sexta-feira, novembro 29, 2024

Quase Trinta (e o espelho)

Eu gosto de quem vejo quando olho no espelho. 

Uma premissa que deveria ser básica em todo mundo, gostar de si mesmo, mas que nem sempre acontece, pelas mais variadas razões. Algumas pessoas não gostam de sua aparência, outros não estão felizes com sua vida profissional, enquanto ainda outros tem culpas e arrependimentos que não permitem olharem o espelho e gostarem do que veem.

 

Eu, como disse, gosto.

 

Podemos dizer que aprendi a conviver comigo mesmo. Já sei quais são os meus defeitos, as minhas qualidades, os meus pontos fracos e os pontos fortes, em que sou de confiança. Tenho, como todos, arrependimentos e algumas culpas, mas estou em paz com o passado, sei que posso construir o futuro (e sei que futuro eu quero para mim) e cada vez mais procuro viver o presente. Claro que nunca é tão simples ou fácil, mas é uma batalha diária, e – com o tempo que passa – vamos levando (espero) cada vez melhor.  

 

Tenho feito essas reflexões com mais intensidade nos últimos tempos, porque aproximam-se datas marcantes em minha vida: trinta anos de formado, trinta anos que estou com a Jacque, vinte anos que morei no Canadá e defendi meu doutorado, entre outras. Momentos de parar um pouco e olhar para trás, avaliar a passagem do tempo, e perceber que o caminho tem sido bom.

 

Tem sido.

 

Até.

 

(tudo porque cedo me olhei no espelho e percebi o quão libertador é não precisar pentear o cabelo...)

quinta-feira, novembro 28, 2024

Sobre o Pensar e o Fazer

Ação.

 

Sempre fui alguém de ter muitos planos. Estava sempre com ideias e projetos que gostaria de executar, nas mais variadas dimensões da vida. Projetos de trabalho, projetos paralelos, projetos pessoais. A (minha) mente sempre muito ativa, neste sentido.

 

Mas sentia, tinha essa impressão, cá com meus botões, que pouco disso tornava-se realidade, que quase nenhum deles fazia a vital transição entre o pensamento e a vida real.  Eu era um sonhador, mas não um realizador.

 

Muito disso era porque, na maior parte das vezes, eu achava que tinha que me preparar melhor para a execução dos mesmos, deveria estar pronto, e ficava na inércia de nunca me achar em condições de iniciá-los. Algumas vezes, tinha a ideia, mas enquanto não me sentia pronto, alguém que tivesse tido a mesma ideia (ou parecida) a “colocava na rua” e seguia em frente.

 

Aprendi com o tempo, e continuo aprendendo, que – se esperar estar pronto para qualquer coisa na vida – nunca farei (faremos) nada. Para chegar a ser bom em algo, inevitavelmente teremos que passar pela fase de não sermos bons, porque para tudo na vida existe o que chamamos de curva de aprendizagem. A prática leva ao aperfeiçoamento, à melhoria.

 

A partir dessa compreensão, de que não preciso dominar completamente algo para começar, que me tornei com o tempo alguém de ação, e não apenas de sonhos. E as coisas têm acontecido, até porque uma coisa leva à outra, e enquanto caminhamos, portas se abrem e vamos criando oportunidades e projetos.


Até. 

quarta-feira, novembro 27, 2024

A Jornada

Desconforto.

 

De tempos em tempos, em variadas situações em diferentes lugares de convívio, ocorrem momentos de me sentir deslocado, inadequado, desconfortável. Como se não pertencesse ao ambiente, como se fosse um estranho. Não é uma sensação agradável, evidentemente, mas sei ser parte da vida. 

 

E tem muito mais (ou tudo) a ver comigo, não com os outros.

 

São momentos de frustração, em que as coisas não saem exatamente como eu gostaria que saíssem, e tenho que lidar com esses sentimentos. Ao longo da vida, tenho aprendido a lidar com eles, evidentemente, afinal não sou um bebê chorão que se atira no corredor do supermercado porque os pais não compraram o chocolate que ele queria. É parte do crescimento, o saber lidar com frustrações.

 

Muitas vezes é uma luta interna, isso de aceitar as coisas como são e não como eu gostaria que fossem, porque muitas vezes realmente não são. Como eu disse, é da vida. E, quando não dependem de mim, menos razão para frustração. Racionalmente, é simples, mas vai explicar isso para a “criança birrenta interior” que todos possuímos.

 

E a jornada do autoconhecimento passa por entender esses contratempos, essas inconveniências da vida e aprender a lidar com elas. Lembro de, há alguns anos, em uma conversa com um ex-colega de trabalho, de ele ter me contado algum antigo detalhe sobre uma relação prévia do trabalho que fizemos juntos (que eu não precisava saber). Na hora, pensei que eu passaria as próximas 48 ou 72 horas ‘remoendo’ o assunto, encucado. O simples fato de me dar conta disso, de ser consciente, de reconhecer um padrão, me fez ficar sereno, mais tranquilo.

 

E assim em outras dimensões da vida.

 

Reconhecer padrões, saber que potenciais frustrações vão acontecer e está tudo bem, aprender a lidar com isso, torna a jornada mais leve.

 

E é o que queremos, ser mais leves.


Até. 

terça-feira, novembro 26, 2024

Rir, Gargalhar

Aconteceu sábado passado.


