domingo, outubro 05, 2025

A Sopa

Sobre fazer.

 

Sexta-feira à noite, entre o levar e o buscar a Marina e amigas de um aniversário em horário civilizado, isso é, entre oito e meia da noite e próximo à meia-noite, houve tempo para comer um xis com dois amigos cuja nossa amizade beira os quarenta anos. Já falei por aqui, e repito, cheguei (chegamos) em uma fase da vida que é repleta de datas marcantes, efemérides, do tipo isso aconteceu há vinte, ou trinta ou quarenta anos, por exemplo. Sinal inequívoco da passagem do tempo.

 

O encontro, aqui perto de casa, walking distance, porque eu iria voltar para pegar o carro para buscar as meninas, foi aquele que começa colocando os papos em dia, as novidades e percalços da rotina,  e que evolui para questões filosóficas, como a já comentada passagem do tempo e o sentido da vida. Noite de temperatura agradável, pessoas passeando e mesas na rua.  

 

Uma das histórias contadas e um dos temas discutidos foi sobre a sensação do ‘não fazer’, aquela situação da existência do desejo, do sonho de fazer ou ter algo, principalmente fazer, tipo adquirir uma habilidade, e ficar apenas nisso, no desejo, no projeto, e não executar, e a potencial frustração de não fazer, não por outra razão que não o não dar o primeiro passo, não começar. Uma história que não é incomum.

 

E lembro do ‘Papo de Domingo’, que é como uma amiga chamava as conversas e o planos que pai dela – algumas vezes junto com o meu pai - fazia aos domingos à tarde, depois do almoço, e que nunca seriam realizados. Grandes viagens além-mar, potenciais negócios que seriam criados, tudo ficava no plano das ideias, das conversas de um domingo de folga, e talvez fossem apenas aí que devessem existir mesmo, e estava tudo certo.

 

Nessa nossa conversa de sexta-feira que passou, contudo, falávamos dos planos que – se não postos em prática – levam à frustração, nos deixam com aquele gosto de derrota. Falávamos desses, e da possível percepção de que seria alguém que não tem ou não toma a iniciativa, que seria esse um traço de personalidade, e que o quanto mais significativo e importante é o fato de ter iniciado, ido atrás. Sem alarde, no seu tempo. Talvez até mais significativo do que o resultado obtido.

 

De minha parte, por outro lado, falei que o meu maior medo nunca fora não ir atrás, não tomar a iniciativa de buscar o que desejava, não colocar a cara à tapa. Sempre me preocupara justamente não terminar aquilo que começara, não deixar pela metade, não abandonar um projeto ou desejo quando as dificuldades porventura aparecessem. 

 

Mais do que tudo, sempre me assustou a possibilidade de uma vida morna, em preto e branco. E tenho feito de tudo para não ser assim.

 

Até.