O limite da provocação.
Tenho um amigo que vai operar a catarata. Sim, eu tenho amigos que já operaram e estão operando catarata. Sou velho a esse ponto. Não o bastante para ter que ser submetido à cirurgia, mas o suficiente para ter amigos que passam por ele, enquanto eu preciso de óculos para leitura (decidi não usar óculos com lentes multifocais...).
Esse amigo que vai operar hoje, aliás, é médico também e está em nossas manhãs de café logo ao chegar no hospital, e sabe – como sabemos – que é uma cirurgia rápida, simples e segura, mas desde o início não conseguiu esconder sua ansiedade quanto ao fato de ter de ser submetido ao procedimento. Fato que é comum, de certa forma natural.
Só que não perdoamos, não deixamos barato.
Estamos – como já falei aqui – há semanas incomodando-o quanto a isso, o que aumenta a ansiedade e o folclore em torno da situação. A última, há dois dias, foi durante um almoço em que estávamos e alguém comentava sobre um acidente ocorrido em um congresso de oftalmologia há alguns anos, quando uma parte da estrutura de uma sala caiu sobre um colega e ele ficou paraplégico. Uma tragédia, sem dúvida, comentou um da mesa.
Ele, o amigo que vai ser submetido hoje à cirurgia de catarata, que não estava prestando atenção na conversa, perguntou ‘Que tragédia?’. Sem conseguir me conter, respondi de pronto:
“Foi operar a catarata e ficou paraplégico”.
Todos na mesa riram, menos ele.
Talvez eu tenha exagerado. Ou não.
Vai correr tudo bem.
Até.