Ainda ontem, falei sobre os riscos do tabagismo e do cigarro eletrônico na escola da Marina.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, maio 31, 2025
Sábado (e o Día Mundial Sem Tabaco)
Ainda ontem, falei sobre os riscos do tabagismo e do cigarro eletrônico na escola da Marina.
sexta-feira, maio 30, 2025
Barbie
A Barbie é uma boneca e personagem fictícia fabricada pela empresa norte-americana Mattel e lançada em 1959. Existe toda uma linha de produtos e personagens criados nesse universo, com inúmeras bonecas colecionáveis, e – como todos sabem – até um filme, ganhador de um Oscar (de melhor música) no ano passado. É um sucesso.
Pois bem, uma das características desse universo é relacionada à questão da independência feminina, sendo uma das marcas da boneca a possibilidade de ela ser e fazer o que quiser, exercer as mais variadas atividades e profissões. As profissões são projetadas para mostrar justamente que as mulheres podem assumir uma variedade de papéis na vida e a boneca foi vendida com uma ampla gama de títulos, desde astronauta, médica e/ou outras.
Acho muito legal esse movimento, porque é o óbvio ululante que a mulher pode ser e fazer o que quiser. Deveria ser óbvio para todos, acrescento. Mas não era disso que eu queria falar.
Hoje, estive na escola da Marina para falar com as turmas de 9º ano do ensino fundamental e com as turmas do ensino médio sobre o cigarro eletrônico, como forma de alertar sobre os problemas envolvidos. Foram dois “períodos” de aula, log de manhã. E foi MUITO bom (eu gostei, ao menos)! Conversando com a Marina, ainda antes de irmos para a escola, ela disse alguns colegas se surpreenderam ao saber que o pai dela era médico. Teve quem pensasse que eu fosse músico.
Ela disse que eu era músico, médico e escritor.
Praticamente uma Barbie.
Gostei da comparação...
Até.
quinta-feira, maio 29, 2025
Repetição
Há quase um ano, decidi que eu deveria (tentar) escrever diariamente, como forma de prática, e - também - para aperfeiçoar a minha escrita. É o que sempre (me) digo, que vejo o ato de escrever também como trabalho braçal, artesanato.
Só que escrever, evidentemente, não envolve apenas a práxis, o ato mecânico de (hoje em dia) digitar as palavras escolhidas, porque não mais escrevo à mão, caneta ou lápis e papel. Ainda mais importante do que o ato mecânico de escrever, é ter histórias e estórias a contar, e caímos na definição que eu tenho da vida e de quem sou, que são estórias para contar e um contador de estórias, respectivamente.
Tenho histórias, conto estórias.
Só que escrever todos os dias traz um risco, que é o da repetição. Como minha rotina envolve iniciar o dia escrevendo, e aquilo que está em minha mente no momento que vou escrever, e a não ser que eu já venha com uma motivação prévia, vai ser tema da crônica do dia. Corro o risco, como disse, então, de – apenas após ter escrito e publicado – eu perceber que provavelmente eu já tenha escrito algo parecido anteriormente.
Pode acontecer, sim.
Azar.
Até.
quarta-feira, maio 28, 2025
Negação
Não tenho lido, ou assistido, notícias.
Começou lá na pandemia do COVID, que já vai longe no tempo, quando os noticiários da televisão só falavam disso, com um tom catastrofista que era contraproducente para quem precisava levantar todos os dias e estar à disposição para ajudar e atender quem estivesse doente, meu caso como médico, mesmo que eu não estivesse trabalhando na linha de frente, em emergências e UTIs de hospitais. Lembro bem dois fatos que desencadearam minha aversão aos programas de notícias, e que levaram à decisão de não mais ver, não mais ouvir.
O primeiro foi em uma vez em que levei a Marina ao dentista e, na sala de espera enquanto ela era atendida, já no final do dia, assisti na televisão aos primeiros minutos de um jornal local, o que foi suficiente para me deixar angustiado e ansioso. Uma equipe de reportagem, à época, circulava pela cidade em busca de pessoas andando, ao livre, sozinhas e sem máscara, e isso era visto como errado, como um crime(?!). Outro fato foi em um final de semana em família em que havia uma televisão ligada ininterruptamente em um canal de notícias que ficava o tempo todo repetindo as mesmas informações, os mesmos dados, o mesmo número de infectados e mortos. Não aguentei. E isso que nem falei de política, STF, governos de direita e de esquerda, misoginia, preconceito, bebês reborn e stalkers, entre outros, porque talvez fosse ainda pior.
Decidi que a negação era a melhor forma de viver.
Não sei, não fiquei sabendo, não quero saber.
Vou ficar na minha, fazendo a minha parte, o meu trabalho, sendo correto e honesto, pagando meus impostos, fazendo o bem como puder, sendo justo com as pessoas, e tentando tornar o mundo – ao menos ao meu redor - um lugar melhor.
Até.
terça-feira, maio 27, 2025
A Caminho do Trabalho
Durante quase dez anos, uma vez por semana eu dirigia cento e cinquenta quilômetros para exercer minha atividade de professor em uma Universidade fora, evidentemente, de Porto Alegre. Eram duas horas, aproximadamente, de estrada (com parada para um café) logo de manhã cedo. E eu ia ouvindo rádio, as notícias e comentários sobre elas. Era divertido, até onde lembro.