Estava em um jantar da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul, evento de final de ano, com a apresentação dos novos pneumologistas, aqueles que estão completando sua formação na especialidade, e - também - confraternização dos diferentes serviços do estado. O momento formal, em que cada representante de Serviço de Pneumologia, Cirurgia Torácica e Pneumologia Pediátrica apresenta o(s) residente(s) que está (estão) completando sua formação e fala algumas palavras sobre o(s) formando(s), e todos acompanhamos atentos. Em meio a uma das falas, alguém da mesa em que estou faz um comentário engraçado. E eu rio. Alto.

 

Eu gargalho, na verdade.

 

Gargalho, do verbo gargalhar, rir de maneira barulhenta, exagerada.

 

Em meio ao silêncio do momento mais ou menos ritual, e todos olham para mim, sem entender, e possivelmente algum desses olhares é de censura, mas não me importo. Sigo como nada tivesse acontecido, porque nada de excepcional e nem de inapropriado aconteceu.

 

Porque eu sou assim, de rir de maneira barulhenta e exagerada.

 

É uma característica minha e uma declaração ao mundo. 

Até. 

segunda-feira, novembro 25, 2024

A Zona de Conforto e a Bolha

Ainda a bolha.


Estar na Zona de Conforto não é a mesma coisa que ficar em sua bolha. Definitivamente, ‘a bolha’ não é a zona de conforto. Ou talvez sejam a mesma coisa, ou muito parecidas, mas vistas de modo diferente, conforme a situação em questão. Como o sustenido e o bemol em uma escala musical, grosseiramente falando.

 

Tudo é perspectiva.

 

A Bolha é restritiva, limitada, e nos provém uma falsa sensação de segurança, por isso a semelhança com o que chamamos de ‘zona de conforto’. Como todos na bolha pensam da mesma forma, a nossa, e ali é onde o viés de confirmação é mais intenso, podemos confundir as coisas, pensar que estamos em nossa zona de conforto ao invés de estarmos presos em nossa bolha. Ali, estamos como o sapo na panela no fogo, que vai aquecendo a água lentamente e vamos sendo cozidos sem perceber, sem lutar...

 

Não confunda, por outro lado, o que eu chamo de zona de conforto com aquilo que os coachs chamam de zona de conforto. Não é um lugar de estagnação, de não realização. Ao contrário, a minha zona de conforto é o local de onde partimos para avançar, evoluir, inovar. Exatamente o contrário de estagnar, de estar – justamente – restrito pelos limites da bolha.

 

Sem falar que a minha zona de conforto é o lugar onde acontecem os churrascos, os encontros com os amigos, a música.


Até. 

domingo, novembro 24, 2024

A Sopa

“O mundo é maior que teu quarto...”. 

Tudo é a narrativa.

 

A realidade é o que vemos e como interpretamos o que estamos vendo, muito mais do que qualquer outra coisa. A vida é a história que nos contamos e que contamos aos outros. Tudo é, no fim, questão de interpretação.

 

Por isso que viver em bolhas nos dá segurança: todos ali, em nossa volta, compartilham a mesma visão dos fatos, e interpretam virtualmente da mesma maneira. Fala-se o mesmo dialeto que é interpretado do modo semelhante. E é por isso que pessoas que pensam diferente, vivem de forma diferente, falam outro idioma, podem ser perturbadoras para muitos. Porque podem abalar nosso viés de confirmação.

 

De novo: é bom viver em uma bolha.

 

É confortável, seguro. Na bolha estamos seguros, todos nos conhecem e sabemos o que esperar, sabemos o que dizer e sabemos que vamos ouvir aquilo que vai confirmar tudo aquilo em que acreditamos. E lembro do filme estrelado pelo John Travolta, The Boy in the Plastic Buble, de 1976, em que ele, por um problema de imunidade, é criado e vive dentro de uma bolha, que o protege de infeções. É mais ou menos o que acontece atualmente, em que vivemos em ‘bolhas’, livres do risco de sermos expostos a opiniões e visões de mundo. Bendita bolha.

 

Viva a bolha!

 

Porém...

 

A bolha é a caverna de Platão, em que vemos apenas as sombras refletidas na parede, e na bolha não conseguimos enxergar o mundo com toda sua luz, sua nitidez, com todas suas cores. Se não sairmos de caverna/bolha, se não ouvirmos e vermos outras visões e versões da realidade, nunca poderemos saber qual é a nossa própria realidade.

 

Devemos furar a bolha, o que pode nos deixar desconfortáveis e inseguros até, mas é a única forma de termos uma ideia melhor de como as coisas são, em sua incrível diversidade de cores e nuances e luzes.

 

Até.

sábado, novembro 23, 2024

Sábado (e por aí, Porto Alegre)

Casa de Cultura Mário Quintana
 
De uma tarde circulando por aí, e era tempo de Feira do Livro

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, novembro 22, 2024

Remando

2x1x2x2.

 

Levando-se em conta a época do ano, e o ano em especial, 2024, com todas as suas contingências e histórias, tudo aquilo que passamos, e enquanto ainda falta pouco menos que quarenta dias para terminar, penso que o regime de trabalho mais adequado seria o exposto acima. Dois dias de trabalho, feriado, dois dias de trabalho, final de semana.

 

Seria perfeito.

 

Mais do que isso, necessário.

