sexta-feira, outubro 31, 2025

Trinta e Cinco Anos Depois

Eu vi o outro lado.

 

Quanto, há 35 anos completos em agosto, eu estava internado em uma UTI em coma, mesmo “fora do ar” eu tinha – de alguma forma – uma noção de que eu estava em um leito de hospital, mas o que eu “via” era uma cama de hospital em frente a uma grande janela, como uma vitrine, que dava vista para um campo, como uma coxilha (uma colina suave em áreas de campo, que pode ter pequena ou grande elevação, geralmente coberta por pastagem). Havia o verde, e o sol forte, como uma luz.


Não, não pensei em caminhar em direção à luz.

 

Algum tempo depois, não muito, enquanto atendia um paciente ainda como aluno de segundo ou terceiro ano de medicina, ele relatou a sua experiência de quase morte, e falou de um campo e uma luz. Na hora, associei ao que eu tinha visto enquanto em coma, o que me deixou bem impressionado. 

 

Certamente o que aconteceu é que ajustei a minha “visão” ao relato dele, um viés de confirmação. Certamente, percebi logo, o que ele tinha “visto” não era o que eu havia visto, ou sonhado, vai saber. Eu havia criado uma conexão, um tipo de sintonia (que só eu sabia, obviamente).

 

Trinta e cinco anos depois, ontem, atendo um paciente no consultório. Era o aquele paciente! Não. Não era, nada a ver. Era um paciente que vinha para uma revisão, estava bem, iria fazer alguns exames.

 

Enquanto conversávamos, ele comentou.

 

Estou com cinquenta anos e estou na melhor fase da minha vida. Sou casado e com dois filhos lindos, já sei que nunca vou ganhar rios de dinheiro, mas vivo muito bem, tenho um lugar bom para morar, tenho amigos, faço exercícios, viajo de vez em quando”.

 

Como há trinta e cinco anos, me identifiquei com ele.

 

Eu também, eu também. 


Até. 

quinta-feira, outubro 30, 2025

Desconectado, Graças a Deus

Diferentes realidades, diferentes mundos.

 

Lá no final dos anos oitenta, a principal fonte de informação e entretenimento das famílias em casa era a televisão, como lembramos muitos de nós que viveram essa época. O Jornal Nacional e as novelas, entre outros programas. Por isso mesmo, eram pautas do dia a dia, e marcavam época.

 

Como o mistério de quem matou Odete Roitman, lá no final de 1988. A memória que tenho dessa época – em que eu havia terminado o segundo grau e estava para fazer o vestibular - é que foi um assunto que mobilizou o país. Até porque não tinha muito mais o que se discutir, imagino, e todos asssitiam novelas essa época.

 

Corta para 2025.

 

Terminou há poucos dias a exibição do remake da novela Vale Tudo, que reviveu o mistério do assassinato. Honestamente, nem sabia disso até ouvir no rádio, em meus diferentes trajetos de carro por Porto Alegre, pessoas comentando como se fosse algo que estivesse mobilizando – mais uma vez – o país. Confesso que me pareceu forçado, que estivessem forçando a barra para dar audiência a algo que não mais mobilizava as pessoas.

 

Parece que eu estava enganado.

 

Acho que era eu quem estava desconectado disso, quem não mais acompanhava, não assistia televisão aberta (o que é verdade), enquanto MUITAS pessoas ainda assistem. Eu sou o diferente nesse caso. E está tudo bem.

 

Outro corte, agora para o dia de ontem.

 

Estou esperando começar a reunião da qual participo todas as quartas-feiras ao meio-dia e chega um amigo e diz, em tom de brincadeira, o que eu achava da história do Vini Júnior com a Virgínia... Olhei para ele com cara de espanto. Quem???

 

Sabia, claro, quem era o Vinícius Júnior, mas nunca tinha ouvido falar em Virgínia, fosse ela quem fosse, e muito menos se havia alguma relação entre eles. E por que cargas d’água eu deveria saber? Não precisava saber, claro. 

 

Tenho mais o que pensar.

 

Ainda bem.


Até. 

quarta-feira, outubro 29, 2025

A Foto, O Espelho

Esses dias, olhando fotos minhas tiradas recentemente, não me reconheci. Sentimento estranho, esse, de olhar para uma imagem que eu sabia que era a minha e não me ver nela, não me reconhecer. Quem era essa pessoa que diziam, que eu sabia, ser eu? Cadê o cabelo, que barba é essa?

 

Lembrei direto da música ‘Não Vou Me Adaptar’, do Arnaldo Antunes e do Nando Reis, que fala – sob certo aspecto – disso. A parte que diz: 

 

Eu não tenho mais a cara que eu tinha

No espelho essa cara já não é minha

Que quando eu me toquei, achei tão estranho

A minha barba estava desse tamanho

 

Como se o Marcelo de 1986 (que eu já disse que é o último que para mim faz sentido, essa coisa de anos 2000 é muito maluca) estivesse olhando, tivesse encontrado o Marcelo de 2025. Como seria, o que ele me diria? Ou, melhor, o que eu diria se estivesse frente a frente comigo, com o Marcelo de 1986, que tinha quatorze anos?

 

Hang in there, bro

Cause everything is gonna be alright... 

 

Vai ser uma caminhada longa e com alguns contratempos, alguns obstáculos, até bem feios. Algumas vezes vai parecer que as coisas não se ajeitarão, em que não verás saída. Aguenta, respira fundo, e toca o barco.