Com o tempo, porém, ouvir notícias e comentários sobre atualidades logo cedo do dia passou a não ser tão legal assim. Pelo teor das notícias, ou mesmo pelo ‘choque de realidade’ logo ao acordar. Passei a fica mal-humorado logo após acordar. Até que percebi que não valia à pena.
Quando voltei a estudar música, e depois com uma imersão nesse mundo, ouvir música durante os deslocamentos de um lugar a outro da cidade passou a ser meio que uma necessidade. E, claro, tornou esses períodos no carro mais agradáveis, e eu uma pessoa mais tranquila, inclusive com relação aos idiotas que não deveriam, mas dirigem...
Além de não ser contaminado logo cedo por notícias ruins, esses deslocamentos embalados por música proporcionam memórias, a partir de músicas que evocam lembranças, que me transportam no tempo.
Hoje, ao ouvir uma playlist qualquer no modo aleatório, tocou ‘Por que que a gente é assim’, do Barão Vermelho com o Cazuza no vocal, e na hora lembrei de ter ouvido essa música em um dezembro dos anos oitenta, quando eu costumava passar uns dias na casa do meu tio em Montenegro, a casa que havia sido dos meus avós maternos e que – para mim, à época – era como um mundo a desvendar, e lembro da biblioteca que havia sido do meu avô que era médico.
Foi uma sequência de lembranças de um tempo distante, desencadeadas por uma música, mais uma vez. Pode ser que eu esteja mais sensível por esses dias, não sei.
Ou é porque está chegando o nosso show de temporada e eu entro no modo euforia.
Pode ser, pode ser.
Até.
segunda-feira, maio 26, 2025
De Olho
A semana que passou foi estranha.
Parte dela estive a trabalho – relacionado à música - fora do estado. A volta, na quarta-feira, foi de trabalho – agora médico – acumulado que tive que recuperar, colocar em dia. Tudo bem, faz parte.
A volta de reuniões, novos planejamentos, aconselhamento legal, pacientes atendidos e um final de semana de encontros familiares. Dormi o que consegui, o possível, e sinto que precisava de mais. De novo, paciência. Seguimos.
Muita coisa em frente, muito planos.
Porém...
A desagradável sensação de estar sendo vigiado.
E não é paranoia.
Até.
domingo, maio 25, 2025
A Sopa
A última semana, em que estive entre Porto Alegre e Curitiba a trabalho, foi de pensar e repensar a (minha, nossa) relação com as redes sociais, com o quanto nos expomos e estamos expostos publicamente, e o controle que temos ou não sobre a forma que as pessoas nos veem. É uma realidade da qual não posso (não podemos) fugir.
Eu me exponho online, sim, sendo essas crônicas que escrevo diariamente, e que são/foram transformadas em livro(s), a face mais evidente. Aqui, escrevo para mim e torno público, ou relativamente público, porque para me ler tem que, de alguma forma, me conhecer e ir atrás dos meus escritos. Da mesma forma, em minhas redes sociais - Instagram, por exemplo – em que visualmente compartilho episódios e pessoas. Nessa rede, tenho perfis públicos, tanto o pessoal quanto o profissional, porque servem para divulgar minhas diferentes atividades.
Por serem públicos, corro o risco de me expor e – pior – expor demais as pessoas que convivem comigo. Tento, desde sempre, não exagerar, não expor demais, não ser de alguma forma invasivo, pois os outros não tem a ver com isso. Sempre procurei manter um certo comedimento na vida digital (talvez nem sempre tenha conseguido, vocês podem julgar).
Então volta e meia me vejo questionando tudo isso.
Como equilibrar, como resolver a equação exposição versus privacidade?
Existe um mundo de possibilidades e um lado bom, divertido, em mostrar fatos da vida em rede social, e o principal talvez seja compartilhar esses episódios com amigos com os quais não estás em contato diariamente. Eu, particularmente, fico feliz em saber o que acontece com pessoas que me são queridas e que nem sempre conseguimos nos encontrar com a frequência que gostaríamos. Isso proporciona a boa sensação de proximidade, de pertencimento.
O outro extremo é o risco de estarmos sujeitos a malucos(as) que ficam nos seguindo virtualmente e criando fantasias a partir que do leem e/ou veem em nossas redes.
Só que isso, evidentemente, é caso de polícia.
Até.
sábado, maio 24, 2025
sexta-feira, maio 23, 2025
Finalmente
Eu me formei há trinta anos, mas só me tornei médico de verdade há não muito tempo, devo dizer. E tenho sido cada vez mais médico, afirmo com convicção.
Mesmo que eu não seja “apenas” médico.
Ser médico não é pouca coisa, assim como não é pouca coisa ser engenheiro, dentista, advogado, músico, poeta, ou qualquer outra atividade humana que requer dedicação e empenho para se alcançar domínio e habilidade. Por isso respeito qualquer profissão e, mais, qualquer ocupação. É o lance de que todas são importantes, todas são relevantes (e todas deveriam ser remuneradas adequadamente, mas não é o foco dessa discussão).
Sabendo que ser médico não é pouco, e conhecendo tudo o que é necessário para exercer esse ofício, toda a longa trajetória para tornar-me um, mesmo assim nunca me imaginei sendo somente médico, e coloca-se aspas no ‘somente’. Achava que poderia ser mais, fazer mais.
