu final, a dezembro e ao verão. Já é quase hora de fazer a retrospectiva de dois mil e vinte e quatro. Quase, mas não ainda...

 

Quando chegar a hora, não terá como não falar da resiliência que foi (ainda é) necessária para lidar com as intempéries climáticas, desde a enchente de maio, passando pelo inverno dos problemas respiratórios, as queimadas e a qualidade do ar que respiramos, entre outras situações com as quais que tivemos que lidar. Nenhuma tão frequente, talvez, quanto ter que lidar com pessoas chatas, tóxicas, maçãs podres que contaminam ambientes, dementadores que tentam sugar toda nossa energia vital, sugar nossa alma, e que estão por aí, circulando à nossa volta.

 

E, de expecto patronum em expecto patronum*, vamos levando.

 

Esse final de semana, não.

 

Vou apenas descansar.

 

Até.  

 

* referência à Harry Potter, do qual sou fã...

 

 

quinta-feira, setembro 19, 2024

A Zona de Conforto e o meu cabelo

Saí de minha zona de conforto.

 

Como quem me conhece sabe, eu sou muito fã da minha zona de conforto e, ao contrário do que os coachs dizem por aí, é estando confortável que consigo avançar, progredir, crescer. Funciona para mim, não quer dizer que vai funcionar para outras pessoas, pois não existem fórmulas que se apliquem a todos. Somos únicos, mesmo que parecidos. Aquela coisa de “one size fits all” não é real...

 

Além disso, sou – em muitos aspectos da vida – conservador.

 

Conservador no sentido de que não gosto de mudanças, exceto aquelas as quais sou agente ativo, ou seja, as que são provocadas, desencadeadas por mim. De resto, se as coisas estão bem, por que mudá-las?

 

Por isso, e começo a revelar a motivação desse texto, passei mais de vinte anos cortando o cabelo com a mesma pessoa. Antes que você tenha tempo de qualquer piada relacionada a isso, vá para o inferno. Então, mais de vinte anos cortando o cabelo com a mesma pessoa, mesmo que em locais diferentes. Era chegar e dizer “como sempre”, e estava resolvido. Tranquilo, seguro.

 

Até que deixei a barba crescer, decidi ir a uma barbearia para tratá-la e, já que estava lá mesmo, cortar o cabelo. Após a barba aparada, perguntou o que fazer com o cabelo, no que respondi que não havia muito o que fazer. A resposta que recebi foi de que “há sim o que fazer, tens cabelo para isso”, o que me fez virar cliente. Se está pensando que gosto ser iludido, sim, é verdade, e vá para o inferno mais uma vez, antes que eu me esqueça. 

 

Foi quando descobri que sei exatamente como quero que seja cortado o meu cabelo, pois passei a cortar no mesmo local, mas quem cortava foi modificando ao longo do tempo, e eu sempre conseguia orientar exatamente como queria. Até que criei uma relação de confiança com um dos barbeiros e, quando ele mudou de lugar, acabei o acompanhando. Tudo certo, tudo tranquilo.

 

Ontem, contudo, houve uma urgência.

 

Ao final do dia da terça-feira que passou, percebi que precisava cortar o cabelo e fazer a barba o quanto antes. Tentei agendar aonde sempre vou, mas não havia disponibilidade para essa semana. À tarde, ontem, uma medida desesperada: em um shopping de Porto Alegre, entrei em uma barbearia e, como havia disponibilidade, entrei.

 

Saí de minha zona de conforto.

 

Foi tenso, mas sobrevivi.

Até. 

quarta-feira, setembro 18, 2024

Quarta-Feira Filosófica

Volto a falar sobre encaixar versus pertencer.

 

E falar de mim, que é – por óbvias razões – assunto principal desse espaço. Penso que, falando de mim, falo também das pessoas, versão em menor escala do ‘falar da aldeia para falar do mundo’. Esse é um momento, também, de parar e pensar.

 

Há um tempo, quando do relativamente curto período em que trabalhei no mundo corporativo, multinacional e tal, houve um acontecimento que foi ao mesmo tempo um evento do tipo ‘quebra de encanto’ e revelador, um acordar, um abrir de olhos. Não importa o acontecido, nada de grave ou irregular, mas uma mudança da minha percepção sobre a relação que eu tinha das coisas. E foi nesse momento em que parei de me sentir pertencendo ao ambiente e passei a me encaixar ali, porque era conveniente, pelas pessoas e pelos benefícios.