 

Segue o teu caminho.

 

Tudo vai se resolver.

 

Até.

terça-feira, outubro 28, 2025

Little Things, Little People

Pequenas coisas.

 

Me agradam as pequenas vitórias do dia a dia, as microconquistas do cotidiano. Aquelas tarefas banais que não mudam o mundo ou a vida, mas que trazem satisfação e a sensação de dever cumprido.

 

Como arrumar a cama, que dizem que é a melhor forma de começar o dia, a primeira de todas as tarefas a serem realizadas, de onde potencialmente podemos sair para – aí sim – conquistar o mundo. Em casa, na divisão das tarefas de todas as manhãs, quem arruma a cama é quem se levanta por último. Algumas vezes sou eu, em outras é a Jacque, dependendo do dia da semana.

 

Praticar atividade física com regularidade também é outra forma de vitória cotidiana. Em meio aos dias corridos, reservar um tempo para isso é um feito que, modestamente, tenho alcançado já há tempo. Cada semana que termina em que atingi minhas metas de atividade física, musculação, caminhadas e quilômetros percorridos de bicicleta, é motivo de celebração.

 

Após alguns anos de ausência, no final do ano passado consegui recriar uma rotina de leituras diárias, outra vitória pessoal. O que significa também menos tempo de telas que, como qualquer dependência (vício), depende de uma vigilância constante para evitar recaídas. São ajustes que são feitos na vida que trazem satisfação pessoal. 

 

Como foi no último final de semana.

 

Havia deixado o carro para revisão na quinta-feira, e estava tudo bem. Porém, já fazia meses que não conseguia levar para lavar, pois nunca fechava o meu horário com a disponibilidade do local onde levo para lavar. Após a revisão, o carro estava bem, mas muito sujo. Sujo a ponto de eu pensar em trocá-lo, como volta e meia acontece.

 

No sábado à tarde, após o almoço e após ir ao supermercado, peguei panos, balde e decidi lavá-lo, mesmo na garagem. Ficou ótimo. Domingo pela manhã, arrumei meu armário de roupas.

 

Impressionante como iniciei a semana me sentido bem.


Até. 

segunda-feira, outubro 27, 2025

Me Julguem, Ou Não

Todas e todos. Café sem açúcar. Plant-based diet. Essas ‘modernidades’ que me soam estranhas.

 

Eu sou um ser anacrônico. Ou, melhor, me tornei um. É da vida, poderia acontecer, eu sabia. Fiquei para trás, estou ultrapassado. Me julguem. Já eu, por outro lado, procuro não julgar ninguém. Viva como quiser, como você achar melhor, seja feliz.

 

Uma de minhas filosofias de vida sempre foi a de que as pessoas têm o direito de viver da forma que acharem melhor, serem quem são, ser felizes. É direito individual óbvio ser quem és, e ninguém interferir nisso. Todos merecem respeito, independente de quem são ou o que fazem. Assim como todas as atividades merecem o mesmo respeito, desde a mais simples até as mais “sofisticadas”.

 

O que incomoda, de verdade, são aqueles que se julgam moralmente superiores e querem impor sua suposta autoridade moral sobre os outros. Os que querem impor sua verdade aos outros. Seja verdade política, religiosa ou de costumes. Pior ainda se querem dizer o que eu devo comer e – pior – o que não devo. Ou mesmo a linguagem, a tentativa de definir o que posso e o que não posso dizer e, mais, a forma com que eu devo me expressar.

 

Não. Está errado.

 

Viva como quiser, é direito e dever seu. Todos (do português ‘todas as pessoas, toda gente, todo mundo’) sem exceção devem viver como acham mais adequado para si mesmos. E adoçar o café. E comer carne. Ou não, problema é de cada um, e não diz respeito a mais ninguém.

 

Não encha o saco, por favor.


Até. 

domingo, outubro 26, 2025

A Sopa

Quase novembro.

 

Enquanto no Norte do Mundo o outono muda as cores das folhas antes de elas caírem anunciando a proximidade do longo inverno, aqui no Sul a primavera avança. E, definitivamente, deixei de hibernar.

 

Não que eu tenha passado os meses do inverno meridional dormindo em uma caverna, obviamente, o que não seria de todo uma má ideia, devo dizer. Mas a introspecção e a gravidade das coisas que caracteriza a estação fria do ano nos tornam mais devagar, mais ensimesmados. Como diria Caetano, está provado que só é possível filosofar em alemão, mas também que o inverno, com seus dias curtos e noites longas, é bem mais apropriado para pensar a vida e o mundo.

 

O inverno acabou, contudo, e saí da hibernação.

 

Os dias progressivamente mais longos e mais claros trazem seus efeitos em todos, mas falo de mim – como sempre – por aqui. Mais tempo ao ar livre, despertares mais cedo. Dormir é muito bom, mas acordar cedo, principalmente ser for sábado e tiver sol logo de manhã, é tão bom quanto, ou – ousadia! – talvez até melhor.

 

Saí da hibernação e involuntariamente voltei a acordar mais cedo, e o dia se torna mais longo, e o aproveito ainda mais. Como foi ontem, porque tinha sol e antes das sete já estava na rua, de bicicleta.

 

Como está sendo hoje, mesmo que ameace chuva nesse início de dia e eu possa usar o silêncio da manhã para escrever essas mal traçadas linhas que falam de mim.

