sexta-feira, agosto 02, 2024

Diário da Abstinência

Dormi bem a noite que passou.

 

As anteriores haviam sido conturbadas, com alguns despertares mais longos e uma certa dificuldade de retomar o sono após. Em uma das noites, cogitei tomar um indutor de sono por volta das três da manhã, mas desisti. A sensação de que não dormira pelo tempo suficiente persistiu nas primeiras noites da semana.

 

Não acredito que a alteração do sono tenha relação com a minha diminuição de tempo de telas e redes sociais, mas não posso negar a associação temporal. Não é síndrome de abstinência, mas – como em qualquer tipo de dependência – esses são dias de esforço e uma maior autoconsciência. Algumas situações que era regulares, feitas ‘no automático’ agora requerem minha atenção.

 

Lembro então o período logo após a cirurgia de coluna que fiz, devido a uma hérnia de disco lombar. A cirurgia foi meio de urgência porque acordei um domingo com perda de força na perna esquerda, após uma crise de dor insuportável que havia tido na madrugada. Ao acordar já com a dor controlada, percebi que caminhava com dificuldade. A cirurgia foi dois dias depois, e foi como tirar a dor com a mão.

 

Após a cirurgia, mas decorrente da compressão nervosa resultante do período em que a hérnia esteve evoluindo, quando voltei a caminhar depois do período de repouso, notei que o movimento natural, automático, de andar, já não o era com relação à perna esquerda. Eu tinha que pensar e conscientemente movimentar. Se com a perna direita era natural, com a esquerda era pensado. Durou um tempo, até que percebi que eu não pensava em caminhar, eu caminhava.

 

Algo semelhante tem acontecido nesses primeiros dias de “abstinência” ao celular e redes sociais (lembrando: apenas reduzi o tempo passado em redes sociais, não estou e nem quero estar 100% offline, ao menos não agora). Existem diversas situações em que automaticamente vou pegar o celular e tenho que pensar, e recuar na intenção. 

 

Se eu fosse tabagista, eu diria que esses são os gatilhos não nicotínicos, aqueles relacionados a atividades que – mesmo inconscientemente – associa-se ao, no caso dos fumantes, fumar. No meu caso, ao ato de pegar o celular e olhá-lo, seja para conferir as redes sociais ou jogar um jogo qualquer que roubasse / prendesse minha atenção ou que me proporcionasse liberação rápida de dopamina.

 

Concluo, nesse momento, em uma reviravolta do que vinha pensando e escrevendo, que – sim – a minha alteração de sono das noites anteriores provavelmente tenha sido por síndrome de abstinência à dopamina. Eu sou (era) um abusador de redes/mídias sociais. Por mais que achasse não, parece mesmo que sou (era). 

 

O reconhecimento do problema é o primeiro passo para a cura.

 

Seguimos.

 

Até.

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