 

Essa semana mostrou exatamente isso. Porque, mesmo com o feriado de quarta-feira, a sensação que tenho é de que tenho carregado peso mais do que seria recomendado diariamente. Tipo, a gravidade parece que aumentou, os olhos têm pesado, a necessidade de café maior. Bem maior.

 

Caminhamos quase no automático rumo aos dias de descanso do final de ano. Um dia depois do outro, um passo depois do outro.

 

Até. 

quinta-feira, novembro 21, 2024

Sobre o Caminhar

Pensamentos.

 

Sempre me pergunto se existe um momento em que temos tudo resolvido, tudo claro e estabelecido. Nosso lugar no mundo, nosso papel, nossa função na engrenagem das coisas. Ou, melhor, quando é que isso acontece, se é que acontece. Se em algum momento vamos saber exatamente o que estamos fazendo na vida. 

 

Sinceramente, não sei.

 

Já passei há muito tempo da fase de achar que os outros sabiam, e que minhas dúvidas eram exclusivas minhas, que ia improvisando à medida que ia sendo apresentado às diferentes situações enquanto as pessoas, ou a maioria delas, estavam sempre preparadas porque tinham traçado o seu caminho. Aprendi que todos estão no mesmo barco, ajustando as velas conforme o vento para pode chegar ao destino desejado.

 

Aprendi mais, ainda. Que as pessoas não sabem bem aonde estão indo ou mesmo aonde querem ir, e eu não estava sozinho em minhas inquietações. Os outros apenas disfarçavam melhor, ou eu achava que sim porque ninguém conversava sobre isso. E nem todos tem a oportunidade de se questionarem isso, porque preocupadas em sobreviver.

 

Falava, então, sobre saber o caminho, saber o que se está fazendo no mundo, na vida. Lembro da teoria das portas abertas, que talvez seja minha ou eu tenha lido em algum momento no passado, e que diz que – ao longo do tempo – enquanto se caminha e, à medida que portas se abrem (ou são abertas pelo caminhante), se vai entrando e vivendo o que vem a seguir. Se trocar portas abertas por desvios, ou diferentes rotas em um caminho, é o mesmo que o criar o caminho enquanto se anda. Ninguém tem tudo pensado ou organizado. Vamos desbravando o caminho durante a viagem, durante a vida.

 

E, ao olharmos para trás, em qualquer momento da caminhada, e vermos os caminhos percorridos, as estradas, tortuosas, sinuosas ou não, poderemos ter uma ideia do todo, do sentido das coisas. Saber se criamos uma narrativa coerente com o que desejávamos ou não, e até alterar o rumo se desejarmos. Eu tenho olhado para a minha estrada, percorrida e para onde imagino estar indo.

 

Gostei do que vi.

Até. 

quarta-feira, novembro 20, 2024

Consciência (ou não)

Humanidade.

 

Esses dias, involuntariamente, porque preferia não ter ouvido, acabei testemunhando uma conversa em que falavam da data de hoje, o Dia da Consciência Negra, e a pergunta que não queria ter ouvido, mas a pouca distância que eu estava do diálogo não permitiu, foi “e o dia da consciência branca?”. Em silêncio, porque eu não participava da conversa, lamentei pelo interlocutor, porque não ele sabia o que dizia.

 

O mesmo quando falam em celebrar o dia do homem, ou sobre uma marcha dos heterossexuais. Excetuando-se excessos que ocorrem aqui e ali, é difícil dizer qualquer coisa porque é de uma falta de noção e/ou conhecimento de história incríveis. Ou pior.

 

Falta de empatia.

 

Até.

terça-feira, novembro 19, 2024

Um Dia sem Sol

Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro.

 

Ninguém consegue ser feliz o tempo inteiro, exceto idiotas e outros tipos “sem noção”. Existem muitos por aí, todos sabemos, mas a felicidade constante não é real. Temos que aprender a viver nessa – às vezes mais, outras menos – montanha-russa de emoções. A virtude – também nessa situação – se encontra no meio termo.

 

Devemos saber que situações que não nos agradem irão acontecer com frequência na vida, são parte dela, e devemos aprender a (1) lidar com elas, com as frustrações; e (2) não deixar que elas interfiram em nossa relação com as pessoas, com o mundo. Nem sempre é fácil, e aprender tudo isso é desafiador.

 

Existem dias, e semanas, boas e outras ruins. Temos que navegar por elas da mesma maneira, sem que nossas inquietações e aborrecimentos nos tornem pessoas de difícil convívio. Antes de tudo, claro, temos que querer não nos tornarmos essas pessoas difíceis, e a verdade é que nem sempre queremos...

 

Até.

  

segunda-feira, novembro 18, 2024

O Novo Sempre Vem

E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

 

Hoje cedo, indo trabalhar, ouvia Belchior e sua “Velha Roupa Colorida”, o sol tentando romper a camada de nuvens que fizera chover um pouco logo antes da hora de sair de casa, o céu que agora já é azul, e sorri. É primavera, o verão se aproxima junto com o final de ano, e começou a estação das confraternizações e celebrações.

 

Por isso a importância do final de semana que passou ter sido de ficar em Porto Alegre, em casa, principalmente, mas também de Feira do Livro, caminhada pelo Centro Histórico como turista, visitando e descobrindo lugares novos para mim, e leituras e descanso. Estava (estávamos) precisando.

