Durante quase dez anos, uma vez por semana eu dirigia cento e cinquenta quilômetros para exercer minha atividade de professor em uma Universidade fora, evidentemente, de Porto Alegre. Eram duas horas, aproximadamente, de estrada (com parada para um café) logo de manhã cedo. E eu ia ouvindo rádio, as notícias e comentários sobre elas. Era divertido, até onde lembro.
Com o tempo, porém, ouvir notícias e comentários sobre atualidades logo cedo do dia passou a não ser tão legal assim. Pelo teor das notícias, ou mesmo pelo ‘choque de realidade’ logo ao acordar. Passei a fica mal-humorado logo após acordar. Até que percebi que não valia à pena.
Quando voltei a estudar música, e depois com uma imersão nesse mundo, ouvir música durante os deslocamentos de um lugar a outro da cidade passou a ser meio que uma necessidade. E, claro, tornou esses períodos no carro mais agradáveis, e eu uma pessoa mais tranquila, inclusive com relação aos idiotas que não deveriam, mas dirigem...
Além de não ser contaminado logo cedo por notícias ruins, esses deslocamentos embalados por música proporcionam memórias, a partir de músicas que evocam lembranças, que me transportam no tempo.
Hoje, ao ouvir uma playlist qualquer no modo aleatório, tocou ‘Por que que a gente é assim’, do Barão Vermelho com o Cazuza no vocal, e na hora lembrei de ter ouvido essa música em um dezembro dos anos oitenta, quando eu costumava passar uns dias na casa do meu tio em Montenegro, a casa que havia sido dos meus avós maternos e que – para mim, à época – era como um mundo a desvendar, e lembro da biblioteca que havia sido do meu avô que era médico.
Foi uma sequência de lembranças de um tempo distante, desencadeadas por uma música, mais uma vez. Pode ser que eu esteja mais sensível por esses dias, não sei.
Ou é porque está chegando o nosso show de temporada e eu entro no modo euforia.
Pode ser, pode ser.
Até.