 

Até.


PS - Não perca: próximo sábado, 01/11, no 4º Distrito, teremos o Halloween POA. Será uma festa com 12 horas de música e muitas outras atrações. Entrada gratuita mediante doação de 1kg de alimento não perecível. Entrega das doações e retirada da pulseira/ingresso na School of Rock Benjamin, ali na Benjamin Flores, 57, pertinho do Shopping Total.

sábado, outubro 25, 2025

Sábado ( e será dia 12/11!)

Feira do Livro de Porto Alegre


Dia 12/11 será minha segunda vez autografando na Feira do Livro de Porto Alegre.

Te espero lá!

Bom sábado a todos.

Até.


 

sexta-feira, outubro 24, 2025

O Que Não Posso Confessar

Existem pensamentos meus que não posso contar a ninguém. Não por serem criminosos, ou ilegais ou mesmo imorais, mas porque são meus e não dizem respeito a mais ninguém. Gostaria de compartilhá-los, mas – como disse – não posso, ou não tenho ninguém com quem compartilhá-los.

 

O que soa como um paradoxo, pois sou alguém que tem muitas pessoas com quem conversar, e que conversa com as pessoas. Falo de mim, conto histórias, púbico fotos em redes sociais. Me exponho, enfim, para o bem e para o mal. Da mesma forma que escrevo e publico meus escritos, online há mais de vinte anos e em livros nos últimos dois. Sou alguém que se expõe, todos os que leem sabem disso.

 

Ainda assim, há coisas que não posso - não devo - contar a ninguém. E confesso que algumas vezes isso me incomoda, o não poder contar, dividir com outros alguns pensamentos.

 

Pensei em escrever e manter em um arquivo nunca publicado, lugar onde eu colocaria no papel todos os pensamentos que não devo compartilhar com as pessoas. Ficaria lá, salvo na nuvem, para sempre. Isso até eu morrer, que seria quando as pessoas acessariam meus escritos e seriam então revelados meus pensamentos que não posso e não devo contar a ninguém.

 

As pessoas que lessem, então, ficariam muito decepcionadas com a desimportância do que escrevi e nunca confessei a ninguém, porque tudo só diria respeito a mim, e não interessaria a ninguém mais.

 

Sextou.


Até. 

quinta-feira, outubro 23, 2025

Catarata

O limite da provocação.

 

Tenho um amigo que vai operar a catarata. Sim, eu tenho amigos que já operaram e estão operando catarata. Sou velho a esse ponto. Não o bastante para ter que ser submetido à cirurgia, mas o suficiente para ter amigos que passam por ele, enquanto eu preciso de óculos para leitura (decidi não usar óculos com lentes multifocais...).

 

Esse amigo que vai operar hoje, aliás, é médico também e está em nossas manhãs de café logo ao chegar no hospital, e sabe – como sabemos – que é uma cirurgia rápida, simples e segura, mas desde o início não conseguiu esconder sua ansiedade quanto ao fato de ter de ser submetido ao procedimento. Fato que é comum, de certa forma natural. 

 

Só que não perdoamos, não deixamos barato.

 

Estamos – como já falei aqui – há semanas incomodando-o quanto a isso, o que aumenta a ansiedade e o folclore em torno da situação. A última, há dois dias, foi durante um almoço em que estávamos e alguém comentava sobre um acidente ocorrido em um congresso de oftalmologia há alguns anos, quando uma parte da estrutura de uma sala caiu sobre um colega e ele ficou paraplégico. Uma tragédia, sem dúvida, comentou um da mesa.

 

Ele, o amigo que vai ser submetido hoje à cirurgia de catarata, que não estava prestando atenção na conversa, perguntou ‘Que tragédia?’. Sem conseguir me conter, respondi de pronto:

 

Foi operar a catarata e ficou paraplégico”.

 

Todos na mesa riram, menos ele.

 

Talvez eu tenha exagerado. Ou não.

 

Vai correr tudo bem.


Até. 

quarta-feira, outubro 22, 2025

Dizer Não

Não é não.


Uma das ansiedades da vida, e falo de mim, como sempre, relaciona-se com a dualidade entre o querer ser convidado para algo – reunião, evento, encontro – e a vontade/necessidade de dizer não. Tem a ver com a questão de definir prioridades e limites.

 

É sobre a necessidade – pessoal, minha - de sentir-me parte de algo, grupo ou comunidade, em contraposição com a obrigação, ou a sensação de obrigação, de participar. Sempre quero, mas nem sempre posso. E o não poder, nesse caso, em boa parte das vezes é imposto por mim mesmo, por colisão com outros potenciais eventos simultâneos que são, na ordem de importância que eu estabeleci para mim, mais significativos.

 

E dizer não é, muitas vezes, difícil.

 

Por nos sentirmos obrigados, por não querer decepcionar, ou ser deixado de fora ou, extremo dramático, ser esquecido. Muitas vezes temos dificuldade de impor limites por medo da reação dos outros, o que imaginamos que os outros vão pensar de nós.

 

Tenho tentado, ao longo do tempo, colocar em prática a arte de dizer não, mas - principalmente - estabelecer claramente para mim mesmo as prioridades da vida. Criar um sistema que não gere dúvidas sobre o que é mais importante em cada momento. 