 

Foi natural, então, a constatação de que eu me desligaria da empresa em um futuro não muito distante, futuro esse que foi abreviado por fatores alheios a minha vontade, mas essa foi uma história que já contei aqui antes e, apesar de muitas pessoas acharem que minha saída resultou em algum tipo de mágoa de minha parte ou algo assim, não existiu isso. Não guardo nenhum tipo de ressentimento. Pelo contrário, recebi à época um pacote de benefícios muito bom. O que lamentei foi a perda da convivência com ótimos amigos que fiz, muitos dos quais já nem estão na empresa também...

 

Mas esse não é o assunto. 

 

Falava da sensação de pertencimento, e que faz um bom tempo que percebi a importância que esse sentimento tem para mim. Preciso me sentir parte de algo, ter um propósito. Sou um cara de turmas, de grupos, e a sensação (real ou imaginária) de ser excluído, não fazer parte, não é legal. Só que é da vida, eu sei. E sei também que não podemos ser parte de tudo, de todas as turmas, estar em todos os eventos. E está tudo bem, mesmo que algumas vezes eu quisesse que fosse diferente.

 

Até.

terça-feira, setembro 17, 2024

O Limite

Esticar a corda.

 

Uma das características da criança, ao descobrir o mundo, é a busca por limites. Para poder conhecer o que a cerca e, também, conhecer a si mesma, ela precisa estabelecer as fronteiras do razoável, saber até onde pode ir. Conhecer o limite.

 

Por isso, está sempre testando, nos testando.

 

Como eu digo, está esticando a corda para ver até que ponto vai.

 

E a função dos pais, primordialmente, e da sociedade, é estabelecer o limite do razoável. Uma função fundamental, devo dizer. Criam-se adultos fracos quando não se estabelecem essas condições. E, infelizmente, é o que mais vemos por aí por esses dias.

 

A falta de limites na infância vai resultar em adultos com dificuldades de relacionamento, tanto pessoais quanto profissionais, e vai tornar a vida dessas crianças que sempre foram “mimadas” mais difícil. Por não querer frustrar os filhos na infância, esses pais causarão sofrimento a eles num futuro não muito distante.

 

Acontece, então, de termos – algumas vezes – de impor limites a adultos, o que são situações potencialmente constrangedoras para nós e perturbadoras para eles, apesar de necessárias. Como quando, em meio a uma conversa, aumentam o tom de voz, mesmo que por escrito, tentando impor sua visão e/ou vontade, e precisamos nesse momento não ceder, e dar um basta. Contrapor, encarar.

 

E então se desconcertam.

 

Um dia irão aprender.

 

Até.

segunda-feira, setembro 16, 2024

Escrever, Falar

Escrever é uma responsabilidade muito grande.

 

Sexta-feira que passou, final do dia, quando recém havia terminado a minha semana de trabalho, ao chegar em casa, parei para acompanhar uma discussão em um dos diversos grupos de WhatsApp de que faço parte. Discussão acalorada, palavras fortes até. E eu só lendo e eventualmente fazendo comentários via mensagem privada para um dos integrantes do grupo. Foi então que lembrei de uma determinação e um aprendizado de muitos anos, com relação a e-mails e mensagens em geral.

 

Em primeiro lugar, aprendi – quando era Presidente da Sociedade de Pneumologia do RS – que e-mails de trabalho nunca devem ser lidos em uma sexta-feira no final do dia, por uma simples razão: qualquer que seja o problema de trabalho, não terá como ser resolvido durante o final de semana, mas estar ciente dele no final do expediente de sexta só vai causar ansiedade devido à impossibilidade de resolução do mesmo antes de segunda-feira. Vai gerar estresse, vai estragar o final de semana, o que aconteceu comigo algumas vezes.

 

À época, então, decidi (determinei a mim mesmo) não mais abrir meu e-mail nas sextas-feiras a partir do meio-dia. Isso era antes do tempo do WhatsApp, eu sei, mas acredito que ainda assim é possível criar estratégias para evitar esse tipo de situação, mesmo que algumas vezes seja inevitável. E vamos levando.

