segunda-feira, setembro 16, 2024

Escrever, Falar

Escrever é uma responsabilidade muito grande.

 

Sexta-feira que passou, final do dia, quando recém havia terminado a minha semana de trabalho, ao chegar em casa, parei para acompanhar uma discussão em um dos diversos grupos de WhatsApp de que faço parte. Discussão acalorada, palavras fortes até. E eu só lendo e eventualmente fazendo comentários via mensagem privada para um dos integrantes do grupo. Foi então que lembrei de uma determinação e um aprendizado de muitos anos, com relação a e-mails e mensagens em geral.

 

Em primeiro lugar, aprendi – quando era Presidente da Sociedade de Pneumologia do RS – que e-mails de trabalho nunca devem ser lidos em uma sexta-feira no final do dia, por uma simples razão: qualquer que seja o problema de trabalho, não terá como ser resolvido durante o final de semana, mas estar ciente dele no final do expediente de sexta só vai causar ansiedade devido à impossibilidade de resolução do mesmo antes de segunda-feira. Vai gerar estresse, vai estragar o final de semana, o que aconteceu comigo algumas vezes.

 

À época, então, decidi (determinei a mim mesmo) não mais abrir meu e-mail nas sextas-feiras a partir do meio-dia. Isso era antes do tempo do WhatsApp, eu sei, mas acredito que ainda assim é possível criar estratégias para evitar esse tipo de situação, mesmo que algumas vezes seja inevitável. E vamos levando.

 

O outro aprendizado para a vida foi de que aquilo que escrevemos tem um peso infinitamente maior do que aquilo que falamos. Aconteceu, de forma meio traumática, quando eu escrevi um e-mail para um amigo dando uma opinião sincera, honesta e não agressiva, com o intuito de ajudar, mas que foi mal interpretada e que causou um mal-estar desnecessário. Não precisava. Fui ingênuo, mas aprendi a minha lição. Se é algo que pode ser sensível, ou quando estás de “cabeça quente”, espera um pouco, pensa bem, com cuidado.

 

Por isso, ao acompanhar a discussão no grupo na sexta-feira no final do dia, optei por não me manifestar, apesar de saber bem o que queria dizer, porque iria escrever e corria o risco de ser mal interpretado. Ou, talvez pior, dizer exatamente o que pensava e as pessoas entenderem exatamente aquilo que eu tinha vontade de dizer...

 

Fui prudente e fiquei na minha.

 

Inteligente, eu sei.

 

Até.

domingo, setembro 15, 2024

A Sopa

Consequências.

Todos os nossos atos na vida têm consequências, desdobramentos. Qualquer decisão que tomamos vai desencadear eventos a seguir com os quais teremos que lidar e que nos exigirão novas decisões com posteriores consequências, e assim por diante. Mais uma obviedade, claro, e sinto/sei que meus escritos são muitas vezes obviedades, mas que precisam ser ditas (por e para mim, ao menos, como parte do pensar a vida).

 

Assim, quando decido os caminhos que seguirei, devo estar ciente de que, ao decidir, estou também abdicando de outras possibilidades, renunciando a outros destinos possíveis. Viver é, também, uma sucessão de histórias não vividas e, por isso, não contadas (em contraponto à definição de que a vida não passa de histórias para contar). 

 

O importante seria, então, escolher aquelas que nos parecem as melhores histórias e as melhores companhias para viver e contar, mesmo sabendo que estamos abrindo mão de algumas (potenciais) boas histórias e pessoas. É um dilema, confesso.

 

Penso, por outro lado, que nem todos podem – por circunstâncias variadas – escolher qual história querem para si, ou alterar o rumo de sua própria, e – obrigados - caminham o caminho que lhes resta (e aí penso em um brete, compartimento ou jaula para reter gado com segurança enquanto estes são examinados, marcados). E é inevitável pensar em ‘Admirável Gado Novo’, música do Zé Ramalho, que diz “Vocês que fazem parte dessa massa / Que passa nos projetos do futuro / É duro tanto ter que caminhar / E dar muito mais do que receber”.

 

Tudo isso para dizer que – nos últimos anos – tive (ou criei) a possibilidade de tomar decisões, fazer mudanças, ajustes, em minha vida. Vivo, a partir daí, conscientemente os resultados dessas opções e estou bem satisfeito com elas (e comigo, admito). Mas, por outro lado, tenho que conviver também com o resultado não só daquilo de que abri mão, mas também daquilo que as pessoas acham que abri mão. Sutil diferença, e consequência das minhas decisões, sei. É questão de aprender a lidar com isso.