 

Parênteses. Ainda me pergunto se – aos cinquenta e três anos – eu deveria ainda estar me perguntando sobre esse tipo de questão, ou se não deveria já ter tudo resolvido, todo o caminho já estabelecido. Fecha parênteses.

 

Voltando ao priorizar, ao hierarquizar utilização do meu tempo, lembro que começou com o sábado de manhã, sempre descrito como as horas mais “caras” da minha semana. Ao me convidar para algo em um sábado de manhã, quem convida deve saber que a probabilidade de eu comparecer é pequena, então deve valer à pena.

 

Assim como são priorizados os eventos de família.

 

Ou as terças à noite de ensaios, que provavelmente vão voltar para segundas-feiras. Para faltar, o motivo deve ser importante. Mesmo que não agrade faltar a eventos e encontros que potencialmente gostaria de estar presente, sábados de manhã, família e ensaios tem prioridade sobre outros.

 

Assim, dessa forma, vou estabelecendo limites. 


Os meus limites.


Até. 

terça-feira, outubro 21, 2025

Faxina?

Sigo estudando o essencialismo.

 

Aprender a descartar o supérfluo, quer sejam objetos materiais que não mais fazem sentido guardar, pessoas tóxicas que drenam nossa (minha) energia e, talvez mais importante de tudo, aquilo que toma e desperdiça o meu tempo, que sequestra minha atenção. E não tem prejuízo maior na vida, esse de jogar fora o tempo.

 

Uma das batalhas que tenho travado é com as redes sociais, com a dopamina fácil e rápida. Venho controlando o tempo que passo (ou perco) com elas. E tenho que ser rígido, porque qualquer vacilo leva a recaídas e um maior tempo em frente às telas. Busco o equilíbrio entre a necessidade de estar presente nas redes e o risco de mergulhar de cabeça e esquecer do resto.

 

É como lidar com outras dependências: funciona como uma luta de boxe, não devemos baixar a guarda. Nunca. Caso vacilemos, baixemos a guarda, o nocaute é certo. É o alcoolista que não pode tomar o primeiro gole, o fumante que não pode fumar o primeiro cigarro.

 

Um dia depois do outro.

 

Ao mesmo tempo, selecionar o que não cabe mais na vida, os pesos que estou carregando sem necessidade. Olhar para os armários e eliminar o que não tem uso, não serve mais. Olhar ao redor, e perceber quem não faz mais sentido na vida, aquele(s) com quem houve perda de sintonia, aqueles cujos caminhos se afastaram do meu. Entender que nem sempre aqueles que gostaríamos que estivessem junto a nós estarão, ou se manterão, próximos.


É da vida, é do jogo.


Até. 

segunda-feira, outubro 20, 2025

Não É Só Sobre Dormir

É algo individual, único.

 

Ia escrever sobre dormir. Meu plano era falar que tenho dormido bem e sobre como isso é algo diferente para cada pessoa. Cada um de nós tem seu próprio ritmo, seu próprio relógio biológico. E talvez não haja certo ou errado de um modo geral, mas o que é certo e errado para cada um. E dormir é um dos melhores exemplos disso.

 

Eu, para ilustrar o assunto, sou um cara diurno. Eu preciso e gosto de acordar cedo, independente do dia, se na semana de trabalho ou finais de semana. Talvez goste ainda mais de acordar cedo aos sábados e domingos. Mesmo que durma mais tarde na noite anterior, ainda assim acordo (relativamente) cedo e, sempre que necessário, recupero à tarde, após o almoço.

 

Só que reconheço que isso não é verdadeiro para grande parcela das pessoas. Cada um – como falei – tem seu próprio ritmo de sono, seus hábitos e suas rotinas. E não há alguém mais certo nesse assunto que outros, é pessoal. E isso vale para muitos outros aspectos da vida.

 

Entender e aceitar isso, que as pessoas são diferentes, podem pensar de formas diversas às nossas, e que está tudo bem, não precisamos ser todos iguais, é a chave da tolerância, da boa convivência. Saber conviver com o contraditório é uma qualidade, uma habilidade, fundamental no mundo. 

 

E falo de política, de religião, de modo de vida em geral.

 

Aceitar que as pessoas podem ser diferentes de nós, e podemos conviver harmoniosamente mesmo assim, é uma vantagem evolutiva, que deve ser cultivada.

 

Até. 

domingo, outubro 19, 2025

A Sopa

Eu escrevo.

 

Como todos que me leem sabem, tenho dois livros publicados nos últimos dois anos, e – talvez não saibam - estou trabalhando no(s) próximo(s). Depois de um longo tempo de maturação, digamos assim, decidi – ano passado – que era hora de publicar meus escritos, e assim o fiz.

 

São edições pequenas, de cerca de cem exemplares que não tenho pressa em vender. Não imaginava me tornar um fenômeno editorial instantâneo, ou ganhar muito dinheiro com isso. Seria legal, mas nunca foi uma expectativa real. E está tudo bem. Resolvi publicar porque eu precisava fazer isso, da mesma forma que preciso escrever. É parte de quem sou e, mais, uma necessidade. É a uma das formas que tenho de me comunicar com o mundo. 

 

Ao escrever, publicar e divulgar isso, é óbvio que tenho a expectativa de que – se não milhares – ao menos algumas pessoas leiam o que escrevo, e sei que a proximidade a mim é o que faz com que as pessoas leiam meus escritos (crônicas que viram livros). E, mais, como o que escrevo é pessoal, falo (ainda) muito de mim, de como vejo o mundo, ou seja, me exponho, entendo que as pessoas acabem por me conhecer um pouco melhor por isso. Espero e entendo que seja assim.