 

O outro aprendizado para a vida foi de que aquilo que escrevemos tem um peso infinitamente maior do que aquilo que falamos. Aconteceu, de forma meio traumática, quando eu escrevi um e-mail para um amigo dando uma opinião sincera, honesta e não agressiva, com o intuito de ajudar, mas que foi mal interpretada e que causou um mal-estar desnecessário. Não precisava. Fui ingênuo, mas aprendi a minha lição. Se é algo que pode ser sensível, ou quando estás de “cabeça quente”, espera um pouco, pensa bem, com cuidado.

 

Por isso, ao acompanhar a discussão no grupo na sexta-feira no final do dia, optei por não me manifestar, apesar de saber bem o que queria dizer, porque iria escrever e corria o risco de ser mal interpretado. Ou, talvez pior, dizer exatamente o que pensava e as pessoas entenderem exatamente aquilo que eu tinha vontade de dizer...

 

Fui prudente e fiquei na minha.

 

Inteligente, eu sei.

 

Até.

domingo, setembro 15, 2024

A Sopa

Consequências.

Todos os nossos atos na vida têm consequências, desdobramentos. Qualquer decisão que tomamos vai desencadear eventos a seguir com os quais teremos que lidar e que nos exigirão novas decisões com posteriores consequências, e assim por diante. Mais uma obviedade, claro, e sinto/sei que meus escritos são muitas vezes obviedades, mas que precisam ser ditas (por e para mim, ao menos, como parte do pensar a vida).

 

Assim, quando decido os caminhos que seguirei, devo estar ciente de que, ao decidir, estou também abdicando de outras possibilidades, renunciando a outros destinos possíveis. Viver é, também, uma sucessão de histórias não vividas e, por isso, não contadas (em contraponto à definição de que a vida não passa de histórias para contar). 

 

O importante seria, então, escolher aquelas que nos parecem as melhores histórias e as melhores companhias para viver e contar, mesmo sabendo que estamos abrindo mão de algumas (potenciais) boas histórias e pessoas. É um dilema, confesso.

 

Penso, por outro lado, que nem todos podem – por circunstâncias variadas – escolher qual história querem para si, ou alterar o rumo de sua própria, e – obrigados - caminham o caminho que lhes resta (e aí penso em um brete, compartimento ou jaula para reter gado com segurança enquanto estes são examinados, marcados). E é inevitável pensar em ‘Admirável Gado Novo’, música do Zé Ramalho, que diz “Vocês que fazem parte dessa massa / Que passa nos projetos do futuro / É duro tanto ter que caminhar / E dar muito mais do que receber”.

 

Tudo isso para dizer que – nos últimos anos – tive (ou criei) a possibilidade de tomar decisões, fazer mudanças, ajustes, em minha vida. Vivo, a partir daí, conscientemente os resultados dessas opções e estou bem satisfeito com elas (e comigo, admito). Mas, por outro lado, tenho que conviver também com o resultado não só daquilo de que abri mão, mas também daquilo que as pessoas acham que abri mão. Sutil diferença, e consequência das minhas decisões, sei. É questão de aprender a lidar com isso.

 

Estou tentando.

 

Até.

sábado, setembro 14, 2024

Sábado (e somos podcast também!)


A Sopa no Exilio agora é também um podcast! Acesse aqui.

Um podcast com minhas crônicas, ideias, pensamentos, e também sobre pessoas e como nossas vidas estão conectadas de alguma forma. Histórias e estórias. Pessoas, histórias e histórias de pessoas. 

Ficarei feliz com sua audiência.

Bom sábado a todos.

Até.



 

sexta-feira, setembro 13, 2024

Dudu

Uma história (quase) de viagem.

Quando íamos viajar para a Europa a primeira vez, nós, o grupo autointitulado de ‘Perdidos na Espace’, referência à van que havíamos alugado para nossa viagem de 1999, uma Renault Espace de 7 lugares e, claro, à série de tevê ‘Perdidos no Espaço’, tivemos um período de planejamento (e preparação) longo, o que motivou situações divertidas, de reuniões e e-mails trocados. Até escrevi um relato dessa viagem, que dei de presente aos viajantes.