Provavelmente por isso, por querer deixar possibilidades em aberto, potenciais vias alternativas à disposição para uma possível mudança radical de rota, demorei a me dedicar como deveria a ser médico, no sentido de procurar fazer mais do que o trivial, se é que me entendem. Sempre estive a um passo de mudar, de saltar fora. E por isso, à época, o meu crescimento profissional estava limitado, responsabilidade minha. Demorei a “deslanchar” na profissão.
Houve um momento de virada, uma mudança de foco e perspectiva e houve um crescimento exponencial, que me levou a lugares que eu não imaginava em termos profissionais. Foi muito legal. Acumulei funções e atividades diversas, ocupando meu tempo em sua quase totalidade. Deslocamentos e viagens frequentes. Roda viva. Pouco tempo para ser médico mesmo, vendo pacientes.
Até que ocorreu um movimento de retração, como parte do ciclo de expansão e retração que é a vida, o que coincidiu com a pandemia, e reduzi muito a diversidade de funções que exercia. Passei um tempo, então, como médico apenas, meu consultório, os pacientes e eu. E foi bom. E melhorou com o passar do tempo, mesmo que eu tenha uma vez mais assumido/acumulado novas funções. Cada dia me via mais médico. E quando eu me tornei mais médico do que jamais fora antes, surgiu o momento de expandir meu mundo para além da medicina. Assim o fiz, e ainda faço e - veja só - vou fazer mais.
O medo surgiu de que eu pudesse estar me retraindo, me tornando menos médico, ou me dedicando menos, ou me interessando menos pela medicina. Confesso que houve a dúvida, em mim e imaginei que na percepção que os outros poderiam ter da minha relação com o fato de ser médico.
Não tenho mais.
Qualquer dúvida se dissipou quando me percebi em uma sexta-feira final da tarde explicando o tratamento da asma para um paciente, e escrevendo e desenhando para melhor entendimento, e saindo do consultório feliz por ter esclarecido o paciente e o ajudado, e ajudado e confortado outros.
Como disse, nunca fui tão médico quanto hoje, quando também sou empreendedor, escritor e músico. E mais ainda, o que um dia desses eu conto...
Até.
quinta-feira, maio 22, 2025
Recorte
Você não me conhece por me ler.
Sim, eu falo de mim, contos histórias e estórias minhas, compartilho minhas ansiedades, angústias, momentos bons, emocionantes, de felicidade, até algumas conquistas pessoais, mas isso não quer dizer que eu compartilhe tudo e muito menos que eu seja aquilo que eu escrevo.
Também sou, claro, mas não apenas. E o fato de alguém me ler significa apenas que ela acaba sabendo de uma pequena parte da minha vida, um recorte, que eu optei por compartilhar. Não mais que isso. Você pode me ler diariamente e, portanto, saber de fatos que eu contei em alguma crônica, mas lamento dizer que você não me conhece. Se isso não é suficiente para você (não imagino porque não seria), paciência.
Redes sociais não são a vida.
Nunca perco essa verdade do meu horizonte.
A vida de verdade, a vida real, ela ocorre fora do virtual. Ocorre presencialmente, no dia a dia, na conversa, no olho no olho. Nos cafés, nos churrascos.
Se você, prezado leitor, acha que realmente me conhece e imagina que entende o que se passa comigo a partir dos meus escritos, que são – sim – pessoais, apesar de serem apenas uma fração do que me acontece, do que vivo e do que penso, lamento informar, mas você está enganado.
Eu sou o da vida real, que é a que importa.
Até.
quarta-feira, maio 21, 2025
Obrigado
Escrever é um ato solitário.
Digo que escrevo sozinho, para mim, eu cá com meus botões, e tenho a escrita como forma de terapia, com forma de traduzir, materializar na folha em branco virtual, expressar sensações e sentimentos e angústias. Minhas, e só minhas. Escrevo sobre mim, na maior parte das vezes. Quem sou e como eu vejo o mundo.
Me exponho. Como em uma vitrine, como se estivesse em um balcão de açougue, com minhas entranhas, minhas vísceras expostas ao público passante. Me disseco em praça pública (exagero, eu sei, mas vale como figura de linguagem...).
E está tudo bem.
Faço isso voluntária e conscientemente, porque sou assim. Só que o confessar, o dissecar e o me expor é também literatura. Ou seja, coloco em destaque, amplifico, algumas vezes dramatizo a vida no papel, e sei que sabem que a vida real, do dia a dia, do prato de comida e do trânsito difícil nem sempre é assim.
Obrigado a você, que me lê.
Mas cuidado com o que você lê...
Até.
terça-feira, maio 20, 2025
Escolhas e Caminhos
Há tempos, volta e meia me pergunto se nesse momento eu já deveria ter as coisas definidas na vida, no sentido de saber exatamente quem sou, o quê faço, como tudo funciona, e ter o caminho do meu futuro já pavimentado e conhecido. Assim, eu com meus cinquenta e três anos de idade.
E aí então volto no tempo, para uma noite fria de julho de 1988, no litoral norte do Rio Grande do Sul, com dezesseis anos, sentado em um balanço conversando sobre o futuro com uma amiga. Naquele momento, eu não tinha certeza do que queria para a minha vida, qual o caminho que tomaria, que profissão escolheria. Pensava, na ingenuidade dos dezesseis anos, que a minha escolha seria definitiva, sem volta, por isso o peso e a angústia envolvidos na decisão.
