quinta-feira, maio 01, 2025

Nunca Gostei

Eu nunca gostei da ideia de fazer plantões.

 

Falo como médico, claro. Principalmente noites e finais de semana. A ideia de dormir fora de casa, ou passar um sábado, por exemplo, trabalhando em uma emergência, sempre foi contra o que eu gostaria. E sofria com a ideia.

 

Não com o plantão em si, esclareço. Gostava de estar no plantão. O trabalho era – na maior parte do tempo – bom de se fazer. Isso, aliás, quando trabalhava em locais em que se ofereciam condições mínimas para se exercer a minha função, o que nem sempre aconteceu, já que trabalhei em lugares bem difíceis mesmo. Mas íamos levando do jeito que dava.

 

O que eu realmente não gostava era da ideia de estar de plantão. O pré-plantão, o saber que estaria de plantão em determinado dia e hora. A antecipação era o que me matava. Estar no plantão estava bem, mesmo com noites não ou mal dormidas. O que me matava era a antecipação.

 

Pode chamar de ansiedade, tudo bem.

 

Houve uma época em que fazer plantões era fundamental em termos de renda, não havia a opção de não fazer. Então, muitas vezes os dias se alternavam entre a angústia de saber que estaria de plantão, o plantão em si, o cansaço vindo do plantão e novamente a angústia antecipatória. Era uma fase que deveria ser passada, paciência. Em determinado momento, alguém sugeriu que eu tomasse algum medicamento para reduzir essa ansiedade, essa angústia (o que era uma boa ideia), mas optei por não fazer (bobagem minha).

 

Quando recomecei a vida aqui após voltar do Canadá, há quase vinte anos, optei por não fazer plantões, mesmo que isso significasse que inicialmente minha renda seria bem menor do que poderia. Foi quando comecei a acumular atividades diversas, assumir funções, ‘abraçar’ o que surgisse, para depois, ao longo do tempo, ir selecionando o melhor para mim. 

 

Tem dado certo, afinal. Pelo menos é assim que vejo.

 

E sigo fazendo isso, priorizando, até hoje.


Até.