 

Como morávamos em cidades diferentes, e não conseguíamos nos reunir presencialmente com frequência, nos comunicávamos muito por e-mail, já que no milênio passado, quando dessa viagem, ainda nem existiam smartphones, quanto mais WhatsApp. Então, e entre idas e vindas, mudanças de câmbio, divertidos debates e mudanças de roteiro, muito “discutimos” sobre a viagem. Um dos integrantes do grupo que, assim como eu, nunca tinha ido para o Velho Continente, era um dos mais, podemos dizer, ansiosos, ou talvez precavido, e tudo, qualquer alteração do dólar ou problema na geopolítica mundial, tudo era motivo para e-mails, novas divertidas e algumas vezes acaloradas discussões e debates.

 

Apelidei ele de “Dudu, o Alarmista”.

 

Pensando bem, não sei se ele ficou sabendo disso... A referência clara (para quem tem a minha idade) é a um personagem das tirinhas “As Cobras”, do Luís Fernando Veríssimo, e caiu como uma luva nesse nosso amigo.

 

Lembrei disso por causa de um grupo de WhatsApp, entre os muitos de que sou parte, em que um dos integrantes com quase assustadora frequência compartilha notícias de tragédias e potenciais tragédias sobre o mundo, sobre os acontecimentos. Tenho sempre vontade de chamá-lo pelo apelido dado a esse outro amigo há 25 anos, mas acho que o atual alarmista não ia ficar feliz...   

 

Sei lá.


Até.

quinta-feira, setembro 12, 2024

Pontualidade

Horário marcado não é sugestão.

 

Desde que consigo lembrar, estar no horário marcado sempre foi, para mim, o óbvio (ululante, se quiserem). Se combinei algo com alguém em determinado horário, estarei lá no horário combinado, de preferência um pouco antes até. Considero que é uma das regras mais básicas da convivência humana, de respeito ao próximo.

 

Ou deveria ser.

 

É o meu jeito, é quem sou.

 

O trabalho de médico, minha atividade principal, mas não única, e que exerço no meu consultório atendendo pacientes previamente agendados, é um ponto em que procuro, com todas as forças, exercer a virtude – sim, considero uma virtude – de estar sempre no horário. Sou pontual para poder cobrar pontualidade dos meus pacientes. Simples assim.

 

É claro que nem sempre é possível porque há fatores externos, alheios aos nossos planos que podem causar uma quebra na agenda. Posso atender um paciente mais “complicado” que torna a consulta mais longa, posso ter alguma urgência que retarde minha chegada ao consultório, o paciente pode atrasar por diferentes razões, o trânsito incluído. Milhões de possibilidades de situações que podem dar errado. Mas sempre tento manter os horários conforme combinado.

 

Porque, sim, acredito na máxima que abre esse texto. Horário marcado não é sugestão. Para mim, pelo menos, é compromisso.

 

Se como médico procuro agir dessa forma, como paciente espero o mesmo. Nas últimas semanas, enquanto faço exames de checkup (que já me permitiram voltar a pedalar nos finais de semana), tenho tido a experiência de paciente. Em nenhum momento – dessa vez – tenho usado minhas credenciais como médico para receber algum tipo de tratamento especial durante a realização dos exames. Sou um paciente comum, experimentando aquilo que os pacientes passam na mesma situação (experiência recomendada a todos).

 

E tem sido um teste de paciência (mais um por esses dias).

 

Chego no horário marcado, com a antecedência recomendada quando da marcação, passo pelos procedimentos regulares, e espero. E espero. Porque, até aqui, claramente a hora marcada é uma sugestão. Sou bem atendido, com educação e atenção, em alguns lugares mais e em outros menos, o que é do jogo, mas nunca com displicência ou indelicadeza. Quando o atraso é por alguma intercorrência do local, exames de urgência que tem prioridade, pacientes graves, tudo certo, evidentemente. Mas tem situações em que obviamente não são essas as razões do atraso.

 

Parece ser uma cultura de não preocupação com a pontualidade.

 

O que fazer?


Até. 

quarta-feira, setembro 11, 2024

Gafanhotos

É um assunto recorrente. 

Não necessariamente de meus escritos, mas de uma determinada faixa etária vivendo em um determinado ambiente de um determinado (específico, pode-se dizer) extrato socioeconômico do qual mais ou menos faço parte aqui no Sul do Mundo. Falo da experiência (ou das experiências) no litoral gaúcho.

