domingo, agosto 04, 2024

A Sopa

Casamento.

 

Entre as muitas razões para eu permanecer casado (muitas, mesmo), me sinto obrigado a falar de uma em especial, em um domingo cinza e úmido: não teria disposição (“saco”) para voltar a frequentar “a noite”. Não é mais para mim. Se quiser me chamar de velho, fique à vontade.

 

Quando falo em noite, quero dizer sair com o objetivo de encontrar relacionamentos, sejam de uma noite ou mesmo mais duradouros. Isso caso alguma catástrofe acontecesse e a Jacque e eu não estivéssemos mais juntos. Sair com amigos para conversar, assistir a shows, isso é claro que é muito bom. E começo a entender quem usa os aplicativos de namoro para conhecer pessoas que potencialmente podem se tornar relacionamentos.

 

Aconteceu de – nos últimos dois meses – a Jacque e eu sairmos para nos divertir (um aniversário de uma amiga dela e uma noite com um grupo de amigos) em casas noturnas de Porto Alegre. Foram experiências (para mim, para mim) reveladoras.

 

A primeira, em uma casa noturna sem música ao vivo, que funciona como restaurante que depois se torna uma festa. Era uma sexta-feira à noite, e fomos em um aniversário. Jantamos, conversamos com outros convidados, e observei o comportamento dos frequentadores do local, de faixa etária bem variada naquele momento. Para a turma de faixa etária semelhante à minha, um padrão feminino: loiras em grupo, de preto, botox e o tempo todo no celular. O que mais se via era o rosto iluminado pela luz azul do celular. 

 

A segunda experiência foi em uma outra casa noturna, que tem música ao vivo, e é antiga em Porto Alegre, caracterizada por boa música (ou o que eu considero boa música). Talvez por isso, pelo que eu considero boa música, frequentado aos sábados à noite por pessoas de faixa etária semelhante à minha e ainda maior. 

 

Fomos em um grupo de amigos, e ficamos em mesa em frente ao bar, junto ao balcão, próximo de onde as pessoas ficam em pé, a sós ou em duplas, e sabemos com qual intenção. Estava dirigindo, porque mais tarde buscaria a Marina em uma festa, então foi uma noite sem ingerir absolutamente nada de álcool, o que nunca foi problema para mim, e que serviu, então, para uma observação mais apurada e crítica do ambiente, o que reforçou tudo o que eu disse sobre querer continuar casado...

 

Começamos pela constatação de que havia muitos mais velhos do que eu, e que talvez eu prefira ir a lugares onde eu estou entre os mais velhos. A “questão capilar” não era uma questão: a maioria, se não quase isso, dos homens por lá estavam em situação de pouco ou nenhum cabelo. Eu, com o (pouco) que tenho, não chamava à atenção. Sentado onde estava, de encostado no balcão e de frente para o resto da casa, eu acompanhava as dinâmicas acontecendo em volta, e, por estar no caminho dos banheiros e próximo ao caixa, via (quase) todo mundo que se dirigia a esses locais.

 

Quando começou o show da banda da casa, passei – além de acompanhar a música – a prestar atenção a alguns grupos próximos de onde estávamos em seus rituais de acasalamento. Desde o “fortinho” de pouca altura de camiseta “mamãe sou forte” dançando com movimentos rígidos e conversando ao ouvido de uma mulher próxima, até aquele que parecia ser seu wingman, já alcoolizado, “dando tiros” para todo lado e vendo suas tentativas de aproximação serem rejeitadas, mas ficando à volta, na expectativa de que algo aparecesse.

 

Enquanto estivemos lá, não apareceram.

 

Me perguntei como seria, ou como eu seria visto, se fosse eu naquela situação, de estar na noite em busca de companhia, se haveria alguém prestando atenção em mim e possíveis movimentos voltados a esse objetivo. Fiquei com vergonha ao pensar. Não tenho mais idade para isso (não tem a ver com idade, claro, mas com espírito, ou talvez tenha, não sei). Seria eu, nessa hipotética situação, o tiozão inconveniente?

 

Serei eu o tiozão que não admite que envelheceu?

 

A saber.


Até. 

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