 

Quando fui almoçar no restaurante de quase todos os dias na sexta-feira passada, ao final da reunião clínica das sextas-feiras, ao chegar na mesa reservada para o nosso grupo de médicos, por ser cedo para uma sexta-feira habitual, estava almoçando apenas um colega psiquiatra, professor da Escola de Medicina da PUCRS, que eventualmente almoça conosco. Servi minha comida no buffet e sentei-me na mesa com ele, apenas nós dois.

 

Foi quando ele comentou, assim, do nada, que no final de semana anterior havia lido meu livro ‘Eu Pai, Eu Filho’ (que terá sessão de autógrafos na Feira do Livro!) e que havia gostado. Fez ainda alguns comentários sobre o tema, sobre paternidade, e seguimos o almoço. Logo chegaram outros integrantes da mesa, e a conversa se desviou. Não precisava mais, havia ganho meu dia.

 

Já falei sobre isso, eu acho, mas desde que publiquei o primeiro livro, no ano passado, percebi que conhecer um outro lado meu além do médico mudou a percepção que pessoas com as quais eu convivo no ambiente de trabalho tinham de mim. Brinco que ‘mudei de prateleira’, mudei de nível.

 

O que é bem legal.

 

Até. 

sábado, outubro 18, 2025

Sábado (e vai ser dia 01/11)

Halloween POA 2025
 

O maior festival de Halloween do Sul do Brasil.

Dia 01/11/2025, a partir das 10h.
Rua Frederico Mentz, 1606, no 4º Distrito.

Imperdível.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, outubro 17, 2025

Quem Passa e Quem Fica

Dia desses, estávamos nós, três amigos cuja amizade beira os quarenta anos, reunidos depois de algum tempo, nos atualizando sobre nossas vidas, as coisas pelas quais temos passado, fatos bons, preocupações, vocês sabem como é. Histórias e estórias.

 

Em determinado momento, lembrei do quarto integrante de nosso núcleo principal daquela época, o final dos anos oitenta, que foi parte importante do grupo e que – por razões nunca entendidas por mim, ao menos – se afastou de nós e nunca mais deu notícias. Sumiu de nossas vidas, que seguiram como sempre seguem, independente dos fatos que nos ocorrem.

 

Foi quando me dei conta que estávamos falando de alguém que convivera conosco por cerca de três anos, há quase quarenta anos e ainda, eventualmente, lembrávamos dele. E percebi também que acontece não só com esse ex-integrante de nossa turma lá dos anos oitenta, da época da Escola Técnica de Comércio da UFRGS, do Curso de Operador de Computador.

 

Existem vários exemplos de pessoas que tiveram uma curta passagem – e agora falo de mim – na vida e cuja influência (não sei se é esse o melhor termo), ou marca, persistiu no tempo. São pessoas das quais ainda lembro – talvez de maneira recorrente, não sei – mesmo depois de muito tempo de sua passagem pela minha vida, mesmo depois que os caminhos que seguíamos deixaram de ser paralelos, no sentido de que caminhávamos lado a lado, se desviaram e se afastaram de forma definitiva.

 

O que determina a marca que as pessoas deixam em nossas vidas?

 

Tenho que pensar e escrever mais sobre isso.


Sem falar na importância daqueles que permanecem.


Outro dia, outro dia.


Até. 

quinta-feira, outubro 16, 2025

O Equilíbrio e a Dieta do Pão

O que queremos para nossas vidas?

 

Pergunta bem genérica, claro, porque queremos muitas coisas, em diferentes áreas e dimensões de nossa existência. E o que cada um deseja, ou almeja, para sua própria vida é algo extremamente pessoal, privado. 

 

Sobreviver é o mínimo, o mais básico. 

 

Infelizmente, para muitos, sobreviver ao dia é tudo, é a luta de todos os dias. Todos nós, os outros, que de uma maneira ou outra, temos nossa sobrevivência garantida, temos o básico para viver, somos privilegiados. A partir desse básico garantido, nossas aspirações vão crescendo e, dependendo do caso, podem ser altas a ponto de causarem frustração quando não atendidas ou alcançadas.

 

Qual é o ponto de equilíbrio, costumo me perguntar, entre necessidades básicas atendidas e aspirações outras? O que é preciso para ser feliz? O quanto preciso ‘Ter’ para somente me preocupar com ‘Ser’? É preciso ter para ser?

 

Esse é a jornada em que me encontro por esses dias, em busca desse equilíbrio, aprendendo (ou tentando aprender) o que realmente preciso para viver da forma que considero a melhor para mim. Tempos reflexivos, esses.

 

A primeira verdade a saber é que o que considero o melhor para mim não é necessariamente o melhor para outros. Cada um deve saber de si, viver a sua verdade, e – importante – não tentar impor seu modo de vida aos outros. Vale para tudo, ou quase tudo. Como quem decide, por exemplo, parar de comer pão, independente da razão. Entendo, respeito (mais ou menos).

 

Só não me pede que faça isso também...


Até. 

quarta-feira, outubro 15, 2025

Sem Ansiedade?

Estou confortável.

 

Indo mais uma vez contra o senso comum a respeito do assunto, que não é novo por aqui e é uma das minhas batalhas pessoais, eu me sinto obrigado a dizer que estou em minha zona de conforto, e é muito bom. Pro inferno com quem pensa diferente.

