Uma história de quase quarenta anos.
Estávamos em sala de aula, alunos do segundo ou terceiro ano no ensino médio, que na época se chamava de segundo grau, Escola Técnica de Comércio da UFRGS, Campus Centro, fundos da Faculdade de Economia, curso Técnico Operador de Computador, que viria a se chamar posteriormente Processamento de Dados. Sentávamos no fundo, na última fila de cadeiras da sala, que tinha uma conformação mais larga que comprida, no extremo esquerdo na visão da frente para o fundo. Éramos chamados (ou nos chamávamos) de Turma do Fundinho.
Entre nós, o Igor era o cara que tinha talento musical. Era um virtuose. Mesmo com pouca instrução de teoria musical, tocava muito. Talvez tivesse ouvido absoluto, não sei. O que importa é que ele era o músico do grupo. Nós, os outros, em maior ou menor grau, tentávamos alguma coisa, sem dedicação e disciplina (meu caso, falo de mim). Um pouquinho, bem pouco mesmo, até tocava um pouco de violão.
Uma vez, em uma conversa despretensiosa, falei em tom de brincadeira, como se fosse uma queixa, que eu era “um músico medíocre”. Ele respondeu rápido, cortante (lembro dos memes das facas Tramontina, ‘corte rápido’): “não é verdade, tu não és... músico!”.
Rimos, porque era uma verdade.
Passou o tempo, e - independente do grau de habilidade, domínio de técnica e/ou talento – hoje me sinto seguro em dizer que sim, eu sou músico, apesar de ter relutado muito. Ainda meio envergonhado, meio tímido em me considerar assim, mas concordo com isso. Diferente da minha condição de escritor (ou contador de histórias). Sempre me considerei um, mas levou um bom tempo para eu externar isso que eu sabia que eu era. A publicação do meu primeiro livro foi como o atestado comprovando.
Existem outras coisas que sou ou faço.
Outro dia, outro dia.
Até.