Chove forte em Porto Alegre.
Lembranças ruins e memórias que gostaríamos de esquecer nos remetem ao ano passado e, memória coletiva, mil novecentos e quarenta e um. Rua alagadas, semáforos não funcionantes, queda de luz.
A enchente.
Maio de 1941, parte da memória coletiva, a enchente que não iria se repetir – derrubemos o muro! – e que foi pior em 2025. A devastação, o prejuízo, o patrimônio e – muito mais importante – as vidas perdidas. A lenta recuperação que ainda continua. A rede de solidariedade, as doações, os voluntários, os guris do jet-ski, a falta de água.
Aniversário do meu pai. Faria oitenta e quatro anos neste nove de maio. Viveu até quase três anos atrás. É por ele a tatuagem com o símbolo do Superman no meu antebraço esquerdo.
Quando a enchente do ano passado atingiu seu ápice, estávamos, a Jacque e eu, nos Estados Unidos. Acompanhamos, angustiados, as notícias. Quando fechou o aeroporto, de longe imaginávamos que seria por dois ou três dias, logo reabriria e que a nossa volta seria tranquila, afinal a água baixaria até a semana seguinte.
Não reabriu. Não foi tranquila.
De certo modo, até que foi, sim.
Conseguimos trocar o voo para o dia seguinte de nosso voo original, mas para Florianópolis. Reservei o hotel e um carro para retornar por terra ao Rio Grande do Sul. Já em Santa Catarina, enchemos o carro de donativos, e dirigi de volta para casa. O dia seguinte ao da volta, levei mais tempo para ir devolver o carro na cidade vizinha de Gravataí e voltar do que o tempo que levei de Florianópolis até Porto Alegre. Sem a parceria do grande amigo Robert, que me acompanhou em outro carro na ida para voltarmos juntos, teria sido impossível fazer. Agradeço até hoje a força.
Nove de maio.
Duas enchentes históricas, separadas por oitenta e três anos. Meu pai nasceu na primeira, mas não testemunhou a segunda. É da vida.
Até.