 

Como sabem, sou inconformado com quem fala mal da zona de conforto, estado psicológico de segurança e estabilidade, onde os comportamentos, ações e rotinas não causam medo ou ansiedade. Ela poderia limitar o crescimento pessoal e profissional pela possível falta de desafios e novos aprendizados. Sair dela seria a chave para a evolução.

 

Eu acho bobagem.

 

Se o conceito de zona de conforto envolve a ausência de ansiedade, então – vejam bem – ela não existe. Não há absolutamente nenhuma chance de existir a vida sem algum grau de ansiedade. A zona de conforto para mim é isso, estar em uma situação em que – apesar das dores do mundo, suas dificuldade e aflições – ainda assim me sinta – redundância – confortável em ser quem eu sou e estar onde estou. Não é estar boiando em uma piscina de tranquilidade, é me sentir bem apesar do que acontece à volta. São momentos de paz em meio aos desafios. Isso é zona de conforto.

 

Pois dizia que estou em uma fase de vida em que me sinto bem na convivência com maioria das pessoas no meu dia a dia, em especial com meus amigos, e que estou tranquilo em dizer ‘VAI PARA PUTA QUE TE PARIU’ aos idiotas, e os de pouco caráter. 

 

Até. 

terça-feira, outubro 14, 2025

Eu Sei e Ninguém Vai Me Dizer

Sobre o que é realmente importante.

 

Anos atrás, quando eu trabalhava na indústria farmacêutica, costumava viajar pelo Brasil para dar aulas de educação médica continuada. Eram viagens semanais, normalmente às quintas-feiras, porque às terças-feiras eu dava aulas na Universidade. Pegava um voo na quinta de manhã, dava aula à noite em algum restaurante e voltava na sexta-feira logo cedo a tempo de atender no consultório no mesmo dia à tarde. Normalmente funcionava bem.

 

Claro que, estando frequentemente em aeroportos, dependendo de companhias aéreas, meteorologia e sujeito a (muitos) potenciais problemas, enfrentei alguns contratempos nesse período, em termos de atrasos e cancelamentos de voos. Como sempre soube, poderia acontecer.

 

Houve uma vez, em especial, em que eu viajaria para dar uma aula em Florianópolis, bate e volta mesmo, voo curto, tranquilo. Porém, na semana em que ocorreria a viagem, havia a ameaça de greve geral que incluiria os aeroportos, com cancelamento muito provável de voos justamente no dia em que eu teria que voltar. Ao mesmo tempo, a Jacque estaria viajando e, conforme nosso plano, eu deveria voltar para ficar com a Marina, que tinha oito ou nove anos. 

 

Por alguma razão que já não lembro, nenhuma das avós poderia ficar com ela naquele dia, então eu realmente precisava estar em casa pela Marina, eu tinha que ter certeza de que voltaria para casa na manhã seguinte à aula. Só que até a véspera da aula ainda havia o impasse, ainda havia a possibilidade forte de eu não ter como voltar para casa após o evento. 

 

Conversei com a pessoa responsável pelo evento, expliquei a situação e disse que não poderia correr o risco de não voltar. Ele entendeu, e me comprometi a compensar em outro no momento. Tudo certo, imaginei.

 

Só que a greve não se confirmou.

 

Paciência, eu ia me redimir em um futuro próximo.

 

Passou o tempo, e um dia, em uma conversa difícil com uma gestora, entre outras coisas, ela trouxe o fato de eu ter sido o único que havia adiado o evento naquela vez. Tentei explicar o fato, e ela disse que eu devia saber minhas prioridades.

 

Silenciei.

 

Eu sabia, como sei até hoje, quais são minhas prioridades.

 

Aquele foi o momento em que soube que não ia durar muito mais tempo na empresa, mesmo sabendo que aquela não era a posição institucional, era a visão pessoal (e distorcida, na minha opinião) da pessoa que estava falando comigo. Decidi, quase que instantaneamente, que era hora de preparar minha saída.

 

Não precisava dizer mais nada.

 

Até.

segunda-feira, outubro 13, 2025

Fotografia

 Eu sou fã de fotos.

 

Desde muito tempo, e lembro do quão legal era quando nos reuníamos em casa, mãe, pai, o meu irmão e eu para ver as fotos (em forma de slides) do tempo em que meu pai esteve no Suez, com as Forças de Paz da ONU, lá nos anos sessenta. Eram imagens em preto e branco, do Egito, Cairo e pirâmides, de Israel, Jerusalém, Tel Aviv e praias, além de registros da rotina militar. 

 

Assim como olhar álbuns com fotos minhas desde o nascimento, meus avós maternos, meus tios, a casa da praia, imagens minhas no mar, além de outros eventos. Era como revisitar a própria história. Assim como eram momento rituais, tanto o montar o álbum quanto parar para olhar. Até porque as fotos eram especiais, feitas com critério, muito por caras (desde as máquinas, o filme até a revelação).

 

Quando as máquinas digitais surgiram (minha primeira é de 2002) isso mudou. Inicialmente de forma mais lenta, afinal os cartões de memória eram limitados, e depois muito rapidamente com os celulares e suas câmeras cada vez melhores. Com isso, obviamente, o volume de fotos aumentou exponencialmente. Assim como tirar fotos ficou fácil e banal, olhá-las também ficou.