Havia dois caminhos básicos (de novo, sob minha ótica adolescente): um seria o caminho seguro, previsível, mas significando que eu já saberia desde aquele momento tudo o que aconteceria até o final dos meus dias, enquanto o outro representaria menor segurança (financeira, inclusive), mas um mundo de possibilidades. Um salto no escuro. Era um outro: vida pronta ou vida a ser inventada, criada.
Foi uma decisão difícil, confesso, porque partia de premissas erradas, frutos da pouca experiência de vida. O engraçado é que – no final das contas – o que realmente definiu a escolha foi quando eu me dei conta que – independente do que eu escolhesse naquele momento – eu seria um contador de histórias. Sim, eu escolhi o caminho em que, em tese, eu teria um futuro desenhado, determinado, mas que envolvia contar histórias e estórias.
Nada mais longe da realidade.
O caminho nunca é ou está previamente determinado.
Ou talvez eu tenha subvertido essa tendência, não importa. Os caminhos foram e são criados à medida que os trilhamos, aprendi. Ao longo da estrada, fazemos (ou não) os desvios que precisamos e/ou desejamos fazer. Enquanto caminhamos, vamos aprendendo a andar.
Ainda hoje, sinto que estou aprendendo o tempo todo. Mesmo que eu achasse que já deveria saber tudo de tudo, ainda sou um aprendiz, ainda tenho muito o que conhecer e entender.
Até.
segunda-feira, maio 19, 2025
Eu Sou
Uma história de quase quarenta anos.
Estávamos em sala de aula, alunos do segundo ou terceiro ano no ensino médio, que na época se chamava de segundo grau, Escola Técnica de Comércio da UFRGS, Campus Centro, fundos da Faculdade de Economia, curso Técnico Operador de Computador, que viria a se chamar posteriormente Processamento de Dados. Sentávamos no fundo, na última fila de cadeiras da sala, que tinha uma conformação mais larga que comprida, no extremo esquerdo na visão da frente para o fundo. Éramos chamados (ou nos chamávamos) de Turma do Fundinho.
Entre nós, o Igor era o cara que tinha talento musical. Era um virtuose. Mesmo com pouca instrução de teoria musical, tocava muito. Talvez tivesse ouvido absoluto, não sei. O que importa é que ele era o músico do grupo. Nós, os outros, em maior ou menor grau, tentávamos alguma coisa, sem dedicação e disciplina (meu caso, falo de mim). Um pouquinho, bem pouco mesmo, até tocava um pouco de violão.
Uma vez, em uma conversa despretensiosa, falei em tom de brincadeira, como se fosse uma queixa, que eu era “um músico medíocre”. Ele respondeu rápido, cortante (lembro dos memes das facas Tramontina, ‘corte rápido’): “não é verdade, tu não és... músico!”.
Rimos, porque era uma verdade.
Passou o tempo, e - independente do grau de habilidade, domínio de técnica e/ou talento – hoje me sinto seguro em dizer que sim, eu sou músico, apesar de ter relutado muito. Ainda meio envergonhado, meio tímido em me considerar assim, mas concordo com isso. Diferente da minha condição de escritor (ou contador de histórias). Sempre me considerei um, mas levou um bom tempo para eu externar isso que eu sabia que eu era. A publicação do meu primeiro livro foi como o atestado comprovando.
Existem outras coisas que sou ou faço.
Outro dia, outro dia.
Até.
domingo, maio 18, 2025
A Sopa
Deve ser porque já passei dos cinquenta anos.
Não posso precisar quando isso começou, mas há algum tempo percebi em mim uma tendência crescente em olhar para trás, relembrar, rememorar e revisar fatos do meu passado. Acontecimentos, mas também pessoas, que em diferentes momentos caminharam junto a mim, que compartilharam a vida comigo.
Apesar de poder parecer, não é viver do passado e deixar de pensar em futuro. Nada mais distante disso. Olho para o quê vivi, para os caminhos que tomei em diferentes momentos como forma de entender o presente, para ter uma ideia do todo, como se estivesse no alto, muito alto, realmente alto, a ponto de poder ver a linha da (minha) vida, de onde vim e o trajeto que fiz até aqui, além de para frente, para onde quero ir. Não sou um saudosista, mas tenho – sim – um profundo respeito pela minha história e por quem esteve comigo nela.
Entendendo de onde vim, lembrando quem eu era (ou achava que era ou deveria ser), ajuda que eu entenda onde estou e, o que planejo para minha vida daqui para frente. Da mesma forma, torna claro o que eu não quero e do que não preciso em minha vida. Quanto mais sei quem sou e para onde quero ir, mais leve se torna a ‘bagagem’ que tenho que carregar.
Por isso olho fotos antigas, lembro de histórias e pessoas, preparo reencontros com aqueles que fazem sentido permanecerem ou voltarem ao convívio. Caso não faça mais sentido, (ainda) estou aprendendo a deixar para trás, let it be & let it go.