 

Como já disse em outras oportunidades, os verões no litoral norte do Rio Grande do Sul tiveram importância fundamental na minha formação como pessoa, e amigos da época em que passávamos os verões na praia o são até hoje. Éramos uma família de classe média, minha mãe professora e no final de dezembro íamos para o Imbé/RS e ficávamos até depois do carnaval. A convivência com a turma de amigos era intensa, e as histórias são muitas. Tínhamos a liberdade de circular livremente por lá, desde que estivéssemos em casa na hora das refeições, muitas vezes lembrados desse fato pelo assobio característico do meu pai. 

 

Eram outros tempos, claro.

 

E com o passar dos anos, tudo mudou, todos mudamos.

 

A característica do chamado veranear (verbo com significado de passar o verão) mudou, por questões de tempo (quem tem dois meses para passar na praia hoje em dia?), de segurança, e até econômicas (manter uma casa fechada por quase dez meses para uso apenas em janeiro e fevereiro é bem caro). Em meio a tudo isso, surgiu o fenômeno dos condomínios fechados no litoral, uma forma de – de certa maneira – criar a atmosfera do passado em termos de segurança, ao menos.

 

E com a estrutura e o conforto da cidade. Com isso, as pessoas acostumaram-se a frequentar o litoral o ano inteiro, as crianças recuperam a liberdade de circular “soltas” com segurança relativa pelos condomínios. Claro que isso tudo com um custo, que não pequeno, claro. Financeiro e geográfico: a maioria desses condomínios fica longe do mar, em tese o objetivo de se ir para a praia. Por isso a máxima, criada por mim até onde lembro, de que quem gosta de praia tem casa de rua no litoral. Os outros não vão para a praia, vão para o seu condomínio.

 

E está tudo certo.

 

Mas dizia que era recorrente o assunto porque ontem ao chegar na Associação dos Médicos do Hospital da PUCRS para um café logo após o almoço, estavam falando sobre esse tema, e sobre as movimentações noturnas do litoral em décadas passadas. Da migração das noites de verão de uma praia para outra com o passar do tempo. Foi quando contribuí para o tema com a minha teoria da juventude como uma nuvem de gafanhotos.

 

Fica para outro dia.

 

Até.

terça-feira, setembro 10, 2024

Não É

Não é sobre mim. E nem sobre você.

 

Mas deveria ser.

 

Venho, já há algumas semanas, naquele já falado processo de mudança de abordagem com relação ao trânsito: decidi não mais me estressar com o que acontece à minha volta. Resolvi que não era motivo para me irritar, me incomodar. Um esforço consciente, voluntário.

 

O meu mantra passou a ser o “não é sobre ti”, que eu dizia para mim toda a vez que testemunhava uma infração, uma manobra arriscada ou não permitida. O objetivo era ficar na minha, não perder o humor por causa de coisas menores (o trânsito é uma coisa menor na vida).

 

‘Não é sobre ti’, “não é sobre ti’, repetia.

 

Até que me dei conta que deveria - sim -  ser sobre mim, e sobre você também. Deveria sempre ser sobre o outro. Nossas atitudes perante a vida deveriam sempre levar em conta o outro. Pensar em mim, certo, e justo, mas nunca esquecendo de que a convivência em sociedade, em comunidade, a civilização, dependem da consideração que temos pelo outro. A vida torna-se melhor quando vivemos em comunidade, em grupo, e nos preocupamos não só com nosso bem-estar, mas com o do outro também.

 

É o mínimo, mas que as pessoas – não só no trânsito – muitas vezes esquecem. Eu tento lembrar, e agora ainda mais quando estou atrás do volante. Um minuto a mais não vai mudar nossas vidas.

 

Empatia, empatia.


Até. 

segunda-feira, setembro 09, 2024

Segundou

Segunda-feira.

 

Esperando para iniciar os atendimentos no consultório, consigo ouvir a minha secretária falando com os pacientes (e ela gosta MUITO de conversar...). Enquanto fazia as burocracias envolvidas com o convênio para registrar a consulta que deve acontecer em poucos minutos, alguma dificuldade aconteceu, e a paciente comentou que “segundou”, no sentido de começaram as dificuldades, em contraponto – imagino – com o “sextou”, que tem a conotação de que tudo fica bem no final de semana...