 

O acesso fácil às fotos certamente tirou o caráter meio que ritualístico do revê-las, para o bem e para o mal, como tudo na vida. Eu gosto assim, de ter imagens do passado em minha mão, a um toque de distância, de poder rever a vida através de fotos sempre que quero. É o que faço publicando fotos antigas no Instagram. Entendo que até pode ser exposição exagerada, mas manter a (minha) memória, de certa forma reverenciar fatos e pessoas passados, é uma forma (para mim) de me sentir conectado com a (minha) história.

 

Até.

domingo, outubro 12, 2025

A Sopa

Talvez seja algo como um trauma, não sei.

 

E não que atrapalhe a vida ou a minha relação com as pessoas, de maneira nenhuma. É em parte consciente, ou seja, reconheço a existência, assim como houve um momento em que identifiquei a sensação do que viria a aprender ser a Síndrome do Impostor, e convivo normalmente bem com a situação, mas – eventualmente – causa certo desconforto.

 

Falo da sensação de exclusão.

 

Que não é o FOMO (Fear of Missing Out).

 

Ou talvez seja, não importa, mas eventualmente reconheço a sensação de mal-estar por não fazer parte, não estar presente, não ter sido convidado. Não é racional, claro, e é algo fugaz, efêmero. Mas ainda assim bem reconhecível.

 

Não posso e nem quero estar presente em todas as situações, mas ainda assim eventualmente me ressinto de estar de fora, de não ter sido chamado. E isso fala de mim, não dos outros. Sei que o problema (a possibilidade de me ressentir, mesmo que por um mínimo espaço de tempo) é comigo, não com os outros, que não tem nada a ver com isso.

 

É o preço de determinadas opções de vida tomadas, de caminhos que decidi percorrer e, como disse, estou bem tranquilo quanto a isso. Poderia dizer que é o preço que pago por ser que eu sou e estar onde estou, e seria uma licença poética.

 

Sei que estou no caminho certo para mim, que é o que importa. Às vezes, contudo, olho para o caminho do qual me desviei e a grama parece mais verde.


Sei que não é.


Até. 

sábado, outubro 11, 2025

Sábado (e uma foto antiga de viagem)

 

Final do dia


Dia 11 de outubro de 2025, há 20 anos.
Assis, Umbria. Itália.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, outubro 10, 2025

A Vida Não Espera

Acontece, vez que outra, de tentarmos começar o dia de forma tranquila, diria até devagar, como sugerem os coachs por aí. Nem falo aqui em acordar antes das seis da manhã, tomar um banho frio e meditar por meia hora, ao menos. Nem perto disso. Falo apenas em ter tempo de respirar um pouco e seguir meio em silêncio até o trabalho, por exemplo. Pois é.

 

Como eu ia dizendo, acontece de querermos começar o dia mais leves, afinal é sexta-feira e tem sol e o final de semana que se apresenta será - espero - de tempo bom (e digo isso sem consultar a previsão do tempo). E então começam a entrar notificações no telefone celular, em sequência, antes ainda das oito horas da manhã, e os problemas estão ali, a um reconhecimento facial de distância, esperando que tomemos consciência deles, o que gostaríamos de retardar ao máximo, mas sabemos que não podemos.

 

E o pior são os áudios, pior mesmo são os áudios.


(eu não suporto áudios)

 

Respiramos fundo, e seguimos, porque há pacientes esperando, reuniões diversas e um longo dia pelo frente.

 

Sextou.

 

Até.

quinta-feira, outubro 09, 2025

Um Desabafo

Se não vai ajudar, então não atrapalha.

 

Princípio simples de boa convivência, válido para as mais variadas situações e ambientes de convívio da vida. Se não tens nada a acrescentar, ou nada de bom a dizer, fica na tua, não enche o saco.

 

Ao longo do tempo é impossível não cruzar com pessoas assim, de difícil convivência e que, pior, quando lidam com quem aparentemente não pode lhes trazer nenhum benefício, ou que circunstancialmente está lhes servindo, as tratam mal, com pouca educação. Tipo atendentes, garçons, porteiros e pessoas que prestam serviços em geral. Quem as trata mal não merece meu respeito, de verdade.

 

Também, por incrível que pareça, não é incomum pacientes ou familiares de pacientes serem indelicados, agressivos até, com as secretárias e chegarem para consulta com o médico e serem extremamente doces, às raias do angelical. Pior é quando isso acontece aqui no consultório, e eu ouço o paciente ser agressivo com a secretária e depois chegar em mim todo carinhoso e tal. Fico muito incomodado com isso.

 

Todas as pessoas merecem ser tratadas com o devido respeito, talvez ainda mais as que nos servem de alguma maneira, independente de qualquer outro fator. Sempre pensei que diz muito sobre a pessoa, de maneira negativa, ela tratar diferente pessoas de diferentes extratos e condições sociais, digamos assim.

 

Como dizer por aí, respeito é bom (todos merecem, é uma via de duas mãos) e conserva os dentes...

 

Apenas um desabafo.

 

Até.  

quarta-feira, outubro 08, 2025

Oito de Outubro

Manhã de sol. Quarta-feira.

 

A vontade que tenho de escrever amenidades sobre o clima, a primavera que recém começou e a temperatura que é baixa hoje e tornar-se-á agradável ao longo do dia é maior do que a possível necessidade de abordar assuntos pesados, como política doméstica ou internacional.