 

Estou tentando.

 

Até.

sábado, setembro 14, 2024

Sábado (e somos podcast também!)


A Sopa no Exilio agora é também um podcast! Acesse aqui.

Um podcast com minhas crônicas, ideias, pensamentos, e também sobre pessoas e como nossas vidas estão conectadas de alguma forma. Histórias e estórias. Pessoas, histórias e histórias de pessoas. 

Ficarei feliz com sua audiência.

Bom sábado a todos.

Até.



 

sexta-feira, setembro 13, 2024

Dudu

Uma história (quase) de viagem.

Quando íamos viajar para a Europa a primeira vez, nós, o grupo autointitulado de ‘Perdidos na Espace’, referência à van que havíamos alugado para nossa viagem de 1999, uma Renault Espace de 7 lugares e, claro, à série de tevê ‘Perdidos no Espaço’, tivemos um período de planejamento (e preparação) longo, o que motivou situações divertidas, de reuniões e e-mails trocados. Até escrevi um relato dessa viagem, que dei de presente aos viajantes.

 

Como morávamos em cidades diferentes, e não conseguíamos nos reunir presencialmente com frequência, nos comunicávamos muito por e-mail, já que no milênio passado, quando dessa viagem, ainda nem existiam smartphones, quanto mais WhatsApp. Então, e entre idas e vindas, mudanças de câmbio, divertidos debates e mudanças de roteiro, muito “discutimos” sobre a viagem. Um dos integrantes do grupo que, assim como eu, nunca tinha ido para o Velho Continente, era um dos mais, podemos dizer, ansiosos, ou talvez precavido, e tudo, qualquer alteração do dólar ou problema na geopolítica mundial, tudo era motivo para e-mails, novas divertidas e algumas vezes acaloradas discussões e debates.

 

Apelidei ele de “Dudu, o Alarmista”.

 

Pensando bem, não sei se ele ficou sabendo disso... A referência clara (para quem tem a minha idade) é a um personagem das tirinhas “As Cobras”, do Luís Fernando Veríssimo, e caiu como uma luva nesse nosso amigo.

 

Lembrei disso por causa de um grupo de WhatsApp, entre os muitos de que sou parte, em que um dos integrantes com quase assustadora frequência compartilha notícias de tragédias e potenciais tragédias sobre o mundo, sobre os acontecimentos. Tenho sempre vontade de chamá-lo pelo apelido dado a esse outro amigo há 25 anos, mas acho que o atual alarmista não ia ficar feliz...   

 

Sei lá.


Até.

quinta-feira, setembro 12, 2024

Pontualidade

Horário marcado não é sugestão.

 

Desde que consigo lembrar, estar no horário marcado sempre foi, para mim, o óbvio (ululante, se quiserem). Se combinei algo com alguém em determinado horário, estarei lá no horário combinado, de preferência um pouco antes até. Considero que é uma das regras mais básicas da convivência humana, de respeito ao próximo.

 

Ou deveria ser.

 

É o meu jeito, é quem sou.

 

O trabalho de médico, minha atividade principal, mas não única, e que exerço no meu consultório atendendo pacientes previamente agendados, é um ponto em que procuro, com todas as forças, exercer a virtude – sim, considero uma virtude – de estar sempre no horário. Sou pontual para poder cobrar pontualidade dos meus pacientes. Simples assim.

 

É claro que nem sempre é possível porque há fatores externos, alheios aos nossos planos que podem causar uma quebra na agenda. Posso atender um paciente mais “complicado” que torna a consulta mais longa, posso ter alguma urgência que retarde minha chegada ao consultório, o paciente pode atrasar por diferentes razões, o trânsito incluído. Milhões de possibilidades de situações que podem dar errado. Mas sempre tento manter os horários conforme combinado.

 

Porque, sim, acredito na máxima que abre esse texto. Horário marcado não é sugestão. Para mim, pelo menos, é compromisso.