Até.
sábado, maio 17, 2025
sexta-feira, maio 16, 2025
Ninguém Perguntou
Quando escrevo algum texto que será publicado aqui nesse espaço, e/ou posteriormente em livro – aliás, novidades em breve – eu sei que as minhas opiniões e reflexões são minhas e que ninguém me perguntou. Escrevo porque quero, leio, releio, escrevo de novo e reescrevo antes de tornar público, porque sei que o que está escrito fica.
Nunca esquecendo, também, que ao escrever sempre estamos em risco de quem ler não entender o que leu, interpretar errado, confundir as coisas. Sempre é uma possibilidade, e lembro de um dito que talvez – talvez! – seja do Mário Quintana (não tenho certeza) que diz que ‘quando alguém pergunta o que um autor quis dizer é porque um dos dois é burro’. Mas não é esse o ponto.
E vale para a vida.
Sempre devemos ter cuidado com o que dizemos, mais ainda com o que escrevemos, para alguém. Digo que escrever é pior porque está fica registrado, sem a entonação, o tom de voz que pode sugerir ironia ou humor, sei lá. Vale para e-mails, mensagens instantâneas, tudo.
Se pensamos sobre algo ou alguém que potencialmente vai incomodar outros, ou mesmo magoar, é da vida, eu sei, e se queremos apenas desabafar, ‘colocar para fora”, é um direito nosso. Podemos escrever sobre isso, falar com alguém – amigo ou terapeuta, sei lá – mas, se vamos tornar público, e estamos conscientes das potenciais consequências, o que poderá resultar disso, se realmente é isso que queremos, vá lá. Mas se temos alguma dúvida, ou queremos que não piorar as coisas, a melhor solução é ler, reler, escrever e reescrever, pensar de novo e, se podemos ter problemas, deixa assim, fica na tua.
O pior de tudo é o que parece (a mim) uma tendência atual, a de gravar vídeos com desabafos sobre a vida, o que por si só não seria um problema, desde que ficasse restrito à gravação, mas pessoas publicam vídeos falando de si e falando dos outros, vídeos esses que serão salvos por alguém e perpetuados.
É falta de noção, infantilidade.
E o pior é que, na maioria das vezes, as pessoas não querem saber.
Até.
quinta-feira, maio 15, 2025
O Caminho
Comparações.
Entre as principais fontes de ansiedade e angústia humanas, uma das maiores é, sem nenhuma dúvida, o – digamos – hábito de nos compararmos com os outros. É um comportamento altamente tóxico esse, de basearmos nossa sensação de valor próprio naquilo que os outros são parecidos ou diferentes de nós.
Eu já fiz muito isso em um tempo passado, confesso, atualmente MUITO menos, fruto de um longo processo de autoconhecimento, e sempre que fiz foi ruim, porque – por mais que nossas vidas possam ser consideradas melhores (e sei que esse é um juízo individual) que a de outros – sempre haverá alguém com uma vida supostamente melhor que a tua. Sim, supostamente.
Porque nenhuma vida é igual, e mesmo aqueles que aparentemente tem uma vida que poderia ser considerada “melhor” que a nossa – seja qual for o critério usado para essa avaliação - tem suas dificuldades e problemas e angústias. Cada um sabe onde aperta o seu sapato.
O que é uma vida boa, afinal de contas?
Cada um tem sua própria ideia quanto a isso, e bem materiais, por exemplo, não são – a meu ver – critério para julgar o quão boa é uma vida. Mas cada um sabe de si, claro. Para mim, vida boa tem a ver com as relações pessoais, a família, os amigos, as histórias que criamos e vamos contar, além da necessidade de se ser coerente com aquilo que considero essência de cada um. A narrativa de vida.
Além dos churrascos, claro.
Até.
quarta-feira, maio 14, 2025
O Meu Tempo
Eu tenho TOC.
Não, não tenho.
Como todo mundo, porém, eu também manifesto em maior ou menor grau determinados traços psicológicos que – em excesso – poderiam ser considerados patológicos. O importante, nesse caso, é reconhecê-los, ter controle (até onde possível) e conseguir tocar a vida a despeito deles.
Como aquele certo grau de paranoia com o qual eu convivo. Já sei que acontece, reconheço sua existência e, mesmo que algumas vezes me sinta excluído ou isolado, trabalho relativamente bem com isso. Tenho a humildade de reconhecer esse traço.
O mesmo acontece com algumas características obsessivo-compulsivas que manifesto na minha rotina. Como com a forma correta de estender a roupa no varal, que EU SEI como fazer, que lá em casa não costumam respeitar, e é o mesmo que acontece com a forma correta e lógica de retirar as compras do carrinho de supermercado para passar no caixa. Eu estudei a melhor forma, a ordem correta, que leva em conta vários fatores, inclusive como colocar as compras já na sacola de volta ao carrinho, sem danificar os produtos mais sensíveis. Não sabe como fazer? Deixa comigo, eu resolvo.
Todos esses ditos ‘traços’, ou aspectos, ou idiossincrasias de personalidade, são – caracteristicamente – pessoais, no sentido de que não afetam outras pessoas, não incomodam ninguém. Dizem respeito a mim, e apenas a mim. Então, me deixem em paz... Porém, quando alguma das características peculiares das quais falei – minhas ou de outros - afetam as pessoas, isso realmente me desagrada.
Como com a administração do tempo.