 

Não que não sejam temas importantes, pelo contrário, mas não quero iniciar o dia, que começa mais tranquilo que os demais por ser quarta-feira e por ter sol, que incide sobre a mesa da sala de jantar em um silêncio que é quebrado pelos ruídos da rua, o tráfego, e, também, pelo som da água que corre da fonte de onde os gatos tomam água, não quero, como estava dizendo, começar o dia com assuntos pesados. Como os motores ruidosos em pulsos que se alternam quebrando os silêncios.

 

O jornal de papel que ainda assino e leio sobre a mesa da cozinha também iluminada pelo sol, a cadeira vazia onde tomei o café da manhã. Tudo, desde o silêncio entrecortado pelos sons da cidade até o sol que invade e ilumina casa onde estou só agora, tudo remete à paz de espírito, à tranquilidade. 

 

Tenho estado tranquilo por esses dias, mesmo que muito esteja por acontecer e que mereça minha (nossa) atenção, projetos e eventos em andamento, nesses dias que parecem correr mais rápido porque se aproxima o fim do ano e vemos a areia escorrendo pela ampulheta e a sensação de urgência aumenta. Ainda assim, e apesar disso, durmo tranquilo, com a consciência em paz de estar fazendo o possível e o meu melhor.


Até. 

terça-feira, outubro 07, 2025

O Tinder já era e os Cartões de Natal

Sou de um tempo anterior às redes sociais.

 

Aliás, sou de um tempo anterior ao uso diário e cotidiano de computadores e telefones celulares. De um tempo de telefones fixos que eram caros de se obter e para os quais havia um mercado paralelo, e de pessoas que possuíam várias linhas telefônicas e as alugavam, como uma fonte de renda, inclusive. 

 

O fato de os telefones não serem facilmente obtidos e nem necessariamente baratos levava ao uso dos telefones públicos, os orelhões, para comunicação com quem os tinha. Nós tínhamos em casa, em Porto Alegre, mas não na casa da praia, e a forma de nos comunicar com meu pai, que ficava durante a semana trabalhando em Porto Alegre enquanto ficávamos com a minha mãe nos verões em Imbé, eram os telefones públicos, com suas filas para ligação.

 

Isso, óbvio, muito antes dos celulares que, quando surgiram no Brasil, eram mais caros ainda e se pagava por ligação feita e recebida. E eram telefones móveis até ali, porque – além de trambolhos pesados – tinham uma autonomia de bateria pequena. 

 

Outros tempos, outros tempos.

 

Tudo mudou muito rápido nos últimos trinta, quarenta anos, certamente muito mais rápido do que em qualquer outro período da história, e a minha geração foi praticamente a última que foi analógica e digital, vivemos nos dois mundos e sua transição. Passei de escrever em cadernos de anotação, para a máquina de escrever, o computador de mesa, e o notebook (não curto escrever textos maiores no celular).

 

Além disso, com relação aos relacionamentos, sou bem anterior aos aplicativos com esse fim, afinal estamos juntos, a Jacque e eu, há trinta anos. Sou (somos) do tempo em que se conhecia a pessoa na vida real, nos locais de trabalho, com amigos, e até em festas. Saíamos para conhecer pessoas. Ir para a noite era uma aventura, de certa forma.

 

Não sei como é hoje, exceto pelo que alguns amigos contam.

 

O interessante, contudo, é que ouvi sobre uma reportagem que fala da tendência de esses aplicativos de relacionamento estarem começando a perder audiência porque as pessoas estão buscando experiências reais, conhecer pessoas através de pessoas, amigos e conhecidos. Estariam buscando novamente conexões mais, poderia dizer, verdadeiras? Pode ser, não sei.

 

Como deixar o streaming de música e voltar aos discos de vinil.


Eu, por aqui, estou esperando a volta das cartas e dos cartões de Natal.


Até. 

segunda-feira, outubro 06, 2025

Uma Qualidade e um Defeito

Desenvolvi, ao longo dos anos, e claro que isso é uma opinião minha, com todos os vieses possíveis, uma qualidade, ou característica, em minha escrita: a concisão. Consigo, ao escrever, ser objetivo e claro naquilo que quero dizer, na mensagem que desejo passar. Aprimorei ao ponto de ter de ‘fazer força’ para produzir textos mais longos, principalmente aqueles mais reflexivos.

 

Diferente da linguagem verbal, da fala, situação em que ocorre exatamente o contrário. Me sinto prolixo, principalmente porque sempre desejo (preciso) contextualizar a história que conto, ou o meu ponto de vista. Há, então, a meu ver, essa dissonância entre quem pareço quando escrevo em oposição a quando estou falando, quando estou contando um estória.

 

Ocorre que eu teria lapidado tanto a minha escrita para se tornar objetiva, direta e concisa, que quando quero produzir textos mais longos eu preciso trabalhar mais para conseguir (o que, na verdade não é ruim). Já enquanto estou conversando com alguém é diferente, porque costumo me alongar em fatos, situações correlatas, fatos prévios e contextos diferentes.

 

Sinto, algumas vezes, que estou sendo chato. Que precisaria desenvolver a concisão e a objetividade também quando converso com alguém.  

 

Só que, honestamente, não sei se quero.

 

(existe coisa melhor, em termos de amizades, que conversas e estórias longas entre amigos em torno de uma mesa de bar?)


Até.