 

Se como médico procuro agir dessa forma, como paciente espero o mesmo. Nas últimas semanas, enquanto faço exames de checkup (que já me permitiram voltar a pedalar nos finais de semana), tenho tido a experiência de paciente. Em nenhum momento – dessa vez – tenho usado minhas credenciais como médico para receber algum tipo de tratamento especial durante a realização dos exames. Sou um paciente comum, experimentando aquilo que os pacientes passam na mesma situação (experiência recomendada a todos).

 

E tem sido um teste de paciência (mais um por esses dias).

 

Chego no horário marcado, com a antecedência recomendada quando da marcação, passo pelos procedimentos regulares, e espero. E espero. Porque, até aqui, claramente a hora marcada é uma sugestão. Sou bem atendido, com educação e atenção, em alguns lugares mais e em outros menos, o que é do jogo, mas nunca com displicência ou indelicadeza. Quando o atraso é por alguma intercorrência do local, exames de urgência que tem prioridade, pacientes graves, tudo certo, evidentemente. Mas tem situações em que obviamente não são essas as razões do atraso.

 

Parece ser uma cultura de não preocupação com a pontualidade.

 

O que fazer?


Até. 

quarta-feira, setembro 11, 2024

Gafanhotos

É um assunto recorrente. 

Não necessariamente de meus escritos, mas de uma determinada faixa etária vivendo em um determinado ambiente de um determinado (específico, pode-se dizer) extrato socioeconômico do qual mais ou menos faço parte aqui no Sul do Mundo. Falo da experiência (ou das experiências) no litoral gaúcho.

 

Como já disse em outras oportunidades, os verões no litoral norte do Rio Grande do Sul tiveram importância fundamental na minha formação como pessoa, e amigos da época em que passávamos os verões na praia o são até hoje. Éramos uma família de classe média, minha mãe professora e no final de dezembro íamos para o Imbé/RS e ficávamos até depois do carnaval. A convivência com a turma de amigos era intensa, e as histórias são muitas. Tínhamos a liberdade de circular livremente por lá, desde que estivéssemos em casa na hora das refeições, muitas vezes lembrados desse fato pelo assobio característico do meu pai. 

 

Eram outros tempos, claro.

 

E com o passar dos anos, tudo mudou, todos mudamos.

 

A característica do chamado veranear (verbo com significado de passar o verão) mudou, por questões de tempo (quem tem dois meses para passar na praia hoje em dia?), de segurança, e até econômicas (manter uma casa fechada por quase dez meses para uso apenas em janeiro e fevereiro é bem caro). Em meio a tudo isso, surgiu o fenômeno dos condomínios fechados no litoral, uma forma de – de certa maneira – criar a atmosfera do passado em termos de segurança, ao menos.

 

E com a estrutura e o conforto da cidade. Com isso, as pessoas acostumaram-se a frequentar o litoral o ano inteiro, as crianças recuperam a liberdade de circular “soltas” com segurança relativa pelos condomínios. Claro que isso tudo com um custo, que não pequeno, claro. Financeiro e geográfico: a maioria desses condomínios fica longe do mar, em tese o objetivo de se ir para a praia. Por isso a máxima, criada por mim até onde lembro, de que quem gosta de praia tem casa de rua no litoral. Os outros não vão para a praia, vão para o seu condomínio.

 

E está tudo certo.

 

Mas dizia que era recorrente o assunto porque ontem ao chegar na Associação dos Médicos do Hospital da PUCRS para um café logo após o almoço, estavam falando sobre esse tema, e sobre as movimentações noturnas do litoral em décadas passadas. Da migração das noites de verão de uma praia para outra com o passar do tempo. Foi quando contribuí para o tema com a minha teoria da juventude como uma nuvem de gafanhotos.

 

Fica para outro dia.

 

Até.

terça-feira, setembro 10, 2024

Não É

Não é sobre mim. E nem sobre você.

 

Mas deveria ser.

 

Venho, já há algumas semanas, naquele já falado processo de mudança de abordagem com relação ao trânsito: decidi não mais me estressar com o que acontece à minha volta. Resolvi que não era motivo para me irritar, me incomodar. Um esforço consciente, voluntário.

 

O meu mantra passou a ser o “não é sobre ti”, que eu dizia para mim toda a vez que testemunhava uma infração, uma manobra arriscada ou não permitida. O objetivo era ficar na minha, não perder o humor por causa de coisas menores (o trânsito é uma coisa menor na vida).

 

‘Não é sobre ti’, “não é sobre ti’, repetia.