 

Também avancei em uma ideia, que era vontade, mas também necessidade, de organizar armários e gavetas com o foco em desapegar, parar de guardar o que não é utilizado porque perdeu a utilidade e função. Muito lixo jogado fora. Cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim...

 

Não fui tão fundo assim nesta organização, que será continuada espero que em breve, porque esse é realmente o plano, deixar apenas o essencial para poder caminhar mais leve, apenas com o que é importante, e dar espaço para o novo, porque - mesmo algumas vezes dando a impressão de ser aquele que ama o passado – sei que o novo sempre vem...

 

Desapegar é importante.


E isso vale para objetos, memórias e pessoas.

 

Até. 

domingo, novembro 17, 2024

A Sopa

De quando me perdi.

 

Não geograficamente, claro, talvez desorientação com relação a quem eu era e quem estava me tornando, ou deixando de ser. Houve um momento em que, sim, não me reconheci ao olhar no espelho.

 

E não tem como não pensar em música, em ‘não vou me adaptar’. E, por um período, mesmo que ninguém tenha percebido, e mesmo que, à época, fosse metaforicamente, eu não cabia mais nas roupas que eu coubera, não enchia mais a casa de alegria, os anos haviam passado enquanto eu dormia e quem eu quisera bem, me esquecera. A pergunta que me fazia era se eu havia falado o que ninguém ouvira, ou escutado o que ninguém dissera. Parecia mesmo que eu não ia me adaptar...

 

Isso foi há muito tempo mesmo, antes da Jacque, antes ainda de entender muito do que entendo hoje da vida, porque faltava tempo, faltavam histórias, as histórias que conto aqui e ali, vez que outra. Nesse sentido, tudo o que escrevo é para, repito, tentar me entender, e – dessa forma – tentar entender o mundo em que vivo.  

 

Encontrar o meu lugar nisso tudo, esse sempre foi um dos meus anseios, um dos meus objetivos. Estar em ambientes e com pessoas onde eu me sentisse parte, não que eu estivesse tendo que me esforçar para encaixar, ‘forçando a barra’ para ‘fazer parte’. E, talvez mais importante, deixando de estar em, saindo de ambientes onde não posso ser quem eu sou cem por cento do tempo e que seja respeitado por isso, por ser quem sou. Tenho, aos poucos, conseguido. 

 

E não consigo terminar sem música...

 

Porém o céu parece estúdio

Nem o silêncio não diz nada

Mesmo essas frases vão pro lixo

São como lenços de papel

Ainda por cima aquelas pernas

Algumas coisas serão eternas

Que bela ideia acreditar

Que o mundo te aprendeu

Até. 

sábado, novembro 16, 2024

Sábado (e Por aí, Porto Alegre)

 

Sábado, de sol


Como nos velhos tempos (antes da queda, da fratura e da cirurgia no braço, um ano atrás)...

Manhã de sol e atividade física.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, novembro 15, 2024

Histórias de Consultório (3)

O Fantasma do Moinhos.

 

Uma paciente já de alguns anos, que havia iniciado acompanhamento comigo em uma avaliação preparatória para uma cirurgia bariátrica que nunca aconteceu, e que – por ser portadora de asma - acabou ao longo do tempo se tornando minha paciente e amiga. Como vive sozinha, acaba passando longos períodos do ano morando na França, em Paris. Por já ser bem conhecida minha, muitas vezes faço orientações por mensagens e ligações telefônicas.

 

Ao longo do tempo, desenvolveu um quadro de artrose em ombro (e escrevo isso com o fantasma da dor em meu ombro esquerdo pairando sobre mim) que foi agravando a ponto de ser indicada a colocação de uma prótese, procedimento esse realizado na metade desse ano no Hospital Moinhos de Vento. O procedimento em si ocorreu sem intercorrências, mas o pós-operatório foi complicado por uma queda na oxigenação dela e por dores, atrozes, na versão que ela contou. Por isso, foi medicada com altas doses de morfina e também do canabidiol que utiliza para o seu quadro, diz que ficou muito tempo meio ”fora do ar”. 

 

Devido às complicações clínicas que teve, um médico internista foi chamado para avaliá-la e orientar o tratamento. Em virtude dos horários complicados de quem faz internação, provavelmente por isso esse internista ia vê-la diariamente em horários alternativos, normalmente à noite, quando havia pouco movimento na UTI. 

 

Devido ao efeito das medicações, e pelo fato de estar em uma UTI, a noção de tempo havia sido perdida, e como o médico – ao vê-la – mais ouvia o que ela tinha a dizer do que falava alguma coisa, ela se convenceu que era um fantasma quem a visitava durante às noites do hospital. Criou (criamos, na consulta) uma narrativa que envolvia um antigo médico alemão que havia morrido solitário muitos anos antes e hoje circulava à noite pelos corredores do Moinhos de Vento, o hospital, conversando com os pacientes, buscando e levando conforto a quem precisasse, a quem estivesse se sentindo só, desamparado. 

 

Ficou sinceramente decepcionada quando descobriu a verdade.

 

Eu também fiquei, eu também fiquei.


Até. 

quinta-feira, novembro 14, 2024

Felicidade

Sobre a felicidade.

