domingo, agosto 25, 2024

A Sopa

Sobre o Canadá.

Sempre gostei de citar trechos de poesias ou letras de músicas em meus textos, na maioria das vezes entre aspas e em itálico, para deixar clara a referência, mas outras em meio ao texto, de forma mais sutil, para que seja percebida talvez apenas por quem a conhece. É o meu jeito, ou estilo (como autor já publicado, meu dou ao direito de falar “meu” estilo... momento em que colocaria aqui um emoji de risada...).

 

Pois ando tão à flor da pele, mas qualquer beijo de novela não me faz chorar, aliás, nem novela assisto e, mais, nem televisão aberta ou mesmo a cabo, exceto pelos cada vez mais raros jogos de futebol. Também não choro há mais de trinta anos, exceto quando o meu pai morreu, um pouco antes ao antecipar o fim, depois quando realmente aconteceu e, por fim, na despedida, no velório, quando me emocionou a presença de meus amigos, amigos de minha mãe, do meu irmão e – muito – de amigos dele. Já contei sobre isso, foi um turbilhão de emoções que tornou tudo um momento que me senti abraçado e confortado por todos.

 

Como frequente em meus escritos, tergiverso.

 

Dizia eu que ando emocionado, saudosista, o que não é um estado infrequente para alguém que, como eu, definiu para si próprio o ofício de pensar a vida e colocar isso no papel, registrar o que penso e sinto, que é o que tenho procurado fazer por esses dias, de tentativa de escritos diários a partir de fatos cotidianos e, sim, reflexões da vida, da minha vida. Tenho andado distraído, mas não impaciente ou indeciso, mas no sentido de olhar o mundo de forma mais ampla, algumas vezes como observador de fora, como se não fizesse parte do que acontece. É um exercício de humildade, de certa forma.

 

A marca dos vinte anos de minha ida para o Canadá certamente é um dos motivos para esse sentimento de saudosismo de que falei. Lembro (obviamente) claramente das sensações daqueles primeiros dias sozinho lá, o estranhamento justamente por estar – pela primeira vez na vida – absolutamente sozinho. Cheguei em um vinte de agosto, curiosamente exatos quatro anos antes de a Marina nascer, mas só comecei efetivamente o trabalho em 08/09/2004 porque havia questões burocráticas a resolver e – quando resolvidas – estariam todos, exceto eu, claro, viajando para um congresso na Escócia. Então os primeiros vinte dias de Canadá foram para me organizar com as burocracias da minha licença médica e da Universidade, mas também com os trâmites de encontrar um lugar para morar que não fosse um basement (porão, normalmente mais barato), fosse em uma região legal e dentro do meu orçamento, e tivesse acesso fácil ao transporte público.

 

A primeira semana no Canadá foi comigo hospedado em um dormitório da University of Toronto que é alugado como hostel nas férias de verão, que terminava justamente no final dessa semana que eu havia alugado. Teria uma semana para organizar isso. Eu havia chegado em Toronto em uma sexta-feira pela manhã com a intenção de ter o final de semana para procurar lugar para morar, mas a pessoa que iria me auxiliar nessas tarefas estava fora naquele dia, então tive que esperar até a segunda-feira para começar o processo. O primeiro final de semana em Toronto foi apenas passeando, sem conseguir resolver nada.

 

A partir do começo da semana seguinte, após o final de semana “perdido” (em todos os sentidos), as coisas se resolveram, tanto com relação à Universidade, abertura de conta no banco (com cartão de crédito com um bom limite, pelo meu vínculo com a Universidade), aluguel do apartamento de um quarto (próximo ao High Park, no 21º andar de um prédio, mas sem vista para o lago ou para a CN Tower...) porque esperava visitas enquanto estivesse lá, e mudança em etapas para o apartamento. Os primeiros itens comprados para a casa foram um colchão de ar, lençóis, edredom e uma cadeira de camping, para a sala. Logo após, uma ida ao Walmart para comprar mais acessórios para a casa e ao supermercado. Em uma semana de Canadá, estava estabelecido. Tinha onde morar e uma geladeira cheia.

 

Foi quando fui para Nova York.

 

Conto mais outro dia.

 

Até.

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