quarta-feira, agosto 14, 2024

Minha História da infâmia

Sempre penso na história privada da infâmia.

 

Não sei se esse é o melhor nome, mas foi o que me surgiu esses dias em que pensava em situações do passado em que – em diferentes situações – disse ou fiz coisas as quais lamento até hoje, quando volta e meia ressurgem em meus pensamentos como fantasmas carregando correntes à noite em uma casa mal-assombrada. Parênteses. O termo mal-assombrado para se referir ao que seria um local habitado por seres do além me soa estranho. Entendo que é assombrado pelo mal, mas parece que é resultado de entidades desleixadas, que não estão fazendo um bom trabalho, sei lá. Fecha parênteses.

 

Falava eu das infâmias passadas.

 

Percebi que aquilo que considero momentos ruins da minha trajetória no sentido em que fui inadequado, vamos dizer assim, nem sempre corresponde a algo que as pessoas talvez tenham também percebido como tal. Algumas vezes, sim, todos os envolvidos notaram e o clima ficou estranho, mas, como eu disse, em outras fui apenas eu que “notei” e me constrangi (ou as pessoas foram educadas o bastante para não me deixarem saber). E isso em um tempo ainda anterior ao politicamente correto.

 

Como uma vez, nos anos noventa do século passado, em um evento social em que eu era acompanhante da convidada, quando uma outra convidada veio comentar ironicamente sobre futebol comigo, ela de um time que não o meu. Isso em uma fase que eu ainda ficava irritado com isso, ao contrário de hoje em dia, em que não estou nem aí para isso. Gosto de assistir quando está legal. Caso contrário, tenho coisas bem mais importantes com o que me preocupar. Nessa situação específica, ela falou, falou, brincou, provocou, até que não aguentei e, contrariado, disse para ela que “não discuto futebol com mulher” ... 

 

Que merda de frase.

 

Sexista e indelicado, tudo o que não sou. Na hora vi que tinha falado besteira e me arrependi, mas o estrago estava feito. Talvez – provavelmente – a pessoa a quem disse essa bobagem não lembre disso, mas eu lembro, e até hoje me arrependo dela. Tenho tentado, ao longo dos anos, me redimir dela, mais ainda depois de ser pai de uma menina. 

 

Vamos crescendo assim, aprendendo com erros, nossos e dos outros.

 

Até.

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