Assim como respeito o meu próprio tempo, respeito MUITO o tempo alheio. Essa é uma das razões pela qual eu virtualmente SEMPRE estou no horário combinado, tanto em situações sociais quanto situações profissionais. Por consideração aos outros, claro, mas principalmente eu espero que as pessoas respeitem o meu tempo assim como respeito o delas.
Acho princípio básico da convivência humana, certo, Alemão?
Até.
terça-feira, maio 13, 2025
Como Faço
Sobre escrever.
Tenho escrito diariamente nos últimos dez meses, atividade que costumeiramente classifico como artesanato, que é prática constante em busca do aperfeiçoamento, da evolução, do refinamento na escrita, naquilo que chamo de ofício de escritor. Falo de mim, claro, e não me comparo a ninguém, para o bem e para o mal.
A disciplina e a constância com que tenho trabalhado nisso tem, e era um dos objetivos, se estendido para outras dimensões da vida, para as quais eu já vinha procurando melhorar nesse sentido, aquele velho de ser, ou me tornar, alguém que vai até o final de seus objetivos, alguém que se segue planos. Ou, no mínimo, alguém que se entende dessa forma.
Escrever diariamente é, além de artesanato, como eu disse, um desafio no sentido de ter o que dizer, de saber o que falar/escrever todos os dias. Como faço, então?
Duas possibilidades, basicamente.
A primeira, não em ordem de importância, é que, ao longo do dia anterior e até o momento em que vou escrever a crônica diária, possa surgir algum tema, alguma observação, ou história que surja e eu sinta a necessidade de contá-la, compartilhar meus pensamentos e minha reflexões sobre o fato ocorrido ou observado. Estou sempre “de olho”, em busca da história que precisa ser contada, e ela quase sempre surge.
A outra possibilidade é chegar na hora em que costumo escrever logo pela manhã e parar em frente à tela, em frente à virtual folha em branco, começar a escrever e – de certa forma – passivamente descobrir o que preciso escrever. Certamente o que sai é algum tema que povoa meus pensamentos, causa angústia e inquietação e, mesmo que eu não saiba previamente, precisa ser escrito.
Tipo terapia, mas bem mais barato.
Até.
segunda-feira, maio 12, 2025
Penso, logo existo
De tempos em tempos, eu penso na casa no campo, aquela da música, onde eu possa compor muitos rocks rurais, e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais. Onde eu possa ficar do tamanho da paz. Onde eu possa plantar meus discos, meus livros, meus amigos e nada mais.
Penso nos amigos, e na atenção que tenho dado a eles, nas oportunidades que tenho criado para encontros e cafés e conversas e churrascos. O quanto tenho conseguido criar esses espaços fundamentais para parar e falar da vida. Principalmente com aqueles que vêm caminhando em paralelo comigo há tanto tempo que já perdemos a conta.
Tempo, tempo, mano velho.
Cada vez mais quero ser e cada vez menos quero querer ter.
Penso em muitas coisas, e é só segunda-feira de manhã.
Boa semana a todos nós.
Até
domingo, maio 11, 2025
A Sopa
O mundo é muito grande.
Ia escrever que sou formado em medicina há mais de trinta anos, mas sinto que sou realmente médico há não tanto tempo assim, mas desisti. Tudo porque vinha ouvindo rádio em um dos meus deslocamentos pela cidade esses dias.
Passava pouco das dezenove horas, e liguei o rádio para ouvir um programa de música em especial (‘A Hora do Rush’, com Mauro Borba). E o programa começou com uma música que faria parte de um show que ocorreria em Porto Alegre naquele dia de um artista que – confesso – nunca tinha ouvido falar...
Quando a música começou, eu logo sabia que a conhecia, mas que não era a versão original, e demorei alguns instantes para identificá-la: era uma versão de ‘Modern Love’, do David Bowie. E era linda. E eu não conhecia. Estou, desde então, ouvindo esse artista argentino nascido no Alaska, quase ininterruptamente. Se chama Kevin Johansen.
Me fez pensar.
Claro que nunca perco a noção disso, mas é importante – de tempos em tempos – reafirmar meu encantamento com tudo o que não sei e que potencialmente posso conhecer e aprender. Não quero perder nunca o espírito e a humildade para aprender coisas novas, conhecer pessoas, visitar lugares e criar novas histórias para contar. Se os que se julgam espertos acham que a admiração é um alarmante sintoma de ignorância e por isso afirmam que só os tolos de se admiram*, eu estou bem tranquilo em ser considerado tolo...
É ou não é admirável?
Até.
* “Tolice Admirável”, do Barão de Itararé, musicado pelo Vitor Ramil (não sei se existe gravação)
sábado, maio 10, 2025
sexta-feira, maio 09, 2025
Nove de Maio
Chove forte em Porto Alegre.
Lembranças ruins e memórias que gostaríamos de esquecer nos remetem ao ano passado e, memória coletiva, mil novecentos e quarenta e um. Rua alagadas, semáforos não funcionantes, queda de luz.
A enchente.
Maio de 1941, parte da memória coletiva, a enchente que não iria se repetir – derrubemos o muro! – e que foi pior em 2025. A devastação, o prejuízo, o patrimônio e – muito mais importante – as vidas perdidas. A lenta recuperação que ainda continua. A rede de solidariedade, as doações, os voluntários, os guris do jet-ski, a falta de água.