 

Até que me dei conta que deveria - sim -  ser sobre mim, e sobre você também. Deveria sempre ser sobre o outro. Nossas atitudes perante a vida deveriam sempre levar em conta o outro. Pensar em mim, certo, e justo, mas nunca esquecendo de que a convivência em sociedade, em comunidade, a civilização, dependem da consideração que temos pelo outro. A vida torna-se melhor quando vivemos em comunidade, em grupo, e nos preocupamos não só com nosso bem-estar, mas com o do outro também.

 

É o mínimo, mas que as pessoas – não só no trânsito – muitas vezes esquecem. Eu tento lembrar, e agora ainda mais quando estou atrás do volante. Um minuto a mais não vai mudar nossas vidas.

 

Empatia, empatia.


Até. 

segunda-feira, setembro 09, 2024

Segundou

Segunda-feira.

 

Esperando para iniciar os atendimentos no consultório, consigo ouvir a minha secretária falando com os pacientes (e ela gosta MUITO de conversar...). Enquanto fazia as burocracias envolvidas com o convênio para registrar a consulta que deve acontecer em poucos minutos, alguma dificuldade aconteceu, e a paciente comentou que “segundou”, no sentido de começaram as dificuldades, em contraponto – imagino – com o “sextou”, que tem a conotação de que tudo fica bem no final de semana...

 

Lembrei, então, de já ter lido sobre isso, de que seria “ruim” essa espera ansiosa pelo final de semana, onde a vida aconteceria, porque indicaria que a vida entre o domingo e o final da quinta-feira seria apenas o pedágio a ser pago para chegarmos à sexta-feira e à vida de verdade. Restringiríamos nossa “felicidade” a dois dias da semana, porque o domingo já seria uma “pré segunda-feira”. Pois é.

 

Eu gosto do final de semana, e confesso que espero com ansiedade e genuína alegria a chegada de sexta-feira, o que não quer dizer que me arraste por aí, deprimido, pelos outros dias úteis. Cada dia é diferente em algum sentido, tem seu valor e sua beleza. Digo há anos que o melhor dia da semana é a quarta-feira, porque ontem era recém terça e amanhã já é quinta, mas o melhor momento da semana é o sábado de manhã, de sol, e não canso de repetir.

 

O fato de gostar MUITO dos finais de semana, e até esperá-los com alguma expectativa, não significa que eu despreze os outros dias. Aliás, não perco meu tempo preocupado com isso. Basta a cada dia o seu bem, e também o seu mal... Agora deixa eu ir lá trabalhar porque ouço a paciente à minha espera tossir incessantemente. Começamos mais uma semana.

 

Segundou.

 

Até.

domingo, setembro 08, 2024

A Sopa

Eu só tomo café ruim.

 

Antes, uma história que não é original porque já contei para muita gente e talvez até tenha escrito por aqui, não importa. O fato é que quando morei em Toronto, há vinte anos, ao estabelecer uma rotina de trabalho, de ser o primeiro do laboratório a chegar por volta das 8h30, nos reunirmos para um café por volta das 9h, e fazer um intervalo para um novo café por volta das 10h30 e assim o dia seguia. Esse café do segundo intervalo da manhã (quando não tinha ambulatório e pacientes) era comprado no Tim Hortons, rede de cafés canadense, que tinha um quiosque no térreo no Toronto Western Hospital. Pedia sempre o mesmo, café com leite, adoçante. E voltava para o meu posto de trabalho para continuar a manhã, estudando ou trabalhando em projetos do momento. Todos os dias. O mesmo café. 

 

Sou um cara apegado à rotina.

 

Corte no tempo.

 

Voltei ao Brasil ao final do pós-doutorado e tive a oportunidade de ir a um congresso em Toronto dois anos depois da minha volta. A chegada, após o voo de SP para Toronto em classe econômica e não ter dormido quase nada, foi da estranha sensação de voltar no tempo, ou estar preso em um sonho estranho. De qualquer forma, após checkin no hotel, fui passear, inclusive indo no hospital e encontrando alguns velhos conhecidos. Também, como parte do momento nostálgico do meu retorno ao Canadá, decidi tomar um café no Tim Hortons próximo ao hotel onde eu estava, no Downtown.

 

Foi horrível.