 

Quase todo mundo, ou uma parcela das pessoas, de uma forma ou outra, tem a sua fórmula para a felicidade, e sou parte desse grupo. E deve ser visto como um privilégio, uma honra poder se preocupar em ser feliz ou não, afinal muitos estão – antes de tudo – preocupados em sobreviver, um passo anterior ainda a sequer pensar em ser feliz ou não. 

 

Comida, um teto sob o qual dormir, relações pessoais. No fundo, não precisamos muito mais que isso para viver e – sim – sermos felizes. Não nos compararmos com os outros. Contato com a natureza, atividade física, exercer a gratidão. Todos essas são recomendações para se obter, ou chegar ao que se chama de felicidade.

 

Nenhuma dessas é, contudo, a minha fórmula para isso. 

 

Não interessa a minha “receita” para a felicidade.

 

Cada um tem a sua, como eu disse, e cada um sabe por onde fazer. Não sou eu quem vai pretender ensinar a quem que que seja como viver. Até porque, se formos cientificamente rigorosos, nenhuma dessas recomendações é baseada em estudos fortes, com poder de comprová-las ou desmenti-las (vinha ouvindo um podcast sobre isso hoje mais cedo).

 

Enfim, a mensagem que fica – para mim - é que cada um sabe de si.

 

‘Fica na tua’, é o lema pelo qual procuro viver.


Até. 

quarta-feira, novembro 13, 2024

Os Sequestradores do Tempo

Começou na pandemia.

 

Com boa parcela das pessoas – aquelas que podiam, claro – isoladas em casa, muitas trabalhando no sistema de home office, com muito tempo disponível, tornou-se, pelas óbvias circunstâncias, comum os eventos médicos (e aqui falo especificamente disso) realizados de maneira remota, online. Era extremamente conveniente para os promotores de tais eventos, principalmente os promocionais ligados à indústria farmacêutica: os gastos com os eventos eram mínimos, porque a audiência estava em sua casa.

 

Era perfeitamente compreensível.

 

De novo, não falo de congressos médicos, eventos científicos promovidos por entidades médicas. Falo daqueles científico-promocionais, que falam, claro, de ciência, mas também dos produtos das empresas promotoras. 

 

Antes da pandemia, esses eventos – quando nacionais, locais – eram feitos em restaurantes, situações em que, além da parte de atualização médica, havia a oportunidade de encontro com colegas e amigos médicos em um local agradável. A pandemia, por óbvias razões, interrompeu, impediu esse tipo de evento. E virou uma festa: os eventos online – sempre noturnos – ocorriam quase que diariamente. Muitas vezes ficava difícil acompanhar todos os que gostaríamos.

 

Mas a pandemia acabou.

 

A partir de então, na minha percepção, acabou qualquer justificativa para eventos online, em dias úteis, à noite. Após um longo dia de trabalho, tudo o que não quero é chegar em casa e ficar em frente a uma tela assistindo aulas médicas. Pior que isso, só sábado pela manhã, e já falei antes sobre isso. A questão é do valor que cada um dá ao seu tempo. Tenho a sensação de que foi perdido pudor em tentar ‘sequestrar’ o tempo, a atenção das pessoas. Como se fossem dementadores e estivessem sugando nossa energia vital...


E não tem nada de mais valor do que o nosso tempo.

 

Até.

terça-feira, novembro 12, 2024

Sobre o trabalho

A jornada de trabalho.

 

Está em discussão, em redes sociais e no Congresso Nacional, e espero que não tenha sido nessa ordem que tenha acontecido, a redução da jornada de trabalho semanal, de quarenta e quatro para trinta e seis horas de trabalho semanais. Que fique claro, seria a redução da jornada máxima de trabalho, atualmente de quarenta e quatro horas semanais em até oito hora diárias.

 

Não sei o que pensar, ainda.

 

Porque é fora da minha realidade, como médico e como agora também empreendedor. Trabalho (trabalhamos) muito mais. Aliás, durante anos pensei em como seria legal ter uma atividade em que trabalhasse de segunda a sexta-feira em horário comercial e, ao terminar meu expediente, fosse embora e não precisasse me preocupar com o trabalho. Que pudesse desligar 100% da minha atividade profissional. Não consegui, de novo, até por características específicas da atividade médica.

 

E, no último ano, também como empreendedor, sócio de uma escola de música, mais ainda, porque os finais de semana (que durante muitos anos foram de plantões e pacientes) são momentos de atividades relacionadas. Então, existem semanas em que trabalho de segunda a sexta-feira no horário comercial, e que se estende às vezes até bem mais tarde, e que os finais de semana são de atividades, como o último sábado, em que passamos mais de doze horas envolvidos com o evento de Halloween da School of Rock Benjamin POA, entre montar, o evento em si e desmontar tudo.

 

Independente disso, sempre fui partidário de que naquelas atividades em que tarefas específicas são executadas, como por exemplo atendimentos de pacientes eletivos, e que não dependem de tempo, a jornada de trabalho deve ser a execução dessas tarefas. Diferente de plantões médicos, ou atendimento de clientes, em que alguém deva estar sempre disponível, situação em que deve existir um horário a ser cumprido.

 

Cada atividade tem suas características específicas, e o trabalho – jornada, remuneração, as condições em geral, tem de ocorrer de uma forma que seja bom, adequado e produtivo para todos, empresário, trabalhador e cliente.