Aniversário do meu pai. Faria oitenta e quatro anos neste nove de maio. Viveu até quase três anos atrás. É por ele a tatuagem com o símbolo do Superman no meu antebraço esquerdo.
Quando a enchente do ano passado atingiu seu ápice, estávamos, a Jacque e eu, nos Estados Unidos. Acompanhamos, angustiados, as notícias. Quando fechou o aeroporto, de longe imaginávamos que seria por dois ou três dias, logo reabriria e que a nossa volta seria tranquila, afinal a água baixaria até a semana seguinte.
Não reabriu. Não foi tranquila.
De certo modo, até que foi, sim.
Conseguimos trocar o voo para o dia seguinte de nosso voo original, mas para Florianópolis. Reservei o hotel e um carro para retornar por terra ao Rio Grande do Sul. Já em Santa Catarina, enchemos o carro de donativos, e dirigi de volta para casa. O dia seguinte ao da volta, levei mais tempo para ir devolver o carro na cidade vizinha de Gravataí e voltar do que o tempo que levei de Florianópolis até Porto Alegre. Sem a parceria do grande amigo Robert, que me acompanhou em outro carro na ida para voltarmos juntos, teria sido impossível fazer. Agradeço até hoje a força.
Nove de maio.
Duas enchentes históricas, separadas por oitenta e três anos. Meu pai nasceu na primeira, mas não testemunhou a segunda. É da vida.
Até.
quinta-feira, maio 08, 2025
Priorizar
Disciplina é liberdade.
Muito mais que motivação, que, sim, é importante, a disciplina é fundamental nas diversas dimensões da vida. Motivação é paixão, é intensidade, empolgação. É fundamental para iniciar algo, dar a largada, colocar a roda em movimento.
Os resultados, os desfechos, contudo, virão apenas com disciplina e a constância. A regularidade. Projetos de sucesso tem seu êxito dependente de consistência, de regularidade, de método. Um dia após o outro, comparecendo mesmo quando não estamos dispostos, colocando um mísero tijolo após o outro. Juros compostos: a chave para o crescimento. Assim é com todas as atividades humanas, como a escrita, que digo que é também artesanato. É na repetição do esforço, na insistência da prática que melhoramos.
Ter muitas ideias é importante, sem dúvida alguma. Parte delas evoluirá para algum tipo de plano, e uma porção ainda menor se tornará um projeto (paralelo ou não) que ganhará vida e se concretizará após maior ou menor esforço associado com método e disciplina. Devemos sempre selecionar bem quais ideias se tornarão projetos que se concretizarão, com sucesso ou não, que virarão realidade.
Esse um ponto chave: quais são os projetos que iremos trabalhar para virarem realidade? E, talvez mais importante ainda, de quais ideias ou planos ou projetos iremos abrir mão em detrimento daqueles que imaginamos os melhores para nós em determinado momento?
Priorizar, uma ferramenta importante.
Saber o que é importante e ir atrás disso.
É o que vale.
Até.
quarta-feira, maio 07, 2025
Stand-up Comedy
Sempre considerei o humor, a ironia fina, até o sarcasmo, quando não agressivo, formas de inteligência, e as pessoas portadoras dessas características, evidentemente, inteligentes. Sem falsa modéstia, desde sempre me considero uma pessoa bem-humorada, irônica e sarcástica (quando necessário), apesar de – como todos – ter meus momentos de introspecção e pouca diversão. Logo, ao olhar o espelho, me vejo – sim - como alguém que considero inteligente (independente do que os outros possam pensar até, mas não vem ao caso).
E muitas vezes é algo incontrolável.
Realmente faço força (e ‘fracasso’ com alguma frequência) em muitas situações para não fazer comentários ‘engraçadinhos’ ou piadas, principalmente naquelas em que talvez não fosse o melhor momento para tais brincadeiras. Claro que procuro não ser nunca inconveniente, mas situações sóbrias parecem pedir por momentos e comentários para descontrair.
Uma vez em consulta, uma paciente – em meio à conversa – comentou que eu tinha o timing do clown, do humorista. Mesmo que estivesse me chamando de palhaço, percebi como um elogio. Porque é uma arte, essa de fazer rir, descontrair, ‘pescar’ no ar aquilo que a vida tem de divertido, reconhecer que – entre todas as histórias que vivemos – pouquíssimas são as que não tem algo de cômico, mesmo que tragicômico.
Tudo são histórias para contar, como eu sempre digo, e toda história tem o seu lado engraçado e memorável, mesmo que durante o acontecimento não consigamos ter a clareza disso. Em situações tensas e complicadas, por exemplo, sempre procuro lembrar que ‘ainda vamos rir de tudo isso’.
Eu, ao menos, vou.
Até.
terça-feira, maio 06, 2025
Fica na Tua (2)
Não encha o saco.
Ainda no espírito do ‘Fica na Tua’, o modo de vida que significa isso mesmo, cuidar da própria vida, dos seus problemas e suas alegrias, e deixar os outros viverem suas próprias opções, sigo refletindo sobre o assunto. Um jeito de viver bem mais tranquilo.
O mundo seria um lugar muito melhor se cada se preocupasse apenas com sua vida, e deixasse que os outros vivessem a suas da forma que mais achassem adequado. Se todos respeitassem as opções de vida das pessoas.