 

Lembrei, então, de já ter lido sobre isso, de que seria “ruim” essa espera ansiosa pelo final de semana, onde a vida aconteceria, porque indicaria que a vida entre o domingo e o final da quinta-feira seria apenas o pedágio a ser pago para chegarmos à sexta-feira e à vida de verdade. Restringiríamos nossa “felicidade” a dois dias da semana, porque o domingo já seria uma “pré segunda-feira”. Pois é.

 

Eu gosto do final de semana, e confesso que espero com ansiedade e genuína alegria a chegada de sexta-feira, o que não quer dizer que me arraste por aí, deprimido, pelos outros dias úteis. Cada dia é diferente em algum sentido, tem seu valor e sua beleza. Digo há anos que o melhor dia da semana é a quarta-feira, porque ontem era recém terça e amanhã já é quinta, mas o melhor momento da semana é o sábado de manhã, de sol, e não canso de repetir.

 

O fato de gostar MUITO dos finais de semana, e até esperá-los com alguma expectativa, não significa que eu despreze os outros dias. Aliás, não perco meu tempo preocupado com isso. Basta a cada dia o seu bem, e também o seu mal... Agora deixa eu ir lá trabalhar porque ouço a paciente à minha espera tossir incessantemente. Começamos mais uma semana.

 

Segundou.

 

Até.

domingo, setembro 08, 2024

A Sopa

Eu só tomo café ruim.

 

Antes, uma história que não é original porque já contei para muita gente e talvez até tenha escrito por aqui, não importa. O fato é que quando morei em Toronto, há vinte anos, ao estabelecer uma rotina de trabalho, de ser o primeiro do laboratório a chegar por volta das 8h30, nos reunirmos para um café por volta das 9h, e fazer um intervalo para um novo café por volta das 10h30 e assim o dia seguia. Esse café do segundo intervalo da manhã (quando não tinha ambulatório e pacientes) era comprado no Tim Hortons, rede de cafés canadense, que tinha um quiosque no térreo no Toronto Western Hospital. Pedia sempre o mesmo, café com leite, adoçante. E voltava para o meu posto de trabalho para continuar a manhã, estudando ou trabalhando em projetos do momento. Todos os dias. O mesmo café. 

 

Sou um cara apegado à rotina.

 

Corte no tempo.

 

Voltei ao Brasil ao final do pós-doutorado e tive a oportunidade de ir a um congresso em Toronto dois anos depois da minha volta. A chegada, após o voo de SP para Toronto em classe econômica e não ter dormido quase nada, foi da estranha sensação de voltar no tempo, ou estar preso em um sonho estranho. De qualquer forma, após checkin no hotel, fui passear, inclusive indo no hospital e encontrando alguns velhos conhecidos. Também, como parte do momento nostálgico do meu retorno ao Canadá, decidi tomar um café no Tim Hortons próximo ao hotel onde eu estava, no Downtown.

 

Foi horrível.

 

Era muito ruim. Como posso ter passado dois anos tomando aquele café e gostando, me perguntei, e sei que foi porque – sim – me acostumei a ele, a ponto de em minha memória eu gostar. Esse o risco de vivermos/trabalharmos em relacionamentos ou situações não agradáveis. Podemos nos acostumar e até pensar que estamos gostando (ou até mesmo passar a gostar!). Temos que ter esse cuidado, esse discernimento. 

 

Mas falava que só tomo café ruim.

 

Sim, é verdade, e o mesmo acontece com relação a vinhos. Não quero experimentar os de melhor qualidade porque ao conhecer o que é realmente bom, e voltar a tomar o de antes, normalzinho, do dia a dia, vou saber que ele não é tudo aquilo que eu pensava, e vou gastar muito mais para manter o hábito de tomar os melhores cafés e grandes vinhos. Simples assim. 

 

Certo, não é assim, confesso.

 

Mas poderia ser.


Até. 

sábado, setembro 07, 2024

sexta-feira, setembro 06, 2024

E quem um dia irá dizer

Filme. E música.

Ontem, por um acaso, ao acessar o serviço de streaming Globoplay e constatar que os canais Telecine (que não assino) estavam com sinal aberto, e decidir ver o que estava passando, peguei justamente o início do filme 'Eduardo e Mônica', baseado na música de mesmo nome que está no disco 'Dois', o segundo da Legião Urbana, lançado no final dos anos 80. Eu não havia assistido;

quinta-feira, setembro 05, 2024

Sobre Aprender

Somos, ou deveríamos ser, ao longo da vida, sempre, de alguma forma, aprendizes. 