 

Era muito ruim. Como posso ter passado dois anos tomando aquele café e gostando, me perguntei, e sei que foi porque – sim – me acostumei a ele, a ponto de em minha memória eu gostar. Esse o risco de vivermos/trabalharmos em relacionamentos ou situações não agradáveis. Podemos nos acostumar e até pensar que estamos gostando (ou até mesmo passar a gostar!). Temos que ter esse cuidado, esse discernimento. 

 

Mas falava que só tomo café ruim.

 

Sim, é verdade, e o mesmo acontece com relação a vinhos. Não quero experimentar os de melhor qualidade porque ao conhecer o que é realmente bom, e voltar a tomar o de antes, normalzinho, do dia a dia, vou saber que ele não é tudo aquilo que eu pensava, e vou gastar muito mais para manter o hábito de tomar os melhores cafés e grandes vinhos. Simples assim. 

 

Certo, não é assim, confesso.

 

Mas poderia ser.


Até. 

sábado, setembro 07, 2024

sexta-feira, setembro 06, 2024

E quem um dia irá dizer

Filme. E música.

Ontem, por um acaso, ao acessar o serviço de streaming Globoplay e constatar que os canais Telecine (que não assino) estavam com sinal aberto, e decidir ver o que estava passando, peguei justamente o início do filme 'Eduardo e Mônica', baseado na música de mesmo nome que está no disco 'Dois', o segundo da Legião Urbana, lançado no final dos anos 80. Eu não havia assistido;

quinta-feira, setembro 05, 2024

Sobre Aprender

Somos, ou deveríamos ser, ao longo da vida, sempre, de alguma forma, aprendizes. 

 

Eu me considero assim, ao menos. Estou sempre disposto a aprender algo, a aumentar o meu conhecimento das coisas, do mundo. É uma forma de humildade, essa eterna curiosidade.

 

Mesmo sabendo que já tenho idade e experiência para ensinar algumas coisas para algumas pessoas, prefiro sempre acreditar que tenho mais o que aprender do que ensinar. Isso em muitos campos do conhecimento. Lembro de um dos ensinamentos atribuídos ao filósofo grego Sócrates, o “só sei que nada sei”. Quanto mais sei, mais sei que não sei. De novo, humildade.

 

Por ter esse espírito de aprendiz, de que sempre existe algo que eu possa aprender, e que as pessoas com quem convivo têm algo a me ensinar, é que gosto de conversar, conhecer pessoas (esse é o espírito por trás do Qual é o Tom, nosso programa no You Tube, confere lá), ouvir suas histórias e estórias.  E gostei da ideia dos mentores, dos mestres, e da possibilidade de conviver com eles.

 

Eu tenho esse privilégio, de conviver com colegas, amigos e amigos-colegas, mais velhos (ou não) e mais sábios do que eu, porque – em nossa convivência – estou sempre pronto a ouvir e aprender. Tenho a sorte e a sabedoria (humildemente, claro) de saber ouvir. Com alguns deles, tenho uma relação meio paternal, na qual ouço o que tem a dizer quase da mesma forma que ouvia meu pai falar e me orientar.

 

Hoje cedo, conversando com um deles, e falando da minha estratégia estoica de tentar não me preocupar com as situações que não dependem de mim, e focar nas que dependem, ele reforçou essa abordagem da vida, e lembrei que ele já havia me falado exatamente isso há mais de 30 anos, quando eu ainda era paciente e aluno seu. E hoje, seguimos com a relação de amizade, nos cafés do início do dia, antes de começar o trabalho. 

 

Sigo aprendendo, sempre.

Até. 

quarta-feira, setembro 04, 2024

O Limite

Desde que decidi viver de forma mais estoica, que passaria a focar nas coisas da vida que dependiam de mim, e procurar não me estressar com o que não dependia e que não era sobre mim, como o trânsito, por exemplo, aparentemente o Universo resolveu testar essa disposição minha. Testar minha resiliência. De verdade.

 

E peço desculpas a você, caso, porventura, possa ter sido afetado. Pode ter sido efeito colateral da provação pela qual estou passando, e que está testando minha determinação viver mais tranquilo, mais sereno. Como disse, não está sob meu controle.

 

Ontem, por exemplo.

 

O trajeto do hospital até minha casa, que normalmente leva cerca de vinte a vinte e cinco minutos, ontem me custou noventa minutos de vida. Hora e meia essa que não vou recuperar nunca, e que – sim – tirou o meu humor. Mais que isso, estava drenando minha energia vital e era fácil perceber isso, mas o meu desagrado não estava focado em ninguém, não era pessoal, não havia ninguém para vociferar contra exceto, talvez, o Universo, esse pândego.

 

Não havia o que fazer, e – ao invés de raiva – senti-me cansado. A vontade que eu tinha era de chegar em casa e não mais sair, apenas tomar banho e ir dormir. Não fui. Fui para o ensaio, e a música melhorou meu dia.

 

Hoje cedo, estava na Santa Casa porque tinha exames de checkup marcados. Cheguei no horário, meia hora antes. Estava atrasado. Muito. Circunstâncias da vida de um hospital. Esperei, esperei. E esperei. O primeiro exame, uma hora depois do horário marcado, não tinha nem previsão de iniciar. Por isso, fomos para o segundo exame. Fiquei trinta minutos com a recepcionista por problemas técnicos com o convênio. Mais espera ainda

 

Fiz o exame, demoraram para me buscar e levar de volta ao local do primeiro exame. O prazo que eu tinha antes da reunião do meio-dia estava se esgotando. Voltei por conta, com acesso venoso no braço. Na chegada, ainda havia tempo a esperar. Disse, com calma e já resignado, que iria cancelar e faze outro dia. Sem problema.

 

Nesse momento, conseguiram fazer o exame.

 

Depois de três horas de atraso.

 

É isso.

 

É um teste, que vou superar (ou ter um dia de fúria, vai saber).

Até. 

terça-feira, setembro 03, 2024

Tenho Medo

Os Fantasmas Se Divertem, mais uma versão ruim de título de filme em português para uma produção americana, é um filme de 1988, originalmente intitulado Beetlejuice,  uma comédia de terror dirigida por Tim Burton, e que tem uma nova versão (ou sequência) sendo lançada esse ano. Sem dar maiores detalhes, ou spoilers, sabe-se que, para invocá-lo, que é um fantasma, basta dizer o seu nome três vezes.

 

Confesso aqui que tenho medo do algoritmo.

 

Sem sermos paranóicos, sabemos que nossos celulares estão ouvindo o que dizemos o tempo todo. Prova disso é que basta falarmos que estamos interessados em um carro novo, por exemplo, que seremos inundados por anúncios de carros em nossas redes sociais, Google e outros formas de propaganda “personalizadas”. É aquele papo do “Grande Irmão”, nos vigiando o tempo todo.

 

É por isso que tenho evitado falar determinados nomes, para não ser soterrado por informações não solicitadas a respeito desses nomes, como o de um influencer que é candidato a prefeito de São Paulo. O pouco que ouvi falar dele é o suficiente para saber que NÃO preciso e não quero estar relacionado a nada que tenha a ver com ele. Esses tempos me foi sugerido pesquisar mais a respeito dele, no que respondi que “nem pensar”, porque depois nunca mais voltar retirar ele de minha timeline. Não vou cair nessa armadilha, até porque basta dizer uma vez o nome dele, ao invés de três...

 

Acontece o mesmo com música.

 

Tenho um grande cuidado com o que ouço, mesmo que por curiosidade (mórbida, algumas vezes), porque vai ficar marcado em meu DNA digital e serei “perseguido” por tal gênero ou grupo ou mesmo artista. Ao mesmo tempo em que nos oferece um mundo de possibilidades, o algoritmo está sempre tentando nos aprisionar em sua rede.

 

Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice.


Até. 

segunda-feira, setembro 02, 2024

Os Fakes

Já não tenho a visão perfeita.

 

Lembro ainda, há muitos anos, quando eu afirmava, por certeza, que tinha “olhos de lince”, ou seja, visão apurada, irretocável. Era uma característica minha, uma altura boa (mais de um metro e oitenta) e ótima visão. Era praticamente um posto de observação. Até que um dia descobri que não, minha visão já não era tudo isso.

 

Miopia.

 

Colocar óculos foi uma revelação, o mundo voltou a ter cores, o verde era mais verde e coisa e tal. E não tive problemas com isso. Me adaptei facilmente aos óculos e às lentes de contato (que usei até não poder mais por indicação médica). Como meu grau não nunca foi muito alto, algumas vezes até sem os óculos ficava bem (é assim até hoje).

 

Mas o tempo passou, e um fenômeno (vou chamar assim) de nome presbiopia aconteceu: minha visão para perto começou a progressivamente a piorar, a ponto de precisar de óculos de leitura para uso diário. Também tudo certo, sem problemas, exceto quando recebo a conta em um restaurante à noite, com pouca luz, porque aí é impossível ler o que está discriminado na mesma, o que motivou a decisão de andar com óculos de leitura comigo para essas situações.

 

Em resumo, então, minha visão é boa apenas para médias distâncias. Para longe ou perto, preciso de óculos. O que me causa situações – ao menos – engraçadas.

 

Como quando encontro os fakes de conhecidos.

 

Como parte das minhas atividades físicas, enquanto estava sem poder pedalar aos finais de semana (desde a queda e o braço quebrado e depois aguardando um checkup que estou fazendo), eu passei a fazer caminhadas nos finais de semana de manhã, quando possível, algumas vezes indo e voltando da academia, outras apenas caminhando. E sempre encontro alguém conhecido. Ou quase.

 

Me acostumei a estar caminhando (sem óculos) e ver, vindo em sentido contrário, alguém que de longe se parece um amigo que costuma caminhar no Parcão e que, quando se aproxima, vejo que NÃO TEM NADA A VER. Como esse evento se repete, e não é sempre a mesma pessoa que se parece com o amigo, me acostumei a dizer que “encontrei” o Fake Pablo. E até quando encontrei o real, fiquei até o último minuto em dúvida entre se era o real ou o fake.

 

No último sábado, vinha eu voltando da academia quando, ao longe, avistei o amigo e colega Amadeu, que volta e meia encontro por lá também. À medida que se aproximava, eu pronto para iniciar uma conversa, lembrei que ele havia viajado na sexta-feira para pescar na Amazônia. Por uns instantes fiquei confuso, até que – próximo a mim – tive a certeza de que não era ele, apesar de muito parecido. Era um fake.

 

Esse mundo está cheio de gente falsa mesmo.

 

Ou eu tenho que passar a usar óculos o tempo todo.

 

Até.

 

domingo, setembro 01, 2024

A Sopa

Sobre a potencial selvageria.

 

Existe uma linha tênue, sutil, uma fronteira que poderia ser facilmente transposta por qualquer um a qualquer tempo e que, caso realmente transposta, a vida em sociedade se inviabilizaria. É a linha que nos torna humanos não psicopatas. 

 

Vinha pensando isso esses dias, naquilo diferencia um psicopata de um não psicopata, e que me parece ser, de forma resumida e simplista, a inexistência da consciência da consequência, ou, melhor, a necessidade urgente de satisfazer um desejo (mórbido ou não) e não existir o depois. A não existência do ego e do superego. O psicopata cruza essa fronteira entre a civilização e a barbárie sem maiores preocupações (sem perceber?) com o que poderá acontecer. Mas não só isso.

 

Estamos sempre transitando próximos a essa fronteira, mesmo que não nos demos conta, em múltiplas situações diárias, corriqueiras, banais. Quando o barbeiro faz minha barba, por exemplo. Estou lá na cadeira, com uma toalha em meu rosto, sem enxergar, algumas vezes até cochilando, enquanto ele faz o seu trabalho, a navalha a centímetros de minha carótida. Seria muito fácil, num impulso, cortar minha garganta. Eu nem veria o que me atingiu, sentiria uma dor fina e depois nada... 

 

Ou quando estamos em algum lugar alto, olhando para baixo, e surge o pensamento de que poderia cair, ou empurrar alguém que estivesse junto. Ou cometer um ato violento gratuito, do nada.

 

O que nos impede de dar o passo em frente, usar a navalha, empurrar ou atacar alguém?

 

A noção do que é certo e errado, claro. A empatia, o não fazer com os outros aquilo que não gostaria que fizessem contigo, mas também o medo e a consciência das consequências. Tudo isso junto. É isso o que nos define como seres humanos, como parte do todo. Não somos seres isolados.

 

E não apoiamos a barbárie. Melhor, não deveríamos apoiar.


Uma boa forma de fazer isso é conhecer a história. Estudando, não correríamos o risco de dizer, ou fazer bobagens, como enaltecer pessoas que mereceriam ser esquecidas. Sei lá.

 

Apenas reflexões depois de um passeio em sábado de manhã no Parcão, em Porto Alegre.

 

Até.