Tenho dificuldades em aceitar que alguém seja dono da verdade e sinta-se ‘obrigado’ ou com o dever de espalhar, ou impor, essa sua verdade aos outros. Aliás, querer dizer, ou impor, a forma pela qual todos devem pensar ou viver é – para mim – absurdo. Cuida da tua vida e deixa os outros em paz. Assim como não quero (e não devo) interferir no teu modo de viver, não te mete na minha vida. Simples.
Por isso tenho problemas com dogmas ou posições e sistemas políticos ou religiões que tentam ou pretendem se impor sobre a liberdade individual. Nada é mais sagrado que a liberdade de cada um determinar a forma como vai viver, e nada é mais cretino que querer impor isso aos outros. A forma que tu vives, e desde que não interfira na liberdade dos outros, é problema teu, e ninguém tem o direito de dar palpite nisso.
Se cada um ficasse na sua, se preocupasse apenas com seu umbigo, como eu disse, tudo seria simples.
Até.
segunda-feira, maio 05, 2025
Fica na Tua
Uma ideia (etapa anterior a ser um projeto) de livro de autoajuda que tinha (tenho) se basearia na máxima, como o título deste texto diz, ‘fica na tua’. Soa quase como um mantra, parecido com o ‘não é sobre mim’, que – já falei – comecei a usar quando lido com questões do trânsito do dia a dia, e tem sua base na música ‘Loucos de Cara’, do Vitor Ramil, lançada em 1987 no disco ‘Tango’.
Ela diz que não importam as dificuldades que a vida nos impõe, os contratempos, não importa o que os outros pensam de ti, fica na tua e segue teu caminho. Não importa que Deus jogue pesadas moedas do céu, vire sacolas de lixo, pelo caminho... Se na praça em Moscou, Lenin caminha e procura por ti sob o luar do Oriente, fica na tua...
Vamos enfrentar dificuldades, perdas, sentiremos dores ao longo da vida das quais não poderemos fugir. É parte da existência, paciência. Temos que seguir em frente, não podemos desistir e nem nos desviar do caminho que traçamos a nós mesmos. Em meio ao ruído do mundo, fica na tua. Vive tua vida e deixa os outros viverem as suas própria, tomarem suas decisões e arcarem com as consequências das mesmas, assim como ocorrerá contigo e tuas decisões.
Não sozinhos, claro.
Vem, anda comigo, pelo planeta, vamos sumir!
O mais importante é enxergar e viver a tua verdade individual, com honestidade e coerência aos teus princípios. Abrir os olhos para o mundo, mesmo que tudo pareça por vezes confuso e sem sentido. Se um dia qualquer, tudo pulsar num imenso vazio, coisas saindo do nada, indo pro nada. Se mais nada existir, mesmo o que sempre chamamos real e isso para ti for tão claro, que nem percebas. É sinal que valeu, pegar carona no carro que vem, e se ele não vem, não importa: fica na tua.
Se cada um ficasse na sua, vivendo sua vida da forma que lhe parecesse melhor, sem querer impor sua verdade ao outros, tudo seria bem mais fácil.
Eu tento cada vez mais ficar na minha.
Até.
domingo, maio 04, 2025
A Sopa
Eu não sou magro.
E não sou gordo, por outro lado. Posso me considerar, então, no limbo. O limbo do sobrepeso. Meu índice de massa corporal é maior do que vinte e cinco e menor do que trinta. Estou entre os cinquenta e seis por cento dos brasileiros que estão acima do peso, mas não entre os trinta e quatro que são obesos, dados esses de 2024.
E daí?
Nada.
Apenas informação que diz respeito apenas a mim, e compartilho com você, caro leitor, apenas como curiosidade. Como quando começou a pandemia, cerca de um ano depois de ter atingido o meu maior peso até hoje, quando coloquei um pé no território da obesidade e me assustei com isso. Foi quando eu trabalhava no mundo corporativo e estava, além de me tornando obeso, bem estressado.
Durante a pandemia, já fora do estresse de trabalhar em um ambiente tóxico criado por um gestor (que saiu da empresa pouco tempo depois de mim), e após ter voltado a praticar atividade física, resolvi que era hora de perder peso, e fiz – junto com exercícios intensos – uma dieta que resultou na perda de dezesseis quilos. A pandemia, e a ausência de situações sociais, jantares e churrascos, por exemplo, foi de vital importância nesse processo.
Após a retomada da vida pós-pandemia, a retomada do peso foi progressiva, não no mesmo nível de antes, claro, e com a manutenção da atividade física, de força. Não sei o meu percentual de gordura atual, mas não deve ser alto, pois sigo mantendo cuidados na alimentação sem loucuras ou neuroses. Fisicamente, me sinto bem, mesmo que conviva volta e meia com dores (ombro, colunas cervical e lombar).
Quando ocorre, reduzo a intensidade do exercício e sigo.
Esses dias, resolvi adicionar um auxílio para perder um pouco de peso que eu achava que seria bom. Fiz uso, então, um medicamento prescrito por um médico, por via oral, e confesso que não sei se notei grande diferença. Parei e acho que minha fome aumentou. Talvez volte a tomar. Ou não, ainda não sei.
O importante é que gosto do que vejo quando olho no espelho. E não falo apenas do aspecto físico.
Até.