 

Eu me considero assim, ao menos. Estou sempre disposto a aprender algo, a aumentar o meu conhecimento das coisas, do mundo. É uma forma de humildade, essa eterna curiosidade.

 

Mesmo sabendo que já tenho idade e experiência para ensinar algumas coisas para algumas pessoas, prefiro sempre acreditar que tenho mais o que aprender do que ensinar. Isso em muitos campos do conhecimento. Lembro de um dos ensinamentos atribuídos ao filósofo grego Sócrates, o “só sei que nada sei”. Quanto mais sei, mais sei que não sei. De novo, humildade.

 

Por ter esse espírito de aprendiz, de que sempre existe algo que eu possa aprender, e que as pessoas com quem convivo têm algo a me ensinar, é que gosto de conversar, conhecer pessoas (esse é o espírito por trás do Qual é o Tom, nosso programa no You Tube, confere lá), ouvir suas histórias e estórias.  E gostei da ideia dos mentores, dos mestres, e da possibilidade de conviver com eles.

 

Eu tenho esse privilégio, de conviver com colegas, amigos e amigos-colegas, mais velhos (ou não) e mais sábios do que eu, porque – em nossa convivência – estou sempre pronto a ouvir e aprender. Tenho a sorte e a sabedoria (humildemente, claro) de saber ouvir. Com alguns deles, tenho uma relação meio paternal, na qual ouço o que tem a dizer quase da mesma forma que ouvia meu pai falar e me orientar.

 

Hoje cedo, conversando com um deles, e falando da minha estratégia estoica de tentar não me preocupar com as situações que não dependem de mim, e focar nas que dependem, ele reforçou essa abordagem da vida, e lembrei que ele já havia me falado exatamente isso há mais de 30 anos, quando eu ainda era paciente e aluno seu. E hoje, seguimos com a relação de amizade, nos cafés do início do dia, antes de começar o trabalho. 

 

Sigo aprendendo, sempre.

Até. 

quarta-feira, setembro 04, 2024

O Limite

Desde que decidi viver de forma mais estoica, que passaria a focar nas coisas da vida que dependiam de mim, e procurar não me estressar com o que não dependia e que não era sobre mim, como o trânsito, por exemplo, aparentemente o Universo resolveu testar essa disposição minha. Testar minha resiliência. De verdade.

 

E peço desculpas a você, caso, porventura, possa ter sido afetado. Pode ter sido efeito colateral da provação pela qual estou passando, e que está testando minha determinação viver mais tranquilo, mais sereno. Como disse, não está sob meu controle.

 

Ontem, por exemplo.

 

O trajeto do hospital até minha casa, que normalmente leva cerca de vinte a vinte e cinco minutos, ontem me custou noventa minutos de vida. Hora e meia essa que não vou recuperar nunca, e que – sim – tirou o meu humor. Mais que isso, estava drenando minha energia vital e era fácil perceber isso, mas o meu desagrado não estava focado em ninguém, não era pessoal, não havia ninguém para vociferar contra exceto, talvez, o Universo, esse pândego.

 

Não havia o que fazer, e – ao invés de raiva – senti-me cansado. A vontade que eu tinha era de chegar em casa e não mais sair, apenas tomar banho e ir dormir. Não fui. Fui para o ensaio, e a música melhorou meu dia.

 

Hoje cedo, estava na Santa Casa porque tinha exames de checkup marcados. Cheguei no horário, meia hora antes. Estava atrasado. Muito. Circunstâncias da vida de um hospital. Esperei, esperei. E esperei. O primeiro exame, uma hora depois do horário marcado, não tinha nem previsão de iniciar. Por isso, fomos para o segundo exame. Fiquei trinta minutos com a recepcionista por problemas técnicos com o convênio. Mais espera ainda

 

Fiz o exame, demoraram para me buscar e levar de volta ao local do primeiro exame. O prazo que eu tinha antes da reunião do meio-dia estava se esgotando. Voltei por conta, com acesso venoso no braço. Na chegada, ainda havia tempo a esperar. Disse, com calma e já resignado, que iria cancelar e faze outro dia. Sem problema.

 

Nesse momento, conseguiram fazer o exame.

 

Depois de três horas de atraso.

 

É isso.

 

É um teste, que vou superar (ou ter um dia de fúria, vai saber).

Até.