 

A discussão deveria partir dessa premissa.

  

Até.

segunda-feira, novembro 11, 2024

Otimização do Tempo

Organização.

 

O trabalho diário, como médico, envolve muito mais do que “apenas” atender pacientes, a atividade principal. Além de avaliar, diagnosticar, indicar o tratamento considerado o mais adequado, acompanhar a evolução, lidar com possíveis complicações do quadro e, às vezes, do tratamento, parte fundamental é acolher, confortar o paciente que está nos procurando. 

 

Exercitar a empatia.

 

Essa nossa atividade principal traz embutida, além do atendimento da pessoa que está em nossa frente, que tem uma história de vida, medos e anseios, também uma série de procedimentos burocráticos e administrativos que muitas vezes quase ofuscam o resto. São laudos, relatórios, justificativas, receitas, solicitações e outras. Antes, tudo em papel. Hoje em dia, menos papéis, porém ainda um grau elevado de burocracia, que consome tempo que poderia/deveria ser alocado para pessoas.

 

É o sistema.

 

Algumas vezes, o tempo de uma consulta é todo consumido – como deveria ser – em lidar com as queixas dos pacientes, com ajustes no tratamento, com – ao menos – confortá-los, e não resta tempo para o preenchimento desses papéis, desses laudos e relatórios. O que fazer, então? Preencher fora do horário de trabalho, como se fosse hora extra, mas que não será remunerada? “Esperar” um horário vago no consultório para essa tarefa? Essa equação é – para mim – difícil de resolver.

 

O ideal seria estabelecer um determinado tempo, no horário de trabalho, para resolver assuntos administrativos, entre atendimentos, reuniões de discussão de casos, e atividades no laboratório de função pulmonar. Mas aí eu teria que bloquear ao menos uma hora de meu dia para isso, o que resultaria em menos horários de atendimentos em uma agenda que já está lotada de pacientes (e não estou considerando os pacientes extras e os “encaixes”).

 

Ainda não resolvi essa questão.

 

Sigo aberto a sugestões.


Até.   

domingo, novembro 10, 2024

A Sopa

Olá.

 

Essa Sopa de final de domingo, que deveria ser matinal como normalmente o é, sai agora porque apenas agora me sinto em condições físicas de me sentar, pensar e escrever. A maratona segue, e o pouco tempo de descanso tem sido uma constante.

 

Estou só pelo feriado do próximo final de semana.

 

Surgiu a possibilidade de viajarmos para um destino de descanso e virtualmente sem sinal de celular, uma vantagem adicional, mas preciso (precisamos nós, aqui em casa) de um período em casa, tranquilo, sem fazer absolutamente nada. Descanso mesmo, sem nenhum tipo de compromisso. Dessa forma, infelizmente, declinamos da viagem.

 

Seria muito legal, pois o lugar é espetacular, e nossas idas anteriores lá foram bem legais, mesmo que na segunda vez, há um ano, eu em pós-operatório da cirurgia da fratura no braço, fiquei doente, e passei boa parte do feriado no frio do banheiro da casa principal e o resto do tempo “abraçado” no fogão à lenha... Melhorei apenas no final, já na volta. Mas é um lugar muito legal mesmo, e tem o adicional de que chegar até lá é um tipo de gincana, de jogo RPG (role-play game).

 

Siga na estrada e após passar pela cidade, dirija até o posto de gasolina, último lugar com sinal de celular. Após poucos quilômetros, entre à direita em uma estrada de chão. Ainda falta cerca de uma hora e meia de viagem. Continue pela estrada, passe a aldeia dos índios, e na reserva florestal da universidade, entre à direita. Mais um pouco, chega-se à porteira de uma madeireira. Entre e siga. Passe pelo cemitério. A estrada é irregular e desafiadora principalmente após chuva. Não há sinalização. Siga os postes de luz, que indicam a estrada. Siga até a próxima porteira. Entre por ela. Estamos quase chegando. 

 

A primeira vez que estivemos lá, fomos no carro a Marina e eu, à noite, seguindo o carro onde estavam a Bianca, o Thiago, a Celena e o Tchê. Após o cemitério, à noite, temos certeza de que vimos, Marina e eu, o boi da cara preta da música infantil. Sozinhos, certamente, não conseguiríamos ter chegado. Na volta, pneu furado, evidentemente. Mas todo o esforço valeu nas vezes em que estivemos lá, pelo lugar e – claro – pelas parcerias, pelos momentos passados juntos.

 

No próximo final de semana, contudo, não iremos.

 

Preciso (precisamos) ficar em casa, quieto(s).


Até. 

sábado, novembro 09, 2024

 

I wanna rock and roll all nite...


And party every day!

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, novembro 08, 2024

Histórias de Consultório (2)

A verdade virá à tona.


Em breve.

 

Uma primeira consulta havia sido marcada para o ano de 2022, mas essa paciente nunca apareceu, e nem justificou a ausência. Tudo certo, paciência.


Após dois anos, marca novamente.

 

Chega no consultório, e enquanto preenche o cadastro e faz as burocracias do convênio, a Bete, secretária, comenta com ela sobre a consulta agendada dois anos antes e não comparecida. A paciente pergunta se “vai me cobrar a consulta que eu não vim?”, assim com certo grau de agressividade. Logo após, pede para usar o banheiro, e fica ofendida ao ouvir que deverá usar o do Centro Clínico, porque o do consultório está em manutenção. “Como assim, como vocês fazem?”, pergunta. Ouvindo isso, quase respondi que uso fraldas, mas achei melhor não...

 

Iniciei a consulta da forma que inicio todas as consultas, me apresentando e fazendo algumas perguntas iniciais como parte da anamnese. Quando perguntei a ela se fumava atualmente ou havia fumado alguma vez, sua resposta antecipou o que viria pela frente. Disse ela que “Não fumo, não bebo, e não faço vacinas”. 

 

Foi dizer isso justamente para mim...

 

Com toda educação e calma do mundo, tentei explicar que as vacinas eram importantes, seguras, no que ela me disse que as vacinas estavam matando pessoas, e que havia “pesquisado”, fazendo o gesto de digitar algo, indicando que havia “pesquisado” na internet. Vi que era uma causa perdida, que não a demoveria da ideia, o melhor seria prosseguir a consulta. Apenas disse a ela que eu achava um crime o que os anti-vax haviam cometido lhe passando essas falsas informações.

 

Ela me respondeu que a verdade viria à tona muito em breve, que aqueles que defendiam vacinas eram os verdadeiros criminosos e que, se eu as defendia, eu certamente era parte do esquema/sistema... Foi esse o momento em que a fronteira foi transposta, o limite foi ultrapassado. Não havia mais o que fazer.

 

Com toda a educação do mundo disse a ela que – infelizmente – naquelas condições eu não tinha mais condições de atendê-la, pois estávamos em um impasse, e ela acabara de me acusar de algo muito grave. A relação médico-paciente havia sido quebrada. Ela disse que tudo bem, iria na médica que havia solicitado os exames que trazia consigo, que tinha marcado comigo apenas para “adiantar” as consultas. Além disso, disse que muito em breve “a verdade será revelada”, e que “o mundo não perde por esperar...”.

 

Respirei aliviado quando ela foi embora.

 

Foi a segunda vez, em 30 anos de medicina, que disse que não tinha condições de atender um paciente eletivamente. A outra havia sido quando – em situação parecida, atendendo um professor de jiu-jitso – perguntei a ele se fumava, cigarros ou outros dispositivos, ou outras substâncias, e ele me respondeu:

 

“Não vou te dizer, não te conheço...”.

 

O que dizer depois disso?


Até. 

quinta-feira, novembro 07, 2024

Roda Viva

Tem dias em que a gente se sente, como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo, então, que parou”.

 

A força que determinadas poesias e letras de música têm ainda me impressiona e maravilha. Impactam, perturbam, fazem pensar. Têm o poder de nos fazer parar para, além de escutar, ouvir.

 

É também por isso que eu tenho verdadeira adoração por determinadas composições em língua portuguesa. A sonoridade, o peso, mas também a doçura que as palavras conferem à obra é tocante. Como, por exemplo, em ‘Oceano’, do Djavan, talvez um dos mais belos versos da música brasileira, que diz:

 

“Vem me fazer feliz porque eu te amo

  Você desagua em mim

  E eu oceano”

 

Eu aprecio muito a palavra, escrita ou falada.

 

Por isso me deixa muito feliz estar novamente incluindo na minha rotina diária a leitura de literatura, além de textos técnicos relacionados à medicina. Certamente é devido ao MUSICLUBE de Leitura, que está com as inscrições abertas e ocorrerá na School of Rock Benjamin POA, mediado pela escritora e atriz Ana Carolina Machado e por esse que vos escreve.

 

Vai ser bem legal.

 

Ainda dá tempo de se inscrever.

 

Até.

quarta-feira, novembro 06, 2024

E agora?

Qual a (tua) medida do sucesso?

 

O que (para você, e para mim) é sucesso?

 

Essas são (mais) algumas das perguntas recorrentes que me faço, quando penso na vida, quando avalio e reavalio como estou vivendo, de onde vim, onde estou, para onde estou indo e, tão importante quanto as outras perguntas, para onde quero ir. Sim, porque estou constantemente, quase em real time, ajustando o rumo da vida.

 

Podemos usar a metáfora de um veleiro, de como ajustamos as velas conforme o vento, para que consigamos seguir em direção ao rumo proposto, sabendo que nem sempre, ou, melhor, quase nunca, será uma linha reta que nos levará ao nosso destino. Assim é a vida, e assim vamos indo.

 

Eu falava de sucesso, contudo, e da medida dele, de como avaliamos, ou julgamos, o nosso sucesso e o dos outros. Quais critérios devem ser levados em conta nessa avaliação?

 

É bem pessoal, e cada um deve saber o que é importante para sua própria vida. E é por isso que as comparações com as vidas dos outros são inúteis, e normalmente ruins, prejudiciais. Cada pessoa tem seus valores, suas prioridades, suas experiências prévias, suas próprias dificuldades. A definição de sucesso, como eu disse, é pessoal, única.

 

Não devemos nos comparar com os outros.

 

Essa é uma das chaves para a paz de espírito. 

 

Eu tenho tentado não me comparar com ninguém mais (exceto com quem eu era antes).

 

Nem sempre consigo...

 

Até.

terça-feira, novembro 05, 2024

Ontem

Vinha eu dirigindo a caminho do consultório, hoje mais cedo, e ouvindo um podcast em inglês, de nome ‘How To’. O episódio em questão, que eu ouvia em uma manhã de sol de terça-feira, era sobre como encarar o medo da morte, de morrer.

 

Diferente de alguns casos comentados no programa, de pessoas que tem sofrimento real relacionado ao medo de morrer e da morte de pessoas próximas, meu problema com o conceito de morrer é – já disse repetidas vezes – que acho um ‘desperdício’, desnecessário...

 

O que acontece é que não consigo imaginar o fim, o ‘não ser’, o nada. Aí chego a quase lamentar a minha falta de certezas com relação ao pós-vida. Gostaria de estar seguro, no sentido de fé, de que quando morrer haverá a chamada vida eterna em um local para onde vão os justos e os corretos. Mas minha relação com a religião, Deus e conceitos teológicos é de não saber.

 

Eu não sei.

 

Gostaria, sinceramente, de acreditar na existência ou na não-existência dessa entidade superior, ou energia, seja como for. Gostaria de saber que vou reencontrar em alguma dimensão diferente aqueles entes queridos que se foram, mas realmente, sinceramente, eu não sei.

 

Talvez eu acredite no Deus de Spinoza, como disse Einstein. Ele não estaria separado do mundo, pelo contrário, seria intimamente e necessariamente ligado a ele, formando apenas uma coisa, uma substância, ou seja, o mundo e Deus são a mesma coisa, já que o mundo é uma produção, e não uma criação.

 

Mas isso é conversa para outro momento.

 

Não em uma terça-feira de manhã de sol.

 

Até.

 

PS – Ontem, na Feira do Livro, foi muito legal. Obrigado a todos!

Abraço. 

segunda-feira, novembro 04, 2024

Sobre Hoje

Prioridade e expectativas.

 

Foi um longo processo, mas houve um momento em que percebi que – mesmo tendo desejos e aspirações materiais, de coisas que eu gostaria muito de ter – nada era mais importante do que aquilo que eu queria viver. E que – como todos deveríamos saber e em nenhum momento esquecer – ser é muito maior do que ter.

 

As experiências, de que tanto falam.

 

Não, não virei monge, e muito menos me desfiz de bens materiais para viver em harmonia com a natureza. Continuo gostando de conforto, de visitar lugares legais e tal, mas quero dizer que não tenho aquela ânsia por acumular.

 

Minha ânsia é por viver.

 

Conviver.

 

Até.

 

PS – como parte das experiências que queria viver, hoje será uma desse tipo. Às 19h ocorrerá a sessão de autógrafos do meu primeiro livro de crônicas, ‘A Sopa no Exílio’, na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. Quem puder aparecer por lá fará minha noite ainda mais feliz.


Abraço! 

domingo, novembro 03, 2024

A Sopa

Sobre o terminar.

 

Tudo na vida, inclusive ela própria, tem um fim. Verdade maior, incontestável. De alguma forma, por alguma razão, tudo o que vivemos vai – em algum momento – terminar, queiramos ou não. Temos que saber, ou aprender, a lidar com isso, com as perdas que virão.

 

São relacionamentos, ciclos, fases ruins, fases boas, não importa, devemos manter em perspectiva a ideia de que nada – exceto a morte, claro – é definitivo. Por isso, já falei, ainda não me conformei com a morte: acho um desperdício, mas não é disso que quero falar agora.

 

Durante um tempo, tive a ideia de que eu era uma pessoa que não chegava ao final das coisas, não as encerrava, ou completava. Que era bom em começar – ‘o botador de pilha’- mas não tinha talvez a persistência ou disciplina de seguir e completar. Tinha as ideias, poderia até iniciar múltiplas atividades ou projetos, mas me via como alguém que não era bom em terminar tarefas, ir até o final daquilo que começava.

 

Não sei de onde vem, ou vinha, esse pensamento autodepreciativo, mas sem dúvida era pernicioso para mim mesmo, afinal o discurso molda a realidade, a narrativa é o que conta. Não sei se essa percepção é (era) baseada em fatos objetivos ou não, não faz muita diferença, pois era como eu me via.

 

Quando há quase vinte e cinco anos fui aprovado para o iniciar o Doutorado em Medicina, o primeiro pensamento foi de ‘será que vou terminar?’. Mesmo que na entrevista de seleção, que era para o Mestrado, eu tenha dito – confiante – que não queria fazer Mestrado, mas, sim, Doutorado, e o projeto era original e bom tanto que foi selecionado para Doutorado, no fundo minha maior preocupação era se chegaria ao final.

 

Cheguei.

 

Não só isso, defendi minha tese de Doutorado em uma vinda ao Brasil quando já estava no Canadá iniciando o Pós-Doutorado, que também completei, e depois fui professor de Medicina, e assim por diante. Aos poucos, a ideia de que era alguém que não completava, não ia até o final daquilo que propunha fazer, foi mudando.

 

Sou também alguém que faz o que foi prometido.     

 

Lembrei disso em uma conversa em que dizia que tinha prometido em 2017 que levaria a Marina a um show do Paul McCartney, o que fiz recentemente. A pessoa com quem conversava (minha mãe) lembrou que eu havia prometido levá-la a conhecer a Itália e o fiz, há quase dois anos. Disse ela: “és alguém que cumpre promessas”.

 

Sou, ou me tornei